Pia Sundhage segue em busca de atletas polivalentes e laterais construtoras para a disputa dos Jogos Olímpicos
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a lista de convocadas para os amistosos contra a Argentina
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a lista de convocadas para os amistosos contra a Argentina
A lista de jogadoras convocadas por Pia Sundhage para os amistosos contra a Argentina (marcados para os dias 23 de novembro e 1º de dezembro) gerou uma série de discussões. Difícil não questionar a ausência de jogadoras como Gabi Zanotti, Crivelari (ambas do Corinthians), Isabella (do Palmeiras) e Bruna Calderan (do Avaí/Kindermann) e a insistência em nomes já batidos como Chú, Bruna Benites e Andressa Alves. Por outro lado, é preciso lembrar que as escolhidas pela treinadora sueca seguem uma ideia bem clara de jogo e se adapta a todo um contexto bem específico. E isso leva em consideração o fato de que Pia só poderá levar 18 atletas para Tóquio e que precisa de jogadoras que cumpram mais de uma função dentro de uma equipe. Essa pode ser a principal explicação para a convocação de Camilinha e Chú como laterais e não como jogadoras de frente.
Não se trata de apenas concordar ou discordar das escolhas de Pia Sundhage, mas de tentar entender o que ela pretende que sua equipe faça dentro de campo. Principalmente na hora de atacar suas adversárias. Já sabemos que a treinadora do escrete canarinho tem preferência pelo 4-4-2/4-2-2-2 e que utiliza suas jogadoras numa dinâmica bem específica. Os dois amistosos contra o México (disputados no final de 2019) mostram bem como esses conceitos foram aplicados com a bola rolando. Debinha (a “winger” que joga pelo lado direito) centraliza e a lateral Fabiana aproveita o corredor aberto para se lançar ao ataque. Do outro lado, Tamires fica um pouco mais por trás de Duda e aparece como mais uma jogadora de meio-campo junto com as volantes Luana e Andressinha. Há uma ideia bem estabelecida de jogo e que ajuda a explicar as suas escolhas nas últimas convocações.
Debinha centraliza e abre o corredor para as subidas de Fabiana pelo lado direito. Na esquerda, Tamires joga mais por dentro enquanto Duda se lança ao ataque. O 4-4-2 de Pia Sundhage tem uma ideia muito bem solidificada de jogo e que explica muita coisa nas últimas convocações. Foto: Reprodução / SPORTV.
É bem verdade que o 4-4-2/4-2-2-2 não foi a única formação testada na Seleção Feminina. O empate em 2 a 2 com o Canadá (a última partida oficial do escrete canarinho antes da paralisação das atividades por conta da pandemia de COVID-19) nos mostrou uma equipe se defendendo em duas linhas e se organizando num 4-2-3-1 nos momentos ofensivos. Isso com Ludmila e Bia Zaneratto se movimentando por toda a intermediária canadense e criando espaços para as chegadas de Andressinha (que jogou por dentro na linha de três meio-campistas) e Marta (que jogou armou o jogo a partir do lado esquerdo). No entanto, mesmo num desenho tático diferente do usual, foi possível ver o time comandado por Pia Sundhage repetindo a dinâmica com suas laterais. O posicionamento de Antônia e Jucinara no ataque dependia muito da movimentação de Ludimila, Bia Zaneratto e Marta.
O empate com o Canadá em março de 2020 mostrou uma Seleção Feminina se organizando num 4-2-3-1 com Andressinha por dentro e Ludimila e Marta pelos lados do campo. Mesmo assim, as laterais Antônia e Jucinara repetiam a mesma dinâmica de jogos anteriores. Há um padrão de jogo bem claro. Foto: Reprodução / SPORTV.
Como pudemos ver nos dois frames acima, Pia Sundhage deseja que suas laterais cumpram funções muito específicas. O posicionamento de cada uma delas pode variar bastante conforme a disposição das jogadoras de ataque. Se uma das atletas de meio-campo centraliza e abre o corredor, a lateral parte para fazer as jogadas de ultrapassagem e criar superioridade numérica na intermediária. Uma parte como “ponta” e outra aparece como outra “armadora”. As duas fazem parte da construção das jogadas de ataque. Esse plano de Pia Sundhage ficou bem claro quando o amigo Thiago Ferreira (apresentador do excelente podcast De Primeira e integrante do já tradicionalíssimo Planeta Futebol Feminino) perguntou sobre o perfil procurado pela comissão técnica para as extremas da Seleção Feminina na entrevista coletiva concedida em Portugal durante o período de treinamentos da Seleção Feminina.
🗣️🎙️| Fala Pia!
O @Thi_B_Ferreira perguntou para a treinadora da @CBF_Futebol, @PiaSundhage, sobre o perfil de jogadora que a mesma procura para as Extremas (pontas) da #SeleçaoFeminina.
Confira a Resposta: pic.twitter.com/TdVRlIKykd
— De Primeira – Futebol Feminino (de 🏠) (@FFDePrimeira) October 27, 2020
As coisas começam a ficam um pouco mais claras a partir dessa resposta de Pia Sundhage. Além de procurar por jogadoras polivalentes (atletas que joguem em mais de uma posição dentro da equipe), a treinadora sueca procura laterais que consigam exercer bem essa dinâmica. Se Tamires (que joga como meia-atacante no Corinthians) mostra a cada partida que consegue se adaptar às mais diferentes situações e está praticamente garantida em Tóquio, Pia ainda busca encontrar a jogadora certa para ocupar o lado direito. Há como se pensar num time que tenha Camilinha começando como lateral, mas se transformando em meio-campista numa troca de posição com Luana (que exerceu bem a função de lateral em jogos passados). Marta jogaria mais próxima do ataque com Ludimila e Debinha se movimentando e abrindo espaços. É algo que pode muito bem ser testado nos jogos contra a Argentina.
Uma formação possível da Seleção Feminina para os amistosos contra a Argentina teria Camilinha iniciando como lateral e se transformando em meia pela direita enquanto Luana fecharia o setor. Marta permaneceria mas próximo da dupla de ataque com Tamires auxiliando na criação das jogadas perto de Andressinha.
Por mais que as escolhas de Pia Sundhage para a Seleção Feminina sejam bastante questionáveis em termos de nomes convocados (e por mais que este que escreve veja jogadoras com plenas condições de fazerem parte do escrete canarinho atuando aqui em solo brasileiro), é preciso reconhecer que a treinadora sueca tem sim um plano de jogo muito bem desenvolvido e que já fez com que sua equipe apresentasse um futebol mais consistente. Além disso, o momento certo para se fazer testes são os amistosos que antecedem a disputa dos Jogos Olímpicos. Por outro lado, a insistência em nomes que já mostraram que não se adaptaram ao estilo de Pia Sundhage pode fazer com que seu planejamento não seja bem executado. Se a ideia de jogo é bem montada, os nomes escolhidos para executar suas ideias podem não ser os melhores. Principalmente no sistema defensivo da Seleção Feminina.
Vale lembrar também que a treinadora sueca faz parte (segundo a CBF) de um trabalho que não vai se encerrar com a disputa dos Jogos Olímpicos. No entanto, mesmo com conceitos bem estabelecidos (e que justificam a busca por laterais construtoras e atletas polivalentes), Pia Sundhage poderia olhar com mais carinho para outras jogadoras com ótimo potencial. Ainda mais com possibilidade de fazer testes antes dos Jogos Olímpicos.
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