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Virada sobre o Santos pode dar ao Palmeiras a confiança que tanto precisa no Brasileirão Feminino; entenda

Luiz Ferreira analisa a vitória das Palestrinas sobre as Sereias da Vila na coluna PAPO TÁTICO

Por Luiz Ferreira em 24/09/2020 19:12 - Atualizado há 4 anos

Fabio Menotti / SE Palmeiras

Luiz Ferreira analisa a vitória das Palestrinas sobre as Sereias da Vila na coluna PAPO TÁTICO

Existem certos resultados que podem mudar o rumo de uma equipe no nosso velho, rude e querido esporte bretão. Não somente pelos pontos somados na tabela ou por causa de uma classificação para fases decisivas de uma determinada competição, mas pela confiança que uma equipe pode adquirir depois de uma vitória importante. Ainda mais se esse resultado positivo acontecer num clássico regional e de virada. É exatamente dessa forma que o triunfo do Palmeiras sobre o Santos deve ser encarado. As Palestrinas mostraram bom jogo coletivo e executaram bem a estratégia do técnico Ricardo Belli para superar a equipe que liderava o Brasileirão Feminino Série A1 não fazia muito tempo. Destaque para as boas atuações de Carla Nunes, Bianca e da goleira Vivi. Além disso, a partida desta quinta-feira (24) também marcou a estreia das Palestrinas no Allianz Parque. Simbólico.

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O Palmeiras começou melhor a partida ao colocar intensidade nas suas transições e empurrar a defesa do Santos para a frente da sua área. Tudo porque Carla Nunes, Rosana e companhia executavam bem os movimentos do 4-2-3-1 de Ricardo Belli. E mais do que isso: toda a equipe Palestrina estava bem organizada dentro de campo. Ary Borges qualificava a saída de bola e o trio de meias se movimentava muito atrás de Carla Nunes que, por sua vez, também aparecia pelos lados do campo e arrastava as defensoras das Sereias da Vila. Faltou, é verdade, um pouco de capricho nas conclusões a gol e no último passe, mas o estilo de jogo do Palmeiras fez com que seu adversário tivesse que se reorganizar logo antes da metade do primeiro tempo. Guilherme Giudice observou bem o problema e redistribuiu melhor sua equipe. Mas o ímpeto das Palestrinas seguia maior.

Carla Nunes se movimentava, Bianca e Rosana se lançavam no espaço vazio e Ary Borges ainda aparecia no ataque. O 4-2-3-1 das Palestrinas aliava intensidade, movimentação e bom jogo coletivo. Destaque para a mobilidade da camisa 10 do Palmeiras. Foto: Reprodução / Twitter / BRFeminino

Isso até o gol das Sereias da Vila (marcado por Larissa em cobrança de pênalti aos 41 minutos da primeira etapa). As comandadas de Guilherme Giudice controlaram a partida (sem se lançar tanto ao ataque) e valorizavam bem a posse da bola diante de um Palmeiras que demorou um pouco para assimilar o golpe e se reencontrar na partida. Isso só aconteceria após o intervalo, com uma pequena mudança na postura das Palestrinas. Ricardo Belli trouxe sua equipe para seu campo e soltou ainda mais o trio ofensivo de modo a explorar as costas da defesa das Sereias da Vila (já que Thaisinha, Ketlen e companhia seguiam dando bastante trabalho na defesa). As linhas compactadas na frente da área e a transição rápida e intensa para o ataque seriam incrivelmente úteis para que as Palestrinas conseguissem construir a virada em cima de uma equipe extremamente qualificada.

A compactação das linhas defensivas e a rápida saída para o contra-ataque são algumas das características do bom time de Ricardo Belli. E além disso, as Palestrinas compraram a ideia do seu treinador e executaram muito bem as transições ofensivas. Foto: Reprodução / Twitter / BRFeminino

Nem é preciso dizer que o contra-ataque do Palmeiras sempre foi um problema para o time do Santos. Ainda mais com Carla Nunes caindo mais pelo lado esquerdo e entrando em diagonal para o chute a gol. Exatamente como aconteceu aos 14 minutos do segundo tempo