Home Futebol Salário milionário, cobertura, carro importado e seguranças: Ex-presidente revela exigências de Maradona para jogar no Flamengo em 1991

Salário milionário, cobertura, carro importado e seguranças: Ex-presidente revela exigências de Maradona para jogar no Flamengo em 1991

Aos 60 anos, Diego Maradona morreu nesta quarta-feira em decorrência de uma parada cardiorrespiratória

Wilson Pimentel
Jornalista esportivo desde 1998. Cobriu os principais eventos esportivos da última década. Passou pelas redações do SBT, Record TV, CNT, Esporte Interativo, Rádio Tupi, Rádio Brasil e Rádio Manchete. É correspondente de veículos de comunicação da Colômbia, Croácia, Paraguai e Portugal. Está no Torcedores.com desde 2019.

Aos 60 anos, Diego Maradona morreu nesta quarta-feira em decorrência de uma parada cardiorrespiratória

Diego Armando Maradona foi um gênio dentro de campo, e para muitos (principalmente os argentinos), é maior e melhor que Pelé no mundo do futebol. No começo dos anos 90, o craque argentino habitava o sonho de torcedores e dirigentes dos principais clubes brasileiros como Palmeiras, Santos e São Paulo.

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O que muita gente não sabe é que o lendário camisa 10 esteve muito próximo de jogar no Flamengo em 1991. Em abril daquele ano, a Federação Italiana de Futebol lhe impôs uma pena de 15 meses ao comprovar vestígios de cocaína em um exame a que foi submetido após o jogo entre o Napoli, onde atuava, e o Bari.

Nesse mesmo mês, Maradona foi detido com drogas pelas autoridades argentinas em um apartamento no bairro Caraballo, onde estava em um grupo de amigos. Por isso, ele foi processado e obrigado a se submeter a tratamento. Nesse ínterim, o empresário uruguaio Juan Figer começou a estudar alternativas para mantê-lo longe de Buenos Aires.

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O “Grupo Figer” fez a ponte para o craque vestir a camisa do Flamengo na época. Na ocasião, o clube passava por dificuldades financeiras para manter a folha salarial em dia. Mas a diretoria estava muito empenhada em fechar o acordo. Afinal, a empresa ficaria responsável pelos vencimentos de Maradona.

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Com o apoio do maior agente do futebol mundial, o Flamengo ofereceu um grande projeto a Maradona que chegaria para atuar ao lado de Júnior na Copa Libertadores da América de 1991. A expectativa da diretoria era recuperar o jogador que vivia um sério problema de sobrepeso e estava no radar das agências antidoping.

Após ser eleito pela quarta vez para presidir o Flamengo, Márcio Braga sabia que precisava de um grande nome para chamar a atenção do torcedor rubro-negro. Em entrevista exclusiva ao Torcedores.com, o dirigente lembrou o bom relacionamento com o empresário Juan Figer, a facilidade nas conversas com Maradona e explicou porque o craque não acertou com o clube.

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“Ele não fechou com o Flamengo porque não quis. Eu fiz de tudo para que ele acertasse com o clube. Apesar de ser uma pessoa muito educada e cordial, ele fazia novas exigências a cada conversa por telefone. No final das contas, o Maradona acabou conseguindo ser negociado pelo Napoli com o Sevilla”, revelou o ex-presidente do Flamengo.

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Confira abaixo a integra do bate-papo com Márcio Braga de 84 anos, presidente que mais vezes comandou o Flamengo (seis vezes) e mais títulos de expressão conquistou em mais de 40 anos dedicados ao clube.

Como você recebeu a notícia da morte de Diego Maradona?

Fiquei muito triste com a morte do Diego. É impossível olhar para a camisa 10 da Argentina e não lembrar dele. Ele, antes de mais nada foi um jogador fenomenal. Além disso, foi ídolo de uma geração. O Maradona nos encantou com seus dribles, gols e por sua genialidade em campo”.

Com surgiu a ideia de levar Maradona para o Flamengo?

Na época, ele estava sem jogar no Napoli. Tomei conhecimento da suspensão após conversar com alguns dirigentes influentes que se colocaram à disposição para me ajudar na operação. Um ofereceu uma cobertura em Ipanema, outro chegou dizendo que teria condições de bancar segurança particular, depois chegou mais um e disse que disponibilizaria uma limusine e por aí vai. Certo dia, peguei o telefone e ligo para o (Juan) Figer e disse: ‘Quero o Maradona’. Ele respondeu: ‘Márcio, vou conversar com ele’. O Figer me retornou dias depois e disse que ele estava disposto a ouvir uma proposta nossa. Posteriormente, o Figer apresentou as exigências do Diego.

