Análise tática: Maradona é ‘responsável’ por times retraqueiros até hoje
De tanto “infernizar” defesas adversárias, técnicos começaram a estudar formas de anular jogadores genais em campo
De tanto “infernizar” defesas adversárias, técnicos começaram a estudar formas de anular jogadores genais em campo
Se Johan Cruijff, comandando dentro de campo a seleção da Holanda em 1974, foi o jogador mais importante para se estruturar táticas de combate ao “carrossel holandês”, Diego Armando Maradona fez, sozinho, na Copa do Mundo de 1986, que técnicos criassem formas de anular um único jogador durante uma partida. Por mais que não tenha feito tanto sucesso como técnico, Dieguito é até hoje estudado taticamente pelo “inferno” que causava nas defesas adversárias.
O termo “quebrar linhas” é bem atual e utilizado com constante frequência em análises táticas. Isso porque, hoje o futebol é muito estudado e seus padrões bem definidos. O que Maradona fez na Copa do Mundo de 1986, sobretudo no 2×1 contra a Inglaterra nas quartas de final do mundial, é até hoje base para criações de defesas compactadas, para que elas evitem gols em lampejos de genialidade, seja por meio de passes ou dribles.
Em um campo imaginário, Maradona representa o caos, e um time bem compactado defensivamente a ordem. Isso quer dizer que se a Inglaterra, lá em 1986, tivesse um padrão tático de equipes da atualidade, Maradona seria parado?
A resposta é… talvez, mas muito provavelmente não. Agora, para não te deixar confuso, usarei como base de argumentação a atuação de Maradona e seus adversários mundial do México:
Marcação individual e linha alta
Na final de 1986, Alemanha e Argentina faziam um jogo aberto porque havia uma marcação “especial” em Maradona, principalmente por parte do excelente Lothar Matthäus. A hoje famosa marcação individual não era tão utilizada taticamente na época. Anular o craque do time deu mais espaços para os demais atacantes argentinos. O 2×0 surgiu justamente desses espaços.
Ao empatar a partida em 2×2 e acreditando na virada ainda no tempo regulamentar, a defesa alemã subiu a marcação, consequentemente cedendo espaços ao marcado camisa 10 da Argentina. E foi em um desses raros momentos que Maradona, livre, deu um passe para Burruchaga marcar o gol da vitória e título mundial.
Os conceitos de marcação individual e subir linhas para forçar o erro adversário não eram populares, mas foram bem implementados pela seleção alemã. Assim como em 1974, para anular o carrossel holandês de Cruijff, o time da Alemanha queria parar a principal jogada argentina naquele mundial: bola nos pés de Maradona.
Ficou claro? Se não houvesse a empolgação alemã em subir as linhas de marcação, talvez Maradona não tivesse espaço para fazer o lançamento que culminou no gol do título. Se Mourinho ganhou uma Champions League com a Inter de Milão em 2009-10 e Di Matteo deu o título inédito da mesma competição ao Chelsea em 2011-12, isso aconteceu porque conseguiram “parar” o Barcelona de Messi e companhia. Nada está por acaso.
Métricas não são maiores que o talento
O futebol tático é importante, como citado acima, mas não é uma fórmula exata. O site Statsbomb fez um gráfico das recepções de bola que Maradona recebia, em jogos que atuava pelo Napoli. Além dos lances geniais, ele procurava o jogo em praticamente todos os setores do ofensivos do campo. Como parar um jogador desse?
Anos após Maradona se aposentar temos reflexos do estilo de jogo, que acabo de intitular como “infernizabol”. O acima citado Messi, por exemplo, enfrentando o mesmo Chelsea que o alunou em 2012, marcou o gol de empate no 1×1, em 2016, no único vacilo do time londrino. Assim como com um único corte, o camisa 10 do Barcelona desmontou a defesa do Bayern de Munique, deixando Boateng no chão e finalizando de cobertura. A pintura do craque argentino sacramentou a partida e garantiu seu time na final da Champions League de 2014/15.
No fim das contas o futebol é humano e erros acontecem mesmo no melhor sistema defensivo. O mesmo vale para lances geniais, que quebram até as melhores retrancas. Maradona se despede da vida terrena, mas seu futebol pavimentou tudo isso e jamais será esquecido.
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