Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória da Raposa sobre o Operário
Já é público e notório que as análises de futebol pedem cautela e observação do contexto no qual uma partida ou um determinado treinador está inserido. As ideias e conceitos de um determinado profissional podem ser alteradas e até mesmo abandonadas por conta de uma série de fatores. Essa é a situação de Luiz Felipe Scolari no Cruzeiro. De volta ao comando da Raposa após 19 anos, Felipão já deu indícios do que quer da sua equipe: marcação forte, transição rápida para o ataque e (principalmente) uma equipe mais “malandra” e menos previsível com a bola no pé. A vitória por 1 a 0 sobre o Operário-PR foi importantíssima na briga contra o rebaixamento para a Série C, mas a partida desta terça-feira (20) também escancarou (de novo) alguns dos vários problemas do escrete celeste. O contexto não é dos melhores, mas Felipão se saiu bem no seu primeiro teste.
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— Cruzeiro 🦊 (@Cruzeiro) October 21, 2020
Por equipe mais “malandra” entenda uma equipe que toma as melhores decisões e que sabe aproveitar os espaços encontrados na defesa adversária. Felipão não fez nada diferente do que fez em outros clubes. Armou o Cruzeiro no seu usual 4-2-3-1 e apostou na experiência dos mais “cascudos” e escalou pontas com os “pés invertidos”. Marquinhos Gabriel (canhoto) ficou mais pela direita e Arthur Caíke (destro) caía mais pelo outro lado. O objetivo era abrir o corredor para que os laterais Rafael Luz e Matheus Pereira pudessem dar mais profundidade ao time e explorar as jogadas pelas linhas de fundo. Mas as coisas nem sempre fluíram da maneira esperada. Principalmente por conta das tomadas de decisão equivocadas por parte dos jogadores do Cruzeiro. Os espaços existiam, mas nem sempre eram aproveitados e o escrete celeste seguia altamente previsível dentro de campo.
Marquinhos Gabriel corta para dentro e Rafael Luz se posiciona para receber o passe na linha de fundo, mas o camisa 17 prefere a jogada individual. O Cruzeiro ainda segue com vários vícios e extremamente previsível. Felipão será importantíssimo para dar mais “malandragem” e repertório ao time mineiro. Foto: Reprodução / Premiere
O sistema defensivo do Cruzeiro também preocupa demais. Justo um dos pontos fortes dos times de Luiz Felipe Scolari. Principalmente quando a equipe celeste precisa se reorganizar rapidamente. Não foram poucas as vezes em que Jadsom Silva e Adriano precisaram cobrir os espaços deixados pelos laterais e abriram espaços generosos na frente da dupla de zaga formada por Cacá e Ramon. Ao mesmo tempo, Régis teve atuação apagada e pouco contribuiu na criação das jogadas de ataque e na saída de bola. Fosse o Operário um pouco mais ousado e intenso no contra-ataque, as coisas poderiam ter ficado ainda mais feias para o Cruzeiro e para Felipão. E uma das tarefas mais urgentes do treinador campeão mundial em 2002 é encontrar o equilíbrio certo entre defesa e ataque sem que um prejudique o outro. Ainda mais com tantos vícios e problemas na recomposição do escrete celeste.
A recomposição defensiva é um dos pontos mais fracos do Cruzeiro. Arthur Caíke e Marquinhos Gabriel não ajudavam na marcação e sobrecarregavam os volantes Jadsom Silva e Adriano na cobertura dos laterais. Mais um problema para Felipão resolver nos treinamentos e nas preleções. Foto: Reprodução / Premiere
Mas também é preciso falar dos pontos positivos, já que o Cruzeiro foi “malandro” e deixou a previsibilidade de lado em determinados momentos da partida. Foi aí que vimos uma equipe realmente perigosa e envolvente (ainda que precise de ajustes na movimentação ofensiva) a partir das mexidas promovidas por Felipão: Airton e Maurício entraram nos lugares de Régis e Marquinhos Gabriel (respectivamente) e deram mais fluidez ao time. O lance do único gol da partida é prova disso. O camisa 77 sai da esquerda para a direita em diagonal e leva três jogadores do Operário com ele. Ao mesmo tempo, Marcelo Moreno prende dois defensores do Fantasma e abre o espaço que Arthur Caíke atacou para receber o cruzamento e chutar no canto direito de Thiago Braga. A tal “malandragem” para encontrar espaços surgia quando o Cruzeiro foi menos previsível.
Airton parte para a linha de fundo acompanhado por Marcelo Moreno (mais por dentro). Os dois arrastam toda a defesa do Operário e abrem espaços para as chegadas de Maurício e Arthur Caíke atacarem. O Cruzeiro chegou ao seu gol quando foi intenso e deixou de ser previsível nas suas tramas ofensivas. Foto: Reprodução / Premiere
É claro que esse é apenas o primeiro jogo de Luiz Felipe Scolari no comando da Raposa e ainda há muito a ser feito. Como o próprio colocou em entrevista coletiva após a partida no Estádio Germano Krüger, o primeiro objetivo é manter o Cruzeiro na Série B para (aí sim) se pensar num possível acesso. O contexto, no entanto, não é dos melhores. Felipão tem um elenco com pouquíssimas peças de reposição e os jogadores mais “cascudos” não estão dando o devido retorno dentro de campo. A tendência é que a base da vitória sobre o Operário seja mantida para a próxima rodada da Série B com as devidas modificações forçadas por lesões e suspensões. Mas já é possível notar alguns pontos que podem ser mais aproveitados, como a velocidade de Airton pelo lado direito, a boa atuação de Cacá e Ramon na defesa e o bom toque de bola de Maurício no meio-campo.
As próximas partidas serão decisivas para o Cruzeiro. Nesta terça-feira (20), a estrela de Luiz Felipe Scolari falou mais alto e o time conquistou três pontos importantíssimos. Mesmo assim, a vitória sobre o Operário deixou mais dúvidas do que certezas. Certo é que Felipão terá muito trabalho para dar consistência e qualidade ao escrete celeste.
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