O Flamengo tinha condições de bancar a contratação de Maradona?

Com toda sinceridade? Não. O Flamengo, no entanto, tinha a obrigação de buscar informações e procurar saber o que ele queria. Mas como é que posso fazer se queria vê-lo com a camisa 10? Quando eu digo, eu digo o Flamengo. Quero o Maradona. Todos me apoiaram. O clube, a princípio, ia precisar de muita ajuda para trazê-lo. Muita gente me procurou e disse: ‘Márcio, pode trazer que nós pagamos’. Isso me inflamou. 

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Como o clube bancaria os vencimentos dele?

O Juan Figer é um empresário muito inteligente. Não é à toa que se tornou no maior agente de jogadores do planeta. Comprou o ‘projeto Maradona’ desde o início porque tinha visão de mercado. Ele disse que ficaria responsável pelos vencimentos e premiações. Com isso, o clube teria de repassar um percentual das bilheterias e cotas de televisão para reaver o dinheiro investido.

Você não teve medo de contratar um jogador que conviveu com notícias de indisciplina e envolvimento com drogas?

Você me conhece. Nunca fui babá de jogador. Sou um dirigente que olhava na cara do jogador e cobrava comprometimento. Ele sabia que era preciso mudar. O Maradona não era bobo. Sabia que precisava encontrar alguém em quem pudesse confiar. Eu estendi a mão e abri as portas do Flamengo. Para vestir o manto é preciso ter respeito. Por isso, nunca me preocupei com o extracampo dele. Era necessário construir uma relação de confiança entre as partes.

Depois das conversas iniciadas, em algum momento você viu que era possível fechar a contratação dele?

Foi um grande desafio. Sabia da responsabilidade desta negociação. Na época, o Santos, São Paulo e Palmeiras, que tinha o aporte da Parmalat, também estavam em cima do Figer. Eu estava disposto a trazê-lo para cá. Já pensou na chacoalhada que daria no futebol brasileiro? Ele conhecia a real situação do Flamengo e via uma atmosfera diferente apesar dos problemas financeiros do clube. Mas o Maradona sabia que ainda tinha mercado na Europa. No final das contas, isso acabou atrapalhando a vinda dele.

Quais foram as exigências do Maradona?

Na época, o Maradona pediu US$ 1 milhão por mês, limpos, sem impostos e mais premiações. O Flamengo jamais pagou esse montante para um jogador em toda a sua história. O Maradona valia isso tudo? É, claro que sim. Ele era um astro do futebol e vivia o auge no Napoli. Mas esse valor era completamente fora da realidade financeira dos clubes da América do Sul. Ninguém no Brasil, nem o Palmeiras com o aporte da Parmalat, poderia pagar isso. Além disso, ele pediu uma cobertura em Ipanema para morar, um carro blindado e uma equipe de segurança. O carro, a cobertura e a segurança iam ser bancadas por um grupo de conselheiros. Mas o salário e a premiação seriam de inteira e total responsabilidade do Figer. Era muito dinheiro.

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Mas a ideia era colocá-lo para vestir a camisa 10 de Zico?

É claro que sim. Não existia a menor possibilidade de vê-lo com outro número que não fosse com a 10. Na época, o Zico estava jogando no Japão. Nós pensamos na possibilidade de trazer o Galinho de lá para entregar a camisa para o Maradona. Foi só uma de tantas ideias que surgiram.

Você foi cobrado por dirigentes por não ter conseguido fechar a contratação dele?

Não, nunca. Todos os dirigentes que estavam envolvidos nesta operação sabiam dos números elevados e das exigências do Maradona. Tentamos fechar um acordo dentro das possibilidades do clube com o apoio financeiro do Figer. Ele estava querendo sair do Napoli, fui atrás de informações e as conversas foram avançando com o passar dos dias. Era uma negociação que exigia ter paciência e muita calma. Calma é uma coisa que eu tenho. Infelizmente não foi possível contratá-lo. O Maradona seguiu o seu rumo e foi jogar na Espanha. O Flamengo, por sua vez, também seguiu o seu caminho.

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