Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o fim da invencibilidade do escrete comandado por Diego Simeone
O Atlético de Madrid vinha de uma série de 26 partidas sem derrotas no Campeonato Espanhol e era apontado como o favorito no confronto contra o Real Madrid. Só que quem viu o Derby deste sábado (12) viu que os comandados de Diego Simeone apresentaram um futebol bem abaixo do esperado. Mais do que isso: os colchoneros foram completamente engolidos pelo Real Madrid de Zinedine Zidane. Aliás, este que escreve ainda se surpreende demais com a capacidade que o escrete merengue tem de crescer em jogos grandes, seja na Liga dos Campeões da UEFA ou contra adversários diretos na briga pelo título de La Liga. Muito volume de jogo, saída de bola qualificada e muita intensidade nas transições com os excelentes Lucas Vázquez e Carvajal fazendo ótima dupla pelo lado direito e com Modric e Kroos dando o tom nas jogadas de ataque. Vitória incontestável de um grande time de futebol.
FT | Real Madrid win!
The hosts successfully held on to their lead, even extending it after Carvajal's shot came off the post and Oblak into the net, while Atleti had a few chances but just couldn't get past Courtois.
Los Blancos climb to 3rd place!#RealMadridAtleti pic.twitter.com/WqbjGy2t4b
— Sofascore (@SofascoreINT) December 12, 2020
É interessante notar que Zidane começou a vencer o duelo tático contra Simeone assim que a bola rolou no Alfredo Di Stéfano. Tudo por conta do 5-3-2 escolhido pelo treinador dos colchoneros para encarar o tradicional e costumeiro 4-3-3 do comandante do escrete merengue. O Real Madrid fechava muito bem as saídas do Atlético com Vinícius Júnior e Lucas Vázquez (o melhor em campo na humilde opinião deste que escreve) pelos lados, Benzema prendendo pelo menos dois dos três zagueiros adversários e com os sempre qualificados Modric e Kroos distribuindo muito bem o jogo no meio-campo. Llorente, Koke e Herrera não conseguiam sair para o jogo e nem acionar Trippier e Carrasco (os alas do escrete colchonero) às costas de Mendy e Carvajal. A superioridade merengue se faria presente no placar com o gol de Casemiro (em escanteio cobrado por Toni Kroos) aos 14 minutos do primeiro tempo.
Zinedine Zidane fechou as principais saídas do Atlético de Madrid a partir do seu 4-3-3 costumeiro com muita força pelo lado direito com Lucas Vázquez e Carvajal. Já Simeone via sua equipe ser completamente dominada no primeiro tempo. E isso sem conseguir dar um mísero chute na direção do gol de Courtois.
Os números do SofaScore mostram bem essa superioridade clara e evidente do Real Madrid no Derby da capital espanhola. Não somente pela posse de bola (56% contra 64% do Atlético de Madrid) ou pelas finalizações a gol (onze contra cinco), mas pelas trocas de passe durante os noventa minutos. Os merengues trocaram 661 passes (com 90% de acerto) contra 504 dos colchoneros (86% de acerto). Saindo da frieza dos números, entra também a questão anímica. A impressão que ficou do jogo no Alfredo Di Stéfano foi a de que o Atlético simplesmente foi se apagando aos poucos. Do outro lado, os comandados de Zidane parecem gostar dos jogos decisivos e se comportar muito bem em situações de grande pressão. E vale lembrar que o treinador francês estava com a corda no pescoço não faz muito tempo. Foram três vitórias seguidas após a derrota para o Shakhtar Donetsky pela Liga dos Campeões.
✅ 2018/19 ⚽
✅ 2020/21 ⚽Pela segunda vez, @Casemiro marca em um Dérbi de Madri! 🇧🇷✨#RealMadridAtleti#LaLigaSantander pic.twitter.com/f70lW3BkQW
— LALIGA (@LaLigaBRA) December 12, 2020
Diego Simeone fez mudanças em atacado no Atlético de Madrid após o intervalo. As entradas de Ángel Correa, Lemar e Renan Lodi nos lugares de Carrasco, Herrera e Felipe reorganizaram os colchoneros num 4-4-2 mais nítido, mas ainda sem a intensidade necessária para vencer um adversário muito mais consistente. Este que escreve ainda custa a entender o que levou o treinador argentino a sacar Suárez e João Félix para as entradas dos volantes Saúl Ñíguez e Kondogbia num momento em que o Real Madrid mandava e desmandava no jogo. E também levava certa dose de sorte com o chute de Carvajal que explodiu na trave, bateu nas costas de Oblak e morreu nas redes aos 17 minutos do segundo tempo. Zidane aproveitou a vantagem no placar para descansar o camisa 2, Modric e Vinícius Júnior e dar minutos para Valverde, Asensio e Rodrygo. Resultado mais do que justo no Alfredo Di Stéfano.
Diego Simeone desfez seu 5-3-2 logo após o intervalo e apostou no seu usual 4-4-2 com Ángel Correa, Lemar e Renan Lodi, mas desarrumou ainda mais a sua equipe com as entradas de Saúl Ñíguez e Kondogbia. Zidane manteve a postura e a formação do Real, aumentou o placar e manteve o controle do jogo sem abrir mão do ataque.
Se Zinedine Zidane via o Real Madrid controlar o Derby de maneira impressionante e sem deixar de incomodar a defesa adversária, Diego Simeone (que até tentou buscar variações táticas nos últimos jogos) viu os colchoneros sucumbirem mentalmente diante do volume de jogo do rival deste sábado (12). Não foi apenas uma partida ruim do Atlético de Madrid. O que eu e você vimos no Alfredo Di Stéfano foi uma grande atuação coletiva de um escrete que gosta de jogos grandes e que se comporta bem demais em situações de grande pressão. Zidane manteve a calma, seguiu acreditando no seu trabalho e ganhou fôlego para a sequência da temporada. Tudo por conta das três últimas partidas. Vitórias contra Atlético de Madrid e Sevilla pelo Campeonato Espanhol e contra o Borussia Mönchengladbach pela Liga dos Campeões. Todas com atuações sólidas e consistentes ainda que alguns ajustes sejam necessários.
Por fim, vale ainda destacar essa pequena peripécia dos deuses do velho e rude esporte bretão. Como já havíamos colocado anteriormente, o Real Madrid encerrou uma série de 26 jogos de invencibilidade do Atlético no Campeonato Espanhol. Quando havia acontecido o último revés dos colchoneros em La Liga? Em fevereiro da temporada passada. Para o mesmo escrete comandado por Zinedine Zidane.
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