Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a aplicação tática do time de Thomas Tuchel e o excesso de pragmatismo de Simeone
Este que escreve (e mais uma porção de gente) esperava muito mais desse jogo entre Chelsea e Atlético de Madrid. Primeiro por se tratar de um duelo válido pela Liga dos Campeões da UEFA. E depois, pela capacidade dos treinadores Diego Simeone e Thomas Tuchel. Só que o que foi visto na Arena Nacional de Bucareste (na Romênia) foi uma partida marcada pelo marasmo e pelo excesso de pragmatismo do treinador dos colchoneros. Acabou que a grande atração do duelo desta terça-feira (23) foi o belíssimo gol de bicleta marcado por Olivier Giroud aos 23 minutos do segundo tempo. E nada muito além disso. Destaque também para o “ônibus estacionado” por Simeone na frente da área defendida por Oblak e para a pouquíssima inspiração ofensiva das duas equipes num confronto que prometia muito mais do que foi visto. Melhor para os comandados de Thomas Tuchel, que levam boa vantagem para Londres.
Assim que a escalação do Atlético de Madrid foi divulgada, muita gente pensou que Diego Simeone fosse armar sua equipe no seu 4-4-2 costumeiro com muita marcação e saída rápida para o contra-ataque. O que se viu, no entanto, foi um excesso de pragmatismo que surpreendeu muita gente que via o jogo. O treinador argentino “estacionou um ônibus” na frente da área com o recuo de Thomas Lemar e Ángel Correa pelos lados do campo. Tudo para negar ainda mais espaços para o 3-4-3/3-4-2-1 de Thomas Tuchel que trazia Jorginho, Mason Mount e Kovacic pensando o jogo, Hudson-Odoi e Marcos Alonso como alas e Timo Werner se juntando a Giroud no ataque a partir do lado esquerdo. O Chelsea tinha o controle do jogo (terminou a partida com 64% de posse de bola), mas não conseguia colocar intensidade suficiente para furar o eficiente bloqueio colchonero na primeira etapa da partida em Bucareste.
Diego Simeone recuou Lemar e Correa para a linha defensiva e organizou seu Atlético de Madrid numa espécie de 6-3-1 com Luís Suárez brigando contra o trio de zagueiros do Chelsea. O escrete de Thomas Tuchel tinha posse da bola e o controle das ações, mas esbarrava no “ônibus estacionado” na frente da área.
É compreensível que Simeone tenha preferência por um estilo mais pragmático e tome mais cuidados defensivos. Não é uma estratégia melhor nem pior do que outras. É apenas uma das muitas maneiras de se construir as vitórias que sua equipe tanto precisa. O grande problema é que a bola quase não parava no ataque. Por mais que Suárez ainda seja um dos melhores atacantes do mundo (sem exageros) e que o Atlético de Madrid leve muito perigo quando seu camisa 9 é acionado no campo ofensivo, a grande verdade é que nem mesmo isso conseguiu resolver os problemas do escrete colchonero. Na verdade, acabou criando outro ainda mais grave. Assim que Giroud balançou as redes de Oblak com uma belíssima bicicleta, o escrete de Simeone se desmanchou completamente e precisou propor o jogo. E as dificuldades do Atlético de Madrid nesse quesito foram escancaradas. Melhor para o Chelsea.
O Atlético de Madrid só saiu para o jogo depois que o Chelsea abriu o placar com Giroud aos 23 minutos do segundo tempo. Antes disso, o escrete colchenero não fez muita coisa além de se defender e fechar espaços na frente da sua área no 6-3-1 de Diego Simeone. Foto: Reprodução / Facebook / UEFA Champions League
Diego Simeone não teve outra alternativa. O treinador argentino teve que abrir mão do seu esquema cauteloso ao extremo e reorganizar o seu Atlético de Madrid num 4-4-2 com as entradas de Renan Lodi, Vitolo, Torreira e Moussa Dembélé. O grande problema é que Thomas Tuchel recuou as linhas do Chelsea e colocou os Blues para jogar no contra-ataque já que havia conquistado uma ótima vantagem no placar. E isso sem mencionar que o técnico alemão já estava ciente das dificuldades que seu adversário tinha para propor o jogo. Com seu 3-4-3/3-4-2-1 mantido e com Kanté, Ziyech, Recce James, Pulisic e Havertz em campo, o escrete londrino apenas recuou, congestionou o meio-campo e esperou o apito final sem sofrer muitos sustos. Vitória importante, porém sem muitas emoções onde a bicicleta de Olivier Giroud foi a grande atração. Muito pouco para uma partida eliminatória de Champions League.
Com a vantagem no placar, Thomas Tuchel descansou seus principais jogadores, manteve a formação inicial e apenas esperou o apito final confirmar a vitória do Chelsea. Do outro lado, Simeone desfez seu esquema excessivamente pragmático e tentou colocar o Atlético de Madrid no ataque sem muito sucesso.
Enquanto os jogadores do Chelsea ainda busca se entrosar melhor com as ideias e conceitos de Thomas Tuchel, o Atlético de Madrid de Diego Simeone (por incrível que pareça) segue com números preocupantes… Na defesa! São oito jogos seguidos levando pelo menos um gol somando todas as competições disputadas pelos colchoneros, ponto que explica (em parte) a decisão do treinador argentino pela formação pragmática ao extremo. Não é difícil concluir que o grande problema o escrete espanhol nem é a defesa. Falta mais intensidade nas transições para o ataque e mais consistência na hora de construir as jogadas. Não é raro João Félix e Luís Suárez completamente sobrecarregados no campo ofensivo e tendo que se virar contra as defesas adversárias. Vale lembrar também que a “gordura” conquistada na liderança do Campeonato Espanhol está diminuindo. A queda no rendimento da equipe é visível.
Melhor para o Chelsea de Thomas Tuchel que, apesar de ainda buscar o melhor entendimento e a formação ideal para encarar os jogos de Premier League e Liga dos Campeões, conquistou uma ótima vitória contra um adversário difícil de ser superado. Mesmo assim, a impressão que ficou do jogo desta terça-feira (23) foi a de que tanto os Blues como os colchoneros ainda precisam melhorar muito se quiserem ir mais longe.
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