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Nova derrota para o São Paulo escancara a fragilidade de um Flamengo completamente esfacelado e perdido

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação dos comandados de Rogério Ceni na eliminação da Copa do Brasil

Por Luiz Ferreira em 19/11/2020 01:51 - Atualizado há 9 meses

Miguel Schincariol / saopaulofc.net

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação dos comandados de Rogério Ceni na eliminação da Copa do Brasil

Numa de suas entrevistas concedidas ao longo dos últimos meses de 2019, o técnico Jorge Jesus já fazia o alerta: chegar no topo é relativamente fácil; difícil é se manter lá. Ao mesmo tempo, destruir todo um trabalho é muito mais fácil do que construir um do zero com o português fez no ano passado e início desse ano. A nova derrota para o São Paulo e a eliminação na Copa do Brasil só mostram que o Flamengo é hoje um time esfacelado, perdido e fragilizado em vários aspectos. O que eu e você vimos no Morumbi nesta quarta-feira (18) foi a queda anunciada de uma equipe vitoriosa que se perdeu tem bastante tempo e que sofre as consequências das escolhas infelizes da sua diretoria desde o início da temporada. Melhor para o Tricolor Paulista e Fernando Diniz, que emplacaram mais uma grande atuação e se garantiram nas semifinais da Copa do Brasil.

É muito complicado colocar a culpa da derrota sobre os ombros de Rogério Ceni (que fazia apenas a sua terceira partida no comando técnico do Flamengo). Há sim como questionar certas escolhas do treinador, como a presença de Renê, Léo Pereira, Vitinho e Michael no time titular. Mas quem escalar no lugar deles? Colocar os mais jovens e correr o risco de queimar um jogador que pode ser útil no futuro? Foi com esse dilema (e com os desfalques de Pedro, Gabigol, Isla, Rodrigo Caio e Thiago Maia) que Ceni escalou o Fla no seu costumeiro 4-4-2 e viu sua equipe cometer os mesmos erros de outras partidas. A defesa seguia sem inspirar confiança e toda a equipe concedia espaços demais entre as linhas. O São Paulo tinha campo para criar suas jogadas e chegava com perigo ao gol de Diego Alves sempre explorando o lado esquerdo de ataque.

Rogério Ceni arrumou o Flamengo no seu usual 4-4-2, mas viu sua equipe conceder espaços demais entre as linhas e cometer os mesmos erros defensivos de outras partidas. O São Paulo explorava bem os lados do campo com Igor Gomes e Reinaldo jogando às costas de Matheuzinho. Foto: Reprodução / TV Globo

Mesmo criando algumas chances de gol no primeiro tempo, o Flamengo não conseguia entrar na área do São Paulo. E é aí que vemos uma clara diferença na postura das duas equipes. Os comandados de Fernando Diniz fechavam muito bem a sua defesa e sempre partiam em velocidade para o ataque (esqueça aqueles “memes” que brincavam com a posse de bola inócua do escrete do Morumbi). O São Paulo tem já há algum tempo uma ideia bem clara do que quer fazer dentro de campo. Com ou sem a bola. E mesmo falhando em jogo decisivos na Libertadores e na Sul-Americana, o time vem colhendo os frutos da continuidade do trabalho. Este que escreve mencionou as palavras que Muricy Ramalho usou para criticar o trabalho de Fernando Diniz não tem muito tempo. E o que se viu nesta quarta-feira (18) foi uma equipe inteira, coesa, consistente e bem organizada. Não é pouca coisa.

Enquanto o Flamengo sofria com problemas defensivos, Fernando Diniz ajustava o São Paulo e explorava justamente as deficiências da sua equipe através de um 4-4-2 muito bem organizado e consistente. Compactação, intensidade nas transições e muita concentração nos momentos decisivos. Foto: Reprodução / TV Globo

O frame acima também escancara a desorganização ofensiva do Flamengo. O que Gerson estava fazendo tão à frente? E para quem Renê vai passar a bola se o time não se movimenta para abrir espaços? Todos esses erros e todos esses pequenos detalhes foram minando a confiança da equipe rubro-negra num jogo que já parecia perdido antes mesmo do apito inicial. O lance do primeiro gol do São Paulo evidencia bem esse estado anímico dos comandados de Rogério Ceni. É possível notar que todo o escrete flamenguista está bem organizado na frente da sua área. O grande problema está na concentração e na escolha das decisões. Arrascaeta permite o cruzamento de Daniel Alves, Matheuzinho e Thuler não cortam e deixam que Luciano receba com tempo para ajeitar o corpo e tocar na saída de Diego Alves. Daí para o final da partida no Morumbi, foi uma verdadeira sucessão de erros.

Todo o time do Flamengo está arrumado na frente da sua área, mas a sucessão de erros de Arrascaeta, Matheuzinho e Thuler resultou no gol de Luciano, o primeiro da partida. Faltava concentração e (principalmente) confiança para tentar competir contra um adversário mais ligado e focado. Foto: Reprodução / TV Globo

Os outros dois gols do São Paulo (marcados por Luciano e Pablo) somados ao pênalti (bisonhamente) desperdiçado por Vitinho serviram para mostrar que o Flamengo está completamente esfacelado emocionalmente. Difícil achar somente um que não esteja perdido ali no elenco rubro-negro. Apesar de ter mais posse de bola e de finalizar mais a gol, o nível de eficiência é extremamente baixo para um time que estava em “outro patamar” não tinha muito tempo. Há como se criticar Rogério Ceni por esta ou aquela escolha, mas é praticamente impossível colocar toda a culpa sobre os ombros do técnico do Flamengo. Se o São Paulo de Fernando Diniz vem mostrando um futebol bastante eficiente há algum tempo, o Fla perdeu o rumo muito antes da chegada de Domènec Torrent ou da eliminação na Copa do Brasil. E não me refiro apenas ao elenco. Podem colocar toda a diretoria nesse balaio aí.

Jogo muito parecido com o do Maracanã. O Flamengo dominou o primeiro tempo e teve oportunidades. Infelizmente o momento faz com que a bola passe próxima do gol e não entre. Na primeira oportunidade do São Paulo, saiu o gol. Aí entra o lado psicológico que acaba atrapalhando todo o esforço. Aí tem o desgaste, tudo que temos enfrentado“. As palavras de Rogério Ceni deixam bem claro que o problema do Flamengo é sim técnico, mas também psicológico. É impressionante como a equipe se abate com os erros e como os jogadores baixam a vibração a cada jogada desperdiçada. Fora isso, o treinador rubro-negro ainda tem que lidar com os desfalques de jogadores importantes e com um departamento médico lotado. Como exigir que Ceni devolva toda a competitividade e consistência para o time se ele não pode contar com todos os atletas em condições de jogo?

Este que escreve nunca gostou de fazer o papel de arauto do Apocalipse. No entanto, jogando o que vem jogando hoje, não é exagero nenhum afirmar que o Racing tem todas as condições de se recuperar da sua má fase e se garantir nas quartas de final da Libertadores. Rogério Ceni tem pouquíssimo tempo para recuperar a confiança do seu elenco e fazer com que a “roda da fortuna” gire a favor do Fla.

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