Corinthians e Ferroviária mostram (mais uma vez) que concentração e disciplina são imprescindíveis no futebol; entenda
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o primeiro jogo da final do Paulistão Feminino 2020
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o primeiro jogo da final do Paulistão Feminino 2020
Antes de mais nada, é preciso dizer que marcar uma decisão de Campeonato Paulista para às 11 horas de um domingo de calor escaldante é algo que não entra na cabeça deste que escreve. Não somente por expor as jogadoras de Corinthians e Ferroviária, mas por todo o contexto imposto pela pandemia de COVID-19. Nosso raio de ação está muito mais limitado e o risco de lesão ou problemas de saúde mais sérios eram enormes. Dito isto, é impossível não concluir que o vencedor do jogo deste domingo (13) foi aquele que manteve a concentração e disciplina por mais tempo diante de todas as dificuldades apontadas anteriormente. Em que pese a atuação correta e bem organizada das comandadas de Tatiele Silveira, o escrete de Arthur Elias mostrou a sua força mais uma vez quando utilizou o banco de reservas para virar uma partida que parecia perdida em pouco mais de dez minutos.
Quem acompanha a coluna PAPO TÁTICO já deve ter lido mais de uma vez que o Corinthians é uma equipe muito difícil de ser batida por conta de todo o trabalho feito pela comissão técnica. E foi exatamente por isso que a técnica Tatiele Silveira montou sua equipe no seu tradicional 4-4-2/4-2-4 que apostava em jogadoras leves e velozes no terço final. O objetivo da comandante das Guerreiras Grenás era aproveitar as subidas constantes de Katiuscia e Tamires (que jogou mais uma vez como lateral) e explorar o espaço entre a defesa corintiana e a goleira Lelê (uma das que mais sentiram o calor de Barueri. Muita concentração para fechar espaços e muita intensidade nas transições para vencer um adversário que gosta muito de ocupar o campo de ataque. Chú, Sochor e Aline Milene se movimentavam demais e conseguiram criar alguns problemas para o time de Arthur Elias.
Tatiele Silveira apostou no seu 4-4-2 costumeiro para explorar os espaços às costas das laterais do Corinthians. A Ferroviária se fechava na defesa e buscava o passe longo para acelerar no terço final. Muita concentração e muita intensidade na execução dos movimentos. Foto: Reprodução / SPORTV
Mas manter essa postura tem um preço. Ainda mais no calor intenso de Barueri. Aos poucos, o Corinthians foi se organizando em campo através do 4-1-4-1/4-3-3 costumeiro de Arthur Elias e na sua já bem conhecida e estudada variação para o 2-3-5 (a popular “pirâmide”). Adriana, Crivelari e Gabi Nunes empurravam a defesa das Guerreiras Grenás para trás e ainda recebiam a companhia de Gabi Zanotti e Diany nas subidas ao ataque. Se faltava concentração para acertar o último passe, faltou atenção depois que Luciana defendeu o pênalti cobrado pela camisa 16. Mais uma bola lançada às costas da defesa, Poliana vacilou na marcação e Chú tocou na saída de Lelê para abrir o placar aos 43 minutos da primeira etapa. E isso num momento em que as comandadas de Arthur Elias já impunham seu jogo na Arena Barueri. Andressinha distribuía bem o jogo no meio e as laterais apoiavam bastante.
O Corinthians foi se acertando em campo e empurrando a defesa da Ferroviária para trás na bem conhecida variação para o 2-3-5. Mesmo com mais volume de jogo, o escrete de Arthur Elias pecava demais no último passe. Faltava concentração e atenção nos momentos decisivos. Foto: Reprodução / SPORTV
A segunda etapa mostrou um Corinthians nervoso e (um tanto) desorganizado e uma Ferroviária pragmática e conversadora além do necessário. Tatiele Silveira poderia ter explorado os espaços que surgiram na defesa adversária e manter a estratégia da primeira etapa, mas viu sua equipe se desmanchar completamente quando Vic Albuquerque empatou a partida ao converter penalidade aos 39 minutos do segundo tempo. A mesma camisa 17 seria importantíssima para puxar a marcação e abrir os espaços necessários para Gabi Zanotti perceber Diany se infiltrando na defesa para decretar a virada. E ainda haveria tempo para Vic Albuquerque fazer o terceiro em belíssima jogada de Katiuscia. Impossível não notar a falta de concentração e de resiliência nas Guerreiras Grenás para se recuperar depois do gol de empate. O Corinthians manteve a disciplina e saiu de campo com um ótimo resultado.
A Ferroviária se desmanchou completamente depois que Vic Albuquerque empatou a partida. A camisa 17 seria importantíssima para atrair a marcação adversária e abrir espaços para as chegadas de Gabi Zanotti e Diany nas jogadas do segundo e do terceiro gol. Concentração e atenção nos movimentos. Foto: Reprodução / SPORTV
É preciso dizer que a estratégia escolhida por Tatiele Silveira para o primeiro jogo da final do Paulistão fez com que as Guerreiras Grenás incomodassem bastante a defesa do Corinthians. Não é exagero dizer que o resultado seria outro se a Ferroviária não tivesse abusado do pragmatismo nos 45 minutos finais. Ainda mais diante da desorganização e do nervosismo presentes no time de Arthur Elias após o intervalo. Faltou ímpeto ofensivo e um pouco mais de ousadia para vencer aquela que é a melhor equipe do Brasil no momento. Já o escrete de Arthur Elias, apesar da vitória e da vantagem obtida para o jogo da volta (marcado daqui a uma semana na Fonte Luminosa), também viu sua equipe hesitar demais. A escalação de Tamires na lateral (quando Yasmim parece ter mais condições de exercer as funções da posição) é um pouco que precisa ser revisado e repensado pelo treinador.
A Ferroviária vai precisar repetir a exibição dos primeiros minutos do jogo na Arena Barueri para conseguir tirar a vantagem do Corinthians na partida decisiva do Paulistão Feminino. Ao invés de reagir, as Guerreiras Grenás vão ter que propor o jogo e sair mais para o ataque. E isso tudo diante de uma equipe que já mostrou que concentração e disciplina tática são seus pontos mais fortes. Não será nada fácil.
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