Home Futebol Conheça as ideias e conceitos táticos de Abel Ferreira, o novo treinador do Palmeiras

Conheça as ideias e conceitos táticos de Abel Ferreira, o novo treinador do Palmeiras

Luiz Ferreira explica como o treinador português pensa suas equipes na coluna PAPO TÁTICO

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Luiz Ferreira explica como o treinador português pensa suas equipes na coluna PAPO TÁTICO

Anunciado oficialmente como o novo técnico do Palmeiras no último sábado (30), Abel Ferreira faz parte da promissora geração de treinadores portugueses junto com nomes outros profissionais como Paulo Fonseca, André Villas-Boas, Nuno Espírito Santo e Leonardo Jardim. Apesar da pouca idade (41 anos), já possui ampla experiência em competições internacionais e já mostrou sua qualidade no Braga (de Portugal) e no PAOK (da Grécia). No entanto, a grande missão de Abel Ferreira no Palmeiras será atender à enorme expectativa gerada pela sua contratação após as negativas de Miguel Angel Ramírez, Ariel Holan e Sebastian Beccacece. O português vai precisar de tempo e paciência para implementar seus conceitos em meio ao insano calendário do futebol brasileiro e para lidar com a pressão por bons resultados a curtíssimo prazo. Não é missão das mais fáceis.

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Nascido na cidade de Penafiel no dia 22 de dezembro de 1978, Abel Ferreira é o tipo de treinador que pode se chamar de estrategista. Dono de personalidade forte, o português gosta de trabalhar com a base e tem predileção por um futebol extremamente vertical e direto. Por outro lado, varia bastante o estilo de jogo das suas equipes conforme as circunstâncias (e necessidades) de cada partida. Todas as mudanças no time e todas as alterações no esquema tático são realizadas de acordo com cada adversário. Um bom exemplo é o jogo do PAOK contra o Benfica de Jorge Jesus na fase eliminatória da Liga dos Campeões da UEFA. Abel Ferreira armou a equipe grega num 5-4-1 para fechar sua área com muita compactação entre as linhas e buscar os espaços às costas da defesa dos encarnados em contra-ataques rápidos, objetivos e sem muitos toques na bola.

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Abel Ferreira montou o PAOK num 5-4-1 bastante compactado e altamente veloz nos contra-ataques para bater de frente com o Benfica de Jorge Jesus. A vitória por 2 a 1 foi construída em cima dos conceitos do novo treinador do Palmeiras. Foto: Reprodução / YouTube / PAOK TV

Mas as ideias táticas de Abel Ferreira não param por aí. Depois de passar pelas categorias de base do Sporting, o jovem treinador foi contratado pelo Braga no ano de 2017 e conseguiu ótimos resultados no comando dos “Guerreiros do Minho” na temporada de 2017/18: recorde de pontos alcançados no Campeonato Português (75 pontos), o recorde de gols marcados (101 gols) e o recorde de vitórias numa só temporada (33 vitórias). Além disso, Abel Ferreira ainda é o treinador com a maior porcentagem de vitórias no Braga (64%). E tudo isso adotando um estilo de jogo bem agressivo na defesa, com forte pressão no portador da bola (a partir de um 4-4-2) e com linhas adiantadas o suficiente para acionar os jogadores de frente nos contra-ataques. Mas o estilo pode variar para uma postura mais pragmática dependendo das circunstâncias. É a “veia estrategista” do treinador do Palmeiras.

O Sporting Club de Braga comandado por Abel Ferreira ficou marcado pelo seu estilo único de forte pressão pós-perda, marcação agressiva e alta velocidade nos contra-ataques. A campanha na temporada 2017/18 foi marcada por recordes no Campeonato Português. Foto: Reprodução / YouTube / VSPORTS

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Uma das características mais marcantes dos times de Abel Ferreira é a construção das jogadas. Tudo começa a partir de um 3-2-5 no qual um dos laterais recua para fazer a “saída de três” com os zagueiros e o outro lateral se junta aos atacantes (sim, é isso mesmo). Os dois volantes ficam com a tarefa de fazer a bola chegar na frente com qualidade para que os “cinco atacantes” consigam chegar ao gol adversário. O objetivo de Abel Ferreira é manter dois jogadores bem abertos (para abrir as linhas defensivas) e manter três jogadores pisem na área. É aí que aparece outro conceito bem claro do novo treinador do Palmeiras: os cruzamentos. Mas é preciso deixar claro que eles não são realizados de qualquer maneira. A movimentação dos jogadores abre espaços para a conclusão a gol e visa gerar superioridade numérica (5 contra 4) no último terço do campo.

A construção das jogadas nos times de Abel Ferreira está toda baseada num 3-2-5 onde um dos laterais se junta aos zagueiros e o outro se lança ao ataque. Tudo é pensado para que a equipe consiga chegar na área adversária com superioridade numérica. Foto: Reprodução / YouTube / VSPORTS

Esse conceito também poderia ser visto no PAOK (incluindo os momentos em que o escrete grego jogava com uma linha de cinco jogadores na sua defesa). A transição para o ataque era sempre feita em alta velocidade e com pelo menos cinco jogadores se lançando em direção ao gol. Não é algo fixo. Nada impede que um dos atacantes recue para ajudar na criação das jogadas. Há uma certa liberdade nesse sentido para todos dentro de campo. É apenas uma orientação sobre como os atletas devem se comportar nesses momentos. E vale destacar também que o jogo pelos lados do campo, as inversões e os cruzamentos para a área eram o forte do Braga e também do PAOK. Tudo por conta da maneira como os times de Abel Ferreira constroem suas jogadas de ataque. O já mencionado 3-2-5 não é algo fixo e estático. É a formação inicial para a equipe dar o bote certo no momento certo.

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Mesmo jogando com uma linha de cinco na defesa, o PAOK também seguia as orientações de Abel Ferreira. A presença de cinco jogadores no ataque visava abrir as defesas adversárias com bastante amplitude e cruzamentos certeiros para quem estivesse dentro da área. Foto: Reprodução / YouTube / PAOK TV

Todos esses conceitos colocados aqui podem ser aplicados no time do Palmeiras sem que os jogadores estranhem muito a mudança de estilo. Gabriel Menino (o lateral defensor pela direita) pode ser mais aproveitado próximo de Luan e Gustavo Gómez para qualificar a saída de bola e ajudar na armação das jogadas. Patrick de Paula pode se juntar a Felipe Melo (jogador de ótimo passe) no meio-campo para municiar um ataque que teria Viña (o lateral ofensivo pela esquerda), Gabriel Verón, Luiz Adriano, Raphael Veiga e Willian Bigode. Com o devido tempo (e também a paciência) para a mais do que necessária adaptação do elenco alviverde às ideias de Abel Ferreira, a tendência é que vejamos um Palmeiras ainda mais vertical e insinuante no ataque e ainda mais agressivo na defesa. E isso sem falar nas boas opções no banco de reservas à disposição do português.

Por outro lado, Abel Ferreira terá que lidar com a enorme pressão que virá de todos os lados por bons resultados a curto prazo. Embora tenha bastante experiência para um treinador de 41 anos, o português vai enfrentar a desconfiança de quem nunca ouviu falar no seu nome e nunca parou para pesquisar sobre seus trabalhos. A pergunta que fica é se a diretoria do Palmeiras irá entender os conceitos do novo técnico e dará o respaldo necessário no caso de uma sequência ruim de partidas dentro do insano calendário do nosso futebol (sem semanas cheias para treinamento até o mês de janeiro). Fora isso, Abel Ferreira também é conhecido por ser um técnico disciplinador e colecionou problemas com as lideranças do elenco do PAOK. Será que os dirigentes palmeirenses vão comprar a ideia do treinador ou fritá-lo ao menor sinal de insatisfação?

Seja como for, Abel Ferreira é um bom treinador, tem ótimas ideias e é um dos nomes mais promissores da sua geração. Além disso, o português vai encontrar ótimas opções no plantel para encarar as várias competições que terá pela frente. Se tiver tempo para implementar seus conceitos e a confiança de torcida e diretoria, a tendência é vermos um Palmeiras ainda mais forte nos próximos meses.

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