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Trabalho de Eduardo Baptista é o principal legado do Mirassol campeão brasileiro da Série D

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória do Leão sobre o Floresta neste sábado (6) no Estádio José Maria de Campos Maia

Por Luiz Ferreira em 06/02/2021 19:45 - Atualizado há 10 meses

Célio Messias / CBF

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória do Leão sobre o Floresta neste sábado (6) no Estádio José Maria de Campos Maia

Eduardo Baptista era muito mais lembrado pela explosão numa coletiva de imprensa nos tempos em que era técnico do Palmeiras do que pelo seu trabalho como treinador. A falta de continuidade no trabalho nos grandes centros do futebol brasileiro o levou ao Mirassol, clube de projeto ambicioso, boa estrutura e que já vinha de ótima campanha no Paulistão 2020 (onde chegou nas semifinais da competição). Das zoações e dos “memes” na internet ao título do Brasileirão da Série D (com duas vitórias sobre o surpreendente Floresta de Leston Júnior), passaram-se poucos meses. Mas foi tempo suficiente para que todos acompanhassem o trabalho de Eduardo Baptista à frente do Leão da Alta Araraquarense. O Mirassol é intenso nas suas transições, organizado e possui um padrão de jogo bastante consistente. Com toda a certeza, é um dos principais legados da primeira conquista nacional do clube.

É preciso dizer que o Mirassol entrou em campo com o regulamento debaixo do braço. A vitória por 1 a 0 sobre o Floresta na semana passada dava certa tranqulidade ao Leão trabalhar mais a bola e aguardar o melhor momento de atacar. Só que os comandados de Eduardo Baptista aproveitaram bem a ausência do lateral-direito Lito e a opção do técnico Leston Júnior para um 3-1-4-2 no jogo deste sábado (6). Com muita velocidade pelos lados do campo (principalmente pelo esquerdo com Luiz Henrique e Fabrício voando pra cima de Ronaldo) e bom toque de bola desde a defesa, o Mirassol foi tomando conta da partida e abriu o placar logo aos 17 minutos de jogo, com João Carlos aproveitando rebote do goleiro Douglas Dias. A missão do Floresta (que já era bastante complicada) ficava ainda mais difícil de ser cumprida. Tudo por conta da organização e do futebol apresentado pela equipe de Eduardo Baptista.

Leston Júnior apostou na entrada de Ronaldo no lugar de Lito e numa espécie de 3-1-4-2 que acabou desprotegendo a defesa do Floresta e embolando o jogo no ataque. Já o Mirassol de Eduardo Baptista dominou as ações no meio-campo e mostrou muito mais organização e intensidade nas suas transições. Mais uma bela partida do Leão.

O grande trunfo de Eduardo Baptsta estava na organização e na proposta de jogo da sua equipe. Seu 4-1-4-1/4-3-3 tinha profundidade com João Carlos empurrando a zaga do Floresta para trás, amplitude com Fabrício e Netto abrindo o campo e saída de bola qualificada com Daniel recuando entre os zagueiros Danilo Boza e Heitor para fazer a tão conhecida “saída de três”. Com isso, os laterais Vinícius e Luiz Henrique se lançavam ao ataque e tinham espaço para jogar também por dentro (auxiliando Cássio Gabriel e Rafael Tavares na armação das jogadas). Com o camisa 6 do Mirassol voando pra cima de Ronaldo (que jogou improvisado na ala), não demorou muito para que a equipe do interior de São Paulo impusesse seu jogo dentro de seus domínios. E a vida do Floresta ficaria ainda mais complicada com a tola expulsão do zagueiro Eduardo no finalzinho do primeiro tempo. Consistência e bom jogo coletivo.

Fabrício e Netto abriam o campo, João Carlos empurrava a zaga do Floresta para trás e os laterais tinham espaço para jogar por dentro. O Mirassol de Eduardo Baptista era intenso nas transições, organizado na saída de bola e consistente no ataque. Ótima atuação coletiva do Leão da Alta Araraquarense. Foto: Reprodução / MyCujoo

O segundo tempo no Estádio José Maria de Campos Maia (o simpático “Maião”) apenas confirmou o panorama que já se desenhava antes da expulsão de Eduardo. O técnico Leston Júnior ainda tentou dar sangue novo ao Floresta com as entradas de Núbio Flávio e Renê (e desfazendo seu 3-1-4-2 para apostar num 4-4-1 mais fechado), mas sem muito sucesso. O grande nome da equipe cearense acabaria sendo o goleiro Douglas Dias, que salvou o Lobo da Vila Manoel Sátiro de uma derrota ainda maior. Eduardo Baptista manteve a formação do primeiro tempo, trocou algumas peças nos minutos finais e viu o Mirassol administrar o resultado até o final do jogo sem muitos sustos. O primeiro título nacional do clube de 95 anos de existência veio acompanhado de uma campanha irretocável na Série D e com muita força nos jogos disputados dentro de casa. Foram onze vitórias e um empate. Baita retrospecto do Leão.

O trabalho sério e qualificado de Eduardo Baptista é o principal legado de um Mirassol organizado e que sonha com voos muito mais altos. Primeiro pela confiança na comissão técnica e pelo plano ambicioso. E também por dar condições que estes e outros profissionais possam exercer sua profissão sem problemas. Há quem diga que “é muito mais fácil trabalhar na Série D do que na elite”, o que não deixa de ser uma verdade. Mas o grande mérito de Eduardo Baptista foi pensar diferente dos demais, aceitar um projeto consistente e trabalhar com humildade para recuperar uma carreira que muitos já davam como terminada para o futebol. O técnico que virou “meme” nos tempos de Palmeiras começa a dar a volta por cima mostrando seu talento num clube mais estruturado do que alguns mais tradicionais e que sofrem para se manter vivos no cenário nacional. Acho que não preciso citar nomes…

A tendência é vermos o Mirassol aparecendo no noticiário esportivo com mais frequência nos próximos meses. Não somente pelo título da Série D e o acesso para a Série C, mas por ter dado a chance que um treinador tanto desejava para mostrar seu valor e por provar que é possível sim confiar no seu trabalho a longo prazo. Eduardo Baptista dá a volta por cima e coloca o Mirassol no seleto grupo dos campeões nacionais.

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