Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação dos comandados de Rogério Ceni contra o Racing nesta terça-feira (1)
Quem vê o título desta análise pode até pensar que este que escreve está menosprezando o Racing e o São Paulo, clubes que eliminaram o Flamengo da Libertadores e da Copa do Brasil respectivamente. Longe disso. O que se quer provar aqui é como uma sequência de erros iniciada resultou na saída do Mais Querido do Brasil de duas das competições mais importantes dessa temporada. E para que todos nós possamos entender bem isso, é preciso analisar o contexto todo antes de se criticar este ou aquele jogador (como acontece nas redes sociais). O Fla fez sim boa partida contra o Racing nesta terça-feira (1) no Maracanã, mas voltou a tropeçar nos velhos erros individuais, nos gols perdidos e na já amplamente mencionada e comentada falta de concentração. Some isso às escolhas (no mínimo) questionáveis de Rogério Ceni e teremos o cenário perfeito para derrotas e eliminações.
Antes de mais nada, é preciso dizer que o Flamengo já iniciou a partida classificado por conta do gol marcado em Avellaneda na semana passada e que, mesmo assim, o time comandado por Rogério Ceni tomou conta do jogo. O treinador rubro-negro repetiu seu 4-4-2/4-2-4 com Bruno Henrique, Vitinho e Arrascaeta se mexendo bastante no lado esquerdo e com Éverton Ribeiro fazendo a conhecida dupla com Isla pela direita. Do outro lado, o Racing se defendia no já conhecido 3-4-2-1/5-4-1 de Sebastián Beccacece, mas sem conseguir levar perigo ao gol de Diego Alves. Muito por conta da grande partida de Willian Arão e da atuação (até aquele momento) segura da última linha do Flamengo. O que se via no Maracanã eram chances e mais chances de gols desperdiçadas por Bruno Henrique (com uma furada bisonha no início da partida) e com Vitinho frente a frente com o bom goleiro Arias.
O Flamengo começou bem a partida no Maracanã aproveitando bem os espaços deixados pelo 5-4-1 de Sebastián Beccacece. Arrascaeta, Bruno Henrique e Vitinho se movimentavam bastante e Éverton Ribeiro armava as jogadas de ataque a partir das subidas de Isla pelo lado direito. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL Libertadores
É preciso dizer também que o Racing marcava MAL DEMAIS na frente da sua área. Os espaços eram inúmeros e os jogadores do Flamengo tinham liberdade para criar as jogadas de ataque. Mas o ponto que mais preocupa este que escreve no time de Rogério Ceni apareceu mais uma vez: a falta de concentração. É impressionante como a equipe rubro-negra cai absurdamente de rendimento ao menor sinal de adversidade. Rodrigo Caio (completamente sem ritmo e tempo de bola) foi justamente expulso depois de duas pancadas nos jogadores do Racing. Gustavo Henrique falhou (mais uma vez) no gol de Sigali. E o ataque seguia falhando demais nas tomadas de decisões e nas conclusões a gol. Mesmo com um jogador a menos, o Flamengo encontrava espaços generosos na defesa de “La Academia” que, por sua vez, concedia muito na frente da sua área. Não é por acaso que o goleiro Arias foi o melhor em campo.
Isla virou ponta-direita e Filipe Luís virou armador depois que Rodrigo Caio foi expulso e o Racing abriu o placar com gol de Sigali. O Flamengo de Rogério Ceni voltava a tropeçar nas próprias pernas diante de um adversário inferior tecnicamente. E jogando melhor. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL Libertadores
Mesmo com a vantagem no placar e diante de um adversário que se lançou ao ataque de maneira completamente desorganizada, o Racing simplesmente recuou e ficou esperando o Flamengo. O técnico Sebastián Beccacece, por sua manteve a postura mais cautelosa mesmo com os espaços generosos que apareciam no campo de ataque. E assim a partida foi caminhando até o apito final do chileno Roberto Tobar. Do lado rubro-negro, Rogério Ceni “meteu o louco” quando sacou Gustavo Henrique para a entrada de Diego Ribas e viu sua equipe tirar forças sabe São Judas Tadeu de onde para empatar a partida no último minuto com Willian Arão (o melhor em campo do lado do Fla na humilde opinião deste que escreve). E vale destacar mais uma vez: o Racing marcava MAL DEMAIS dentro e fora da área. Mesmo com uma linha de cinco na defesa. E mesmo com a vantagem numérica e no placar no Maracanã. Deu no que deu.
Filipe Luís, Pedro, Bruno Henrique, Gerson e Vitinho esperam o cruzamento de Isla sem serem lá muito incomodados pela defesa do Racing. Os espaços apareceram por conta da movimentação do ataque do Flamengo e também por conta da péssima marcação do escrete de Avellaneda. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL Libertadores
Quiseram os deuses do Velho e Rude Esporte Bretão que Willian Arão fosse de herói a vilão na decisão por penalidades. Por outro lado, também é preciso exaltar a frieza e a categoria dos jogadores do Racing nas cobranças. Os méritos existem e eles são inúmeros. O que este que escreve ainda não entendeu foram algumas das escolhas de Rogério Ceni que, apesar de fazer apenas seu sexto jogo no comando do Flamengo, errou a mão em vários momentos. A começar pela insistência na escalação de Gustavo Henrique na zaga e por forçar a escalação de um Rodrigo Caio completamente sem ritmo numa partida decisiva. Há também como se questionar a manutenção de Vitinho até o final da partida e a saída de Éverton Ribeiro e Arrascaeta num momento em que o Fla precisava de criatividade e jogadores inteligentes para abrir espaços. Se fosse outro treinador, talvez o barulho fosse maior do que está sendo.
Aproveitamento de grandes chances de gol do Flamengo sob comando de Rogério Ceni:
⚔️ 6 jogos
🛠 21 grandes chances de gol
❌ 17 grandes chances perdidas
☑️ 4 grandes chances convertidas
🎯 19% conversão de grandes chancesE quem não faz… pic.twitter.com/b8jDAOz8fk
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) December 2, 2020
Mesmo assim, não há como se colocar toda a culpa sobre os ombros de Rogério Ceni. O contexto no qual o ex-treinador do Fortaleza chegou ao Ninho do Urubu era dos piores possíveis, com dois jogos decisivos pela frente e vários problemas para resolver no elenco. O principal deles tem relação direta com as péssimas condições físicas dos jogadores rubro-negros. Como querer repetir o futebol intenso dos tempos de Jorge Jesus se os atletas não conseguem manter o ritmo lá em cima e sofrem com “panes mentais” a cada partida decisiva? Há sim como observar pequenas evoluções na equipe após a semana livre de treinamentos. O que ninguém entende é como o Flamengo conseguiu perder o ímpeto de 2019 em tão pouco tempo. Aliás, acho que a resposta para esta pergunta está no comando do Benfica atualmente e tem nome e sobrenome: Jorge Jesus. Todo o resto é dirigente tentando pegar carona no sucesso do “Mister”.
A segunda eliminação do Flamengo em menos de um mês é a prova de que o maior inimigo do time está lá dentro do clube. Dentro e fora de campo. Brigas internas, escolhas ruins para o elenco e dirigentes mais preocupados com o próprio umbigo são os grande problemas de um Fla que parece cada vez mais perdido, esfacelado e combalido mentalmente. Aquele brilho nos olhos de 2019 foi-se embora faz tempo.
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