Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o empate sem gols entre United e City realizado neste sábado (12)
Não há outra maneira de se iniciar essa humilde análise tática do Derby de Manchester, meus amigos. United e City protagonizaram um dos clássicos mais decepcionantes e sem graça dos últimos anos. É bem verdade que todo o contexto imposto pela pandemia de COVID-19 (que inclui jogos sem torcida, temporada atropelada, departamentos médicos lotados e rígidos protocolos de prevenção) prejudicou sim o desempenho dos jogadores em Old Trafford. O grande problema, no entanto, é que nem isso exime Ole Gunnar Solkjaer e Pep Guardiola das críticas pelo excesso de cuidados defensivos, pela falta de criatividade e pelos erros constantes nas tomadas de decisões das suas equipes. Não é por acaso que Manchester United e Manchester City segue de fora da zona de classificação para a próxima Liga dos Campeões da UEFA. Foi um clássico pobre de ideias e pobre de bom futebol.
FT | It ends in a stalemate!
Unfortunately, the 2nd half was even less eventful than the 1st, and although the visitors looked a better team neither side came close to scoring – there were only 3 shots on target in the entire match.
United are now 7th, City are 8th!#MUNMCI pic.twitter.com/lziZlmRVsA
— Sofascore (@SofascoreINT) December 12, 2020
Os números do SofaScore (ver no tweet acima no clicando aqui) mostram que Manchester United e Manchester City fizeram uma partida bem abaixo das expectativas dos seus torcedores. Expectativa essa que era alta por conta da presença de Kevin de Bruyne e de Bruno Fernandes, os dois grandes cérebros das duas equipes. Só que os dois pouco produziram dentro dos esquemas táticos dos seus treinadores. Enquanto Pep Guardiola mantinha seu 4-2-3-1 já costumeiro com Sterling e Mahrez entrando em diagonal, Solskjaer apostava numa espécie de 4-3-3/4-3-1-2 com o português da camisa 18 se jogando como um “enganche” e tentando ocupar o espaço entre as linhas dos Citzens. A estratégia do treinador norueguês fez com que sua equipe conseguisse anular as descidas do City, mas também pouco ameaçava a meta defendida por Ederson. O resultado? Ninguém saía do lugar e o jogo ficava chato.
Guardiola apostou no seu já costumeiro 4-2-3-1 com Sterling, De Bruyne e Mahrez tentando abrir espaços para as descidas de Gabriel Jesus. Já Solskjaer posicionou Bruno Fernandes como uma espécie de “enganche” no seu 4-3-3/4-3-1-2. Muita marcação e pouca criatividade por parte das duas equipes em Old Trafford.
A melhor chance de toda a partida aconteceu no primeiro tempo, quando Gabriel Jesus puxou contra-ataque pela esquerda (às costas do bom lateral Wan-Bissaka) e passou para De Bruyne. O belga apenas deu um leve toque na bola e deixou Mahrez sozinho dentro da área. O argelino, no entanto, demorou para chutar a gol e permitiu que o goleiro dos Red Devils fechasse o ângulo e fizesse boa defesa. Fora isso, os únicos momentos de emoção aconteceram quando o United teve uma penalidade anulada por conta de impedimento de Rashford e quando Gabriel Jesus deixou De Bruyne em plenas condições de abrir o placar, mas o zagueiro Maguire travou o chute do camisa 17 no último momento. O excesso de cuidados defensivos e a lentidão das equipes comandas por Solskjaer e Guardiola não só tirou a criatividade dos jogadores de City e United como deixou a partida sem lances mais claros de gol.
FULL-TIME Man Utd 0-0 Man City
The spoils are shared at Old Trafford in the Manchester Derby 🔴🤝🔵#MUNMCI pic.twitter.com/cccs2KZExW
— Premier League (@premierleague) December 12, 2020
Nem mesmo as mexidas dos dois treinadores foi capaz de mudar alguma coisa num jogo quase sem emoção alguma. Guardiola não mexeu no seu esquema tático básico (o 4-2-3-1) com a entrada de Ferrán Torres no lugar de Mahrez (que sumiu do jogo depois de perder chance clara no primeiro tempo), mas viu o City abusar da lentidão e facilitar muito a vida da defesa do United. Já Solskjaer fez mudanças mais visíveis na formação inicial da sua equipe com Martial no lugar do jovem Greenwood. Os Red Devils mantiveram o 4-3-1-2 inicial, mas passaram a se defender com uma linha de quatro atletas na frente da defesa. Pogba e Rashford vigiavam as subidas de Walker e João Cancelo e se juntavam à dupla de ataque nas poucas vezes em que a equipe vermelha avançava para o ataque. Mesmo assim, o que se viu foi muito pragmatismo, muita marcação e poucas ideias em Old Trafford.
Pogba e Rashford acompanhavam Walker e João Cancelo pelos lados do campo na mudança para um 4-4-2 mais nítido quando o City atacava. Pep Guardiola, por sua vez, manteve o 4-2-3-1 com a entrada de Ferrán Torres no lugar de Mahrez, mas viu sua equipe pecar demais pela lentidão e pela hesitação nos lances decisivos.
Difícil não observar no apagado Derby de Manchester a tônica dos jogos envolvendo equipes na parte de cima da tabela da Premier League: muita preocupação com a defesa, jogo mais reativo e pouca (ou nenhuma) criatividade no meio-campo. Não é por acaso que o Tottenham de José Mourinho (um dos treinadores que melhor sabe montar times e que mais sabe potencializar atacantes dentro dessa filosofia de jogo) vem se destacando nas últimas rodadas do “Inglesão”. Este que escreve já mencionou mais de uma vez o contexto imposto pela pandemia de COVID-19 como um dos principais obstáculos enfrentados pelas principais equipes do mundo nessa temporada atípica e mais do que especial. Por outro lado, times como Manchester United e Manchester City podem e devem jogar mais e melhor. Não somente pelo elenco à disposição de Solksjaer e Guardiola, mas pela posição dos dois clubes na tabela.
Essa tendência de jogos mais amarrados e pragmáticos vem se tornando cada vez mais comum na Premier League. A qualidade do futebol apresentado pelas equipes inglesas caiu muito por conta dos fatores já levantados aqui, mas segue como uma grande preocupação. Enquanto Manchester United e Manchester City tropeçam, times como Leicester, Southampton e West Ham vão conquistando pontos. É bom abrir o olho.
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