Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a convocação da treinadora sueca para novo período de treinamentos e observações
Nesta segunda-feira (14), Pia Sundhage anunciou as 23 jogadoras convocadas para mais uma etapa de observações do dia 5 ao dia 20 de janeiro em Viamão (no Rio Grande do Sul) visando a preparação da Seleção Feminina para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Dentre as atletas escolhidas, temos o retorno de Marta (que não jogou as partidas contra o Equador por ter testado positivo para a COVID-19) e da atacante Bia Zaneratto, além das estreias das goleiras Viviane (do Palmeiras), Nicole Ramos (do Santos) e das meio-campistas Ingryd (do Corinthians) e Kerolin, sendo que esta última está há dois anos sem jogar por ter sido suspensa por doping no final de 2018. Este que escreve foi um dos que mais defendeu e tentou entender o contexto de cada uma das escolhas da treinadora sueca nos últimos meses, mas essa última lista simplesmente acabou com qualquer argumento favorável à comandante da Seleção Feminina.
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Não que Pia Sundhage seja uma treinadora ruim. Muito pelo contrário. É verdade que os treinamentos melhoraram demais, a equipe ficou muito mais organizada e com uma proposta de jogo clara dentro de campo. Não é um time pronto como são as seleções mais fortes do mundo e os amistosos contra a França e a Holanda estão aí para provar essa tese. Mesmo assim, o trabalho era bom e já rendia alguns frutos. O mais claro para este que escreve está no fim da dependência de Marta e Cristiane. Por mais que a equipe brasileira tenha enfrentado adversários mais frágeis, a verdade é que foi bom vermos Debinha jogando ao lado de Ludmila numa dupla de ataque móvel e ver Luana se adaptando muito bem às suas funções no meio-campo ao lado da interminável e cada vez mais impressionante Formiga. Apesar de não estar complemente pronta, o desempenho dentro de campo ajudava e criava uma aura de confiança em torno de Pia Sundhage.
Debinha e Ludmila formaram dupla de ataque móvel e envolvente no 4-4-2 da Seleção Feminina que goleou o Equador por oito a zero dia 1º de dezembro. Bruna Benites entrou na lateral, Luana e Formiga fizeram ótima dupla no meio-campo e até mesmo Andressa Alves teve atuação razoável contra as frágeis adversárias.
Por mais que algumas das escolhas da treinadora sueca sejam bastante questionáveis, a verdade é que a Seleção Feminina voltou a apresentar um bom futebol nos últimos meses. Dá pra ver a organização dentro de campo e a coordenação nos movimentos ofensivos e defensivos da equipe. Este que escreve já falou mais de uma vez como isso é importante para uma equipe que quer voltar a ser protagonista no cenário mundial e não apenas no continente sul-americano. Ainda mais com toda a evolução das ligas na Colômbia e na Argentina. No entanto, por mais que os resultados contra as equatorianas e mexicanas tenha sido elástico, não é preciso ser nenhum grande estudioso do futebol feminino para concluir que a Seleção Feminina precisa enfrentar oponentes mais fortes e mais consistentes nessa preparação para Tóquio. Até mesmo para comprovar a eficácia das escolhas de Pia Sundhage.
A @DudaLuizelli afirmou que a seleção disputará a She Believes Cup (nos EUA) e fará amistosos c/ times da Europa e Japão. Questionamos @PiaSundhage sobre a preparação para 2021. "Esperamos ter excelente jogos c/ bons adversários, sem esquecer do Japão que jogará em casa em 2021" pic.twitter.com/DzP7f5dN7n
— Dibradoras (@dibradoras) December 14, 2020
Há como ter boa vontade e tentar compreender a presença de Camilinha ou Bruna Benites na lista de convocadas. O que é MUITO difícil de entender (e defender) é a convocação de Kerolin. Sem querer entrar nas razões da defesa da jogadora ou questionar seu potencial (que é muito grande), a grande verdade é que ela não pode estar na lista. Não agora, quando sua suspensão de dois anos por doping está no fim. Nem mesmo num período de observações e treinamentos. Ainda mais com o final do Brasileirão Feminino de maior nível técnico dos últimos anos e tantas jogadoras talentosas pedindo passagem. É possível citar pelo menos dez atletas que poderiam receber uma chance na Seleção Feminina nesse período em Viamão. Nomes que poderiam dar ainda mais opções para Pia Sundhage variar o esquema tático da sua equipe com poucas mexidas e até mesmo exercer mais de uma função tática dentro de campo.
🏆BRASILEIRÃO AWARDS 2020🥇
INDICADAS ATACANTE DO CAMPEONATO#BrasileirãoAwards2020#FutebolFeminino #BrasileirãoFeminino#BrAwards pic.twitter.com/o7luseJ1tO
— De Primeira – Futebol Feminino (de 🏠) (@FFDePrimeira) December 12, 2020
Este colunista sempre ouviu que só as melhores chegam na Seleção Feminina. E a presença de Kerolin, além de colocar uma pressão enorme sobre os ombros da jogadora, vai totalmente de encontro a esse pensamento. É compreensível o desejo de recuperar uma jogadora de enorme potencial que não joga há dois anos. Mas não nesse momento, não na Seleção Feminina e não às vésperas da disputa de mais uma edição de Jogos Olímpicos. Expõe a atleta de maneira completamente desnecessária, expõe toda a comissão técnica e provoca uma série de questionamentos sobre essa e outras escolhas de Pia Sundhage. Com todo o respeito aos profissionais envolvidos, mas a presença de Kerolin na lista de convocadas para a Seleção Feminina não tem explicação. Agora, a jovem jogadora terá que correr e jogar muito para provar que seu bom futebol não é apenas fruto de palavras que chegaram aos ouvidos da treinadora sueca.
Questionamos @PiaSundhage sobre a convocação de @kerolin_nicoli e ela respondeu: "Ouvi muito falar sobre ela, essa é uma chance para observá-la". De acordo com o instagram da @obsplayersagent (que agencia a atleta), Kerolin jogará a LIGA ESPANHOLA em 2021: https://t.co/dH1ExM6qFr pic.twitter.com/LMsQqduawJ
— Dibradoras (@dibradoras) December 14, 2020
Por mais que este espaço tenha defendido e tentado entender cada uma das suas decisões, a sensação é de que a treinadora sueca parece estar fora da realidade e ignorar por completo o alto nível técnico da última edição do Brasileirão Feminino. A impressão que fica é a de que Pia Sundhage terceiriza as suas escolhas para a Seleção Brasileira. É preciso lembrar que não haverá roda de violão ou “feijoada” que a salve no caso de um fracasso nos Jogos Olímpicos. Ainda mais com tantos críticos prontos para atirar ao menor sinal de insucesso da treinadora sueca nos próximos meses. Eu e você conhecemos bem a estrutura da CBF e como há muita gente que se beneficia das coisas do jeito que elas estão. Se você leu neste mesmo espaço que era preciso ter cuidado para não cair nas armadilhas do imediatismo, é preciso ter ainda mais cautela com as arapucas criadas pelas fachadas disfarçadas de carisma.
Pia Sundhage precisa sim ser questionada por suas escolhas à frente da Seleção Feminina. Ainda mais com essa série de incoerências e insistências em jogadoras que são muito mais convocadas pelo nome do que pelo desempenho. E a convocação de Kerolin (que tem enorme potencial e talento, mas que não joga há dois anos) só evidencia os fatos colocados anteriormente. Pia pode acabar se transformando em alvo fácil por conta dessas escolhas mais do que questionáveis no comando da equipe.
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