Com direito a tatuagens de Che e Fidel, Maradona nunca escondeu suas convicções políticas. Socialista, ele odiava os Estados Unidos e batia de frente com o alto escalão da FIFA e AFA
Conhecido como o maior jogador da história da Argentina e lenda do futebol mundial, Diego Armando Maradona morreu na quarta-feira (25) aos 60 anos. Além da magia dentro dos campos, o craque não se escondia do jogo fora das quatro linhas. Socialista, Diego não escondia suas defesas e lutas, assim como não possuía capacidade de se desvencilhar da dor e da solidão pessoal. Uma vida dramática, bela e epopeica, como um tango de Gardel. Por tudo isso, o 25 de novembro de 2020 nunca será esquecido, assim como o 22 de junho de 1986 permanecerá vivo.
Infelizmente, datas como essa, sobretudo dentro da esfera jornalística, proporcionam sentimentos distintos, não somente aos argentinos, mas para todos os apaixonados por futebol. Enquanto 1986 marcou a heroica vitória da seleção albiceleste diante do ingleses, representando uma homenagem aos trabalhadores que perderam a vida na Guerra das Malvinas de 1982, o 25 de novembro será lembrado pela partida de Maradona, inclusive a mesma data do falecimento do ídolo e homem que salvou a camisa 10 da Argentina: Fidel Castro.
Os ideias do jogador de origem humilde foram além dos discursos e fotos com personalidades da esquerda sul-americana, Maradona decidiu eternizar na pele dois símbolos da luta contra o imperialismo que, assim como ele, sentiram e viveram as dores e belezas das veias abertas da américa latina: o guerrilheiro Che Guevara descansa em seu ombro direito, enquanto o comandante cubano Fidel Castro está em sua panturrilha esquerda, exatamente no pé bom do craque.
Voltando ao episódio da vitória contra a Inglaterra, mas especificamente após a classificação, em 2018, Maradona falou para a TeleSur o que sentia como jogador e deixou claro que, para o torcedor argentino, aquela partida não era só futebol.
“Era muito claro para nós [jogadores] que era apenas um jogo de futebol. Não éramos soldados, nem tínhamos armas. Tínhamos a bola e a vontade de dar um pouco de alegria ao nosso povo, após os assassinos inventarem um guerra que matou nossos irmãos. O que fizemos foi dar felicidade depois de muita tristeza na Argentina”, disse.
Uma posição que evidencia a revolta de Maradona contra a barbárie realizada pelo estado argentino, liderado pelo presidente-general Leopoldo Galtieri, que resultou em 649 argentinos mortos e mais de 10 mil prisioneiros de guerra diante do império inglês, dirigido por Margaret Thatcher, a Dama de Ferro.
Obviamente que esta homenagem de Maradona e seus companheiros de seleção não foram meras bravatas nacionalistas. Tratou-se de solidariedade de classe, feita por homens que nasceram e cresceram nas piores condições de vida em uma Argentina devastada pelo capitalismo e a repressão, assim como todos os países latino-americanos da época.
Anti-imperialista
Maradona fez a escolha de se prejudicar enquanto atleta criando inimigos nos altos escalões da FIFA e da AFA, não aceitando ser mais um fantoche dos donos do poder futebolístico, que sempre manejaram os craques para acobertar os crimes do estado e da burguesia, especialmente nos regimes ditatoriais na América Latina.
Ele sempre declarou ódio ao imperialismo estadunidense, inclusive com aparições públicas vestindo camisas contra Bush, quando era presidente. Ele não era o único, mas por ser o maior, foi espelho para os jogadores socialistas, como Sócrates, o brasileiro, e Cantona, o francês, além, claro, para os jovens que sonham um dia chegar virar jogador de futebol profissional.
Muitos que chegaram até aqui podem estar borbulhando de raiva, que futebol não tem nada a ver com política, voltemos ao primeiro parágrafo: a história de Maradona como atleta nunca se desvencilhou de seus ideais. Diferente de sua dependência química, que nada tem a ver com o ideal socialista, mas sim com a pressão que sofreu por um homem comum confundido com um Deus.
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