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Velocidade, explosão e gols: entenda por que Ludmila da Silva é jogadora para (pelo menos) mais duas Copas do Mundo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a evolução da atacante do Atlético de Madrid e da Seleção Brasileira

Por Luiz Ferreira em 02/01/2021 00:57 - Atualizado há 4 anos

Reprodução / Facebook / Atlético de Madrid Femenino

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a evolução da atacante do Atlético de Madrid e da Seleção Brasileira

Quem acompanha a coluna PAPO TÁTICO já deve ter percebido que este que escreve é um dos entusiastas do futebol feminino. E assim como acontece no velho e rude esporte bretão jogado por homens, existem certas jogadoras que nutrem da minha simpatia e admiração pela qualidade apresentada com a bola nos pés. Uma delas é a atacante do Atlético de Madrid e da Seleção Brasileira, Ludmila da Silva. De origem humilde e vinda do atletismo, a atleta nascida no dia 30 de novembro de 1994 teve uma trajetória meteórica na modalidade até conquistar seu espaço em equipes como o São José campeão da Copa Libertadores da América Feminina em 2014 e no já mencionado escrete colchonero. Ludmila é o tipo de atacante que consegue aliar velocidade e explosão no terço final do campo como poucas da sua geração. Não é por acaso que ela vem sendo convocada para a Seleção Brasileira desde 2017.

Antes de mais nada, é preciso deixar claro que Ludmila deixou de ser promessa há muito tempo. Quem vê suas atuações no Atlético de Madrid já deve ter percebido que a atacante é peça fundamental no esquema do técnico Daniel González Sanz. Não é o tipo de atacante que joga como referência. Por conta do biotipo (tem 1,60m e pesa 60kg) e da velocidade, precisa de espaço para arrancar em direção ao gol. Não é por acaso que Ludmila vem sendo utilizada ao lado de Deyna Castellanos no ataque da equipe espanhola. A venezuelana é o arco e a brasileira é a flecha. Junte isso à boa dinâmica que Daniel González Sanz coloca no seu 4-4-2 com jogadoras leves (destaque para a espanhola Amanda Sampedro e para a alemã Turid Knaak), linhas compactadas e marcação no campo ofensivo. Geralmente, é Ludmila quem parte para dar o primeiro combate na saída de bola adversária.

O 4-4-2 de Daniel González Sanz utiliza jogadoras leves, mobilidade e marcação alta para pressionar a saída de bola adversária. E nessa estratégia, é Ludmila quem dá o primeiro combate aproveitando a sua explosão e velocidade no terço final. Foto: Reprodução / YouTube / Atlético de Madrid Femenino

É bom que se diga que, embora alguns ainda tendam a considerar Ludmila da Silva uma atacante afobada e sem tantos recursos, é preciso dizer que sua evolução técnica e tática é significativa. A camisa 8 do Atlético de Madrid fez 17 partidas na temporada 2020/21 e marcou onze gols. E isso inclui participações da jogadora na Liga dos Campeões Feminina, na Primera Iberdrola (a Primeira Divisão do futebol feminino na Espanha) e na Seleção Brasileira. Não foi somente a sua intimidade com o gol que aumentou. Seu senso coletivo e de posicionamento também cresceu na mesma medida. A ponto de se transformar na válvula de escape do Atlético de Madrid e de “assumir a bronca” em jogos complicados, como na vitória sobre o Servette (clube da Suíça) na UEFA Champions League. Foram dois gols e uma assistência na vitória das colchoneras por 4 a 2 em partida disputada em Genebra.

Ludmila colocou sua velocidade a serviço do time e teve participação direta em vitórias importantes do Atlético de Madrid. Os 4 a 2 sobre o Servette na Suíça contaram com uma grande atuação da camisa 8 no comando de ataque. Velocidade e inteligência para abrir espaços. Foto: Reprodução / YouTube / Atlético de Madrid Femenino

O tempo na Europa também serviu para que Ludmila aprimorasse outros pontos importantes. A finalização a gol, o posicionamento na área e a leitura de espaços nas defesas adversárias são alguns deles. E o mais interessante é que ela não é uma jogadora individualista. Muito pelo contrário. A convivência com alguns conceitos modernos de organização de jogo e as orientações do técnico Daniel González Sanz ajudaram bastante num processo de amadurecimento de uma jogadora que vem mostrando seu potencial a cada partida. Não apenas arrancando em direção ao gol adversário, mas também se posicionando dentro da área para atacar o espaço e dar o último toque. Seus 11 gols nesse início de temporada europeia não são frutos apenas de uma possível boa fase (que esperamos que dure bastante). A sua evolução técnica e seu entendimento do campo aumentaram consideravelmente.

As quase quatro temporadas na Europa ajudaram no desenvolvimento técnico e tático de Ludmila. Ela não é apenas a atacante que arranca em velocidade em direção ao gol. É a jogadora que lê espaços e que sabe se posicionar dentro da área. Foto: Reprodução / YouTube / Atlético de Madrid Femenino

A velocidade e a força física de Ludmila da Silva permitiram que o técnico Daniel González Sanz abrisse mão do seu costumeiro 4-4-2 e utilizasse um 4-3-3 em determinadas partidas desta temporada. E nessa formação, a camisa 8 acabou sendo utilizada como uma “ponta” ou uma “winger” pelo lado esquerdo. Seja indo até a linha de fundo e servindo as companheiras de equipe ou cortando para dentro, buscando a tabela com as atacantes e abrindo o corredor para as subidas as laterais, a camisa 8 do Atlético de Madrid manteve o nível das atuações e sempre correspondeu às expectativas. Não foi por acaso que Ludmila recebeu o prêmio de melhor jogadora do mês de novembro de 2020 e vem sendo uma das atletas mais festejadas do elenco colchonero. E também não é difícil concluir que ela ainda pode crescer ainda mais nos próximos anos. É o que todos esperam.

Ludmila também foi utilizada pelos lados do campo num 4-3-3 pelo técnico Daniel González Sanz. A camisa 8 do Atlético de Madrid manteve o nível das atuações e foi perigo constante para as adversárias partindo da esquerda para dentro ou indo até a linha de fundo. Foto: Reprodução / YouTube / Atlético de Madrid Femenino

É bem verdade que Ludmila ainda está devendo uma grande atuação com a camisa da Seleção Brasileira. Mesmo assim, foi bom ver Pia Sundhage (mesmo com todas as críticas que este que escreve já fez aqui mesmo neste espaço) escalar a atacante do Atlético de Madrid ao lado de Debinha numa dupla de ataque móvel e insinuante. A treinadora sueca parece ter compreendido que Ludmila se sente mais confortável partindo em direção ao gol. Não como atacante de referência, mas com espaço para atacar e se movimentar. Ainda que ela peque pela afobação e pelo desejo de ter boas atuações com a camisa amarelinha, ela é o tipo de jogadora (pela experiência internacional e pela evolução clara dos últimos anos) que não pode ficar fora das principais competições de 2021. Ainda mais com os Jogos Olímpicos de Tóquio pintando como a principal competição da Seleção Feminina em 2021.

Ludmila da Silva ainda tem espaço para crescer demais no cenário internacional. Principalmente se continuar mantendo o bom nível das suas atuações e o foco dentro de campo. Exatamente como fez e faz nesse início excelente de temporada no Atlético de Madrid. Não é exagero afirmar que ela é jogadora que tem mais duas Copas do Mundo pela frente em altíssimo nível. E isso falando por baixo.

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