Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca os principais momentos do empate movimentado entre as Caçadoras Avaianas e as Cabulosas em partida válida pela décima terceira rodada do Brasileirão Feminino
É bem verdade que as duas equipes em questão aqui ocupam posições bem diferentes na tabela do Brasileirão Feminino. O Avaí/Kindermann (comandado por Jorge Barcellos, ex-técnico da Seleção Brasileira) apresentou uma proposta de jogo consistente e bom toque de bola, justificando a sua presença no G8 da competição. Já o Cruzeiro de Marcelo Frigério (talvez até pela falta de “casca” das suas jogadoras numa primeira divisão do futebol feminino) adotou uma proposta mais reativa de jogo, explorando os contra-ataques e sonhando com uma vaga nas quartas de final. Acabou que as Caçadoras Avaianas abusaram do direito de perder gols e foram castigadas com um empate jogando dentro dos seus domínios, no Estádio Carlos Alberto da Costa Neves, em Caçador. O Avaí/Kindermann esteve com a faca e o queijo na mão, mas acabou vacilando justo quando não podia vacilar.
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Parecia que o gol marcado pela zagueira Simeia logo aos dois minutos de partida fosse mudar a postura das duas equipes. No entanto, o que se via em campo era um Avaí/Kindermann mais propositivo, apostando no toque de bola e nas investidas das suas laterais Camila e Bruna Calderan. A duas abriam o campo e tentavam encontrar espaços na defesa do Cruzeiro que pudessem ser aproveitados por Júlia, Lelê e Catyellen. A estratégia funcionava num primeiro momento, mas a equipe catarinense pecava demais nas tomadas de decisão. Principalmente na hora crucial de qualquer jogo de futebol: a hora de concluir a gol. Já as Cabulosas, mesmo com a desvantagem no placar, se fechavam num 4-4-2 em bloco baixo para tentar roubar a bola e encaixar o passe em profundidade para Mariana Santos ou Micaelly. Só que o time de Marcelo Frigério não conseguia sair do seu campo.
O gol de Simeia deixou o Avaí/Kindermann bem confortável na partida. Tanto que a equipe catarinense não teve receio na hora de ocupar o campo ofensivo. Faltou ter mais calma nas tomadas de decisão diante de um Cruzeiro fechado e sempre perigoso nos contra-ataques. Foto: Reprodução / MyCujoo
O domínio do Avaí/Kindermann sobre o Cruzeiro se dava também pela estratégia escolhida pelo técnico Jorge Barcellos e também pela presença de três volantes de bom cuidado com a bola e fortes na marcação. Enquanto Camila e Bruna Calderan se colocavam um pouco mais à frente, as zagueiras Simeia e Tuani se posicionavam para receber o passe curto da experiente Bárbara e ainda contavam com a colaboração de Zóio, Duda e Paty para qualificar a saída para o campo ofensivo. Sempre que o Cruzeiro apertava a marcação, o passe era dado para uma das laterais. Principalmente Bruna Calderan, que levava vantagem sobre Eskerdinha e não encontrava muitos problemas para avançar ao ataque no primeiro tempo. Até o Cruzeiro acertar a sua marcação, o Avaí/Kindermann foi superior técnica e taticamente na partida. Mesmo com Mariana e Micaelly se desdobrando na frente.
Zagueiras recuam, volantes se aproximam e laterais avançam para receber o passe em profundidade. A equipe do Avaí/Kindermann fazia uma saída de bola limpa e conseguia chegar no campo ofensivo sem muitas dificuldades. Bom jogo coletivo das Caçadoras Avaianas. Foto: Reprodução / MyCujoo
Só que os deuses do velho e rude esporte bretão não costumam lidar muito bem com equipes que desperdiçam oportunidades de gol. Lelê e Catyellen (principalmente a camisa 11) poderiam ter aumentado o placar e até ter garantido a vitória, mas erraram o alvo de maneira incrível. Aos vinte minutos da etapa, Micaelly cobrou pênalti de Karina em cima de Duda. Era o castigo por conta das inúmeras chances perdidas. Do outro lado, Marcelo Frigério acertava a marcação das Cabulosas e sua equipe avançou um pouco a sua marcação de modo a cortar as linhas de passe do seu adversário. Mesmo com mais posse de bola, o Avaí/Kindermann já não encontrava tanta facilidade para chegar ao ataque como encontrou no primeiro tempo. Acabou que o empate fora de casa foi o prêmio dado ao Cruzeiro por ter conseguido se reorganizar taticamente diante de um oponente mais qualificado.
Marcelo Frigerio acertou a marcação do Cruzeiro após o gol de empate e conseguiu travar (um pouco) as subidas do Avaí/Kindermann. O escrete catarinense, por sua vez, já não jogava mais tão à vontade como jogou no primeiro tempo e acabou pagando pelas oportunidades desperdiçadas. Foto: Reprodução / MyCujoo
Este que escreve mencionou a tabela do Brasileirão Feminino no início deste artigo para falar da diferença entre as duas equipes. No entanto, enquanto o Avaí/Kindermann justifica as expectativas em torno do seu elenco e da sua comissão técnica, o Cruzeiro deixa a impressão de que poderia ir mais longe. E aqui fica uma dúvida honesta: ou Marcelo Frigério adota essa postura mais cautelosa por conta da falta de experiência das suas jogadoras ou existe aí um receio de soltar mais as Cabulosas para tentar propor o jogo diante das suas adversárias. Fato é que a equipe mineira iniciou a Série A1 cercada de expectativas. Mas a décima colocação num campeonato de dezesseis equipes é, de certo modo, frustrante. Principalmente quando vemos jogadoras do talento de uma Duda, uma Mariana Santos e (principalmente) de uma Micaelly. Essa última joga o fino da bola.
Faltam duas rodadas para que as equipes classificadas para as quartas de final sejam definidas. E a tendência é vermos o sarrafo sendo colocado lá no alto mais uma vez com duelos que prometem trazer o melhor do futebol feminino brasileiro para nossos gramados. Avaí/Kindermann e Cruzeiro mostraram que podem chegar mais longe. É seguir o trabalho e diminuir os erros cometidos nos jogos.
Vamos ver os melhores momentos de @avaikindermann 1 x 1 @cruzeiro no #BrasileirãoFeminino? Então dá play aí! pic.twitter.com/X6ae91MJaV
— Brasileirão Feminino Neoenergia (@BRFeminino) October 4, 2020
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