Meia Andrés D’Alessandro também concedeu entrevista coletiva depois do jogo de sábado diante do Palmeiras
Uma carta escrita pelo jornalista, escritor e poeta colorado, Fabrício Carpinejar, “falando” em nome do Beira-Rio para Andrés D’Alessandro, fez o camisa 10 colorado desabafar na véspera de sua despedida pelo Inter. Neste sábado, após o triunfo de 2×0 sobre o Palmeiras, no Beira-Rio, pelo Brasileirão, o camisa 10 agradeceu as palavras escritas pelo comunicador.
“Ontem me mandaram, através de amigos, um texto do Fabrício Carpinejar. Eu não o conheço pessoalmente, mas sei da sua trajetória como escritor e me emocionei muito. Chorei, não foi pouco. Agradeço por todas as suas palavras. Ontem foi um dia difícil para dormir, passa um filme”, reconheceu D’Ale, alvo de inúmeras homenagens pós-jogo.
O texto de Carpinejar foi a pedido do site Globoesporte.com – confira a íntegra abaixo:
Aqui quem escreve é o Beira-Rio.
Sei que você falou que nada mudaria a sua decisão de se despedir do Inter, mas não pode deixar de ouvir a opinião do estádio, não pode virar as costas para a sabedoria dos mais velhos, de quem tem 51 anos e já viu de perto Claudiomiro, Valdomiro, Falcão, Carpegiani, Gamarra, Figueroa, Rubén Paz, Manga, Escurinho, Dadá, Fernandão, Taffarel, entre tantos, que testemunhou o tricampeonato brasileiro, o bicampeonato da Libertadores, a Recopa, a Sul-Americana.
Então, me escute. Por mais que eu já tenha chorado de alegria ao longo das minhas cinco décadas, nunca tinha conhecido alguém como você: tão encarnado, tão colorado, tão enlouquecido, desconcertante com seu elástico, imprevisível com La Boba, chamando o jogo para si, festejando até escanteios, cobrando falta com efeito, estufando o peito e berrando: aqui é o Inter!
Foi singular entre tantas lendas, especial entre tantas façanhas, o terceiro na história que mais vestiu o manto vermelho, com 516 partidas e 95 gols.
Parece que foi ontem que o vi chegando. Lembro de seu primeiro gol em Gre-Nal, no Brasileirão de 2008, naquela goleada inesquecível de 4 a 1 no rival, com seu canhão de canhota, de primeira.
É sempre ontem nestes doze anos. Camisa dez habilidoso e bailarino, mas com raça e sangue de zagueiro, que não leva desaforo para o vestiário. Você não saia do túnel como os outros, porém vinha direto da Popular, da Camisa 12, da Super Fico, tal grau de identificação com o nosso torcedor.
Aprendi a respeitá-lo, a adorá-lo, a entender o tamanho do seu coração, o quanto ajudava crianças com câncer e organizava doações com o Lance de Craque. Você se importa conosco, você se dedicou a lutar pela nossa gente dentro e fora do campo. Desejo dizer que você não pode ir embora assim. Não sem a torcida, não é justo acenar para os alto-falantes, com as cadeiras vazias.
Você merece mais, eu mereço mais, merecemos casa cheia. Se não houvesse a pandemia, a torcida estaria gritando o seu nome e pedindo que ficasse. D’ Ale, você não iria resistir, não iria aguentar.
Só não está podendo olhar a nossa dor de perto, a nossa saudade, talvez esteja achando que aceitamos as suas malas prontas passivamente. Claro que não!
Se quiser, eu converso com o novo presidente. Se quiser, uso meus poderes sobrenaturais: promovo greve, seco a grama, apago os refletores, impeço qualquer rodada de acontecer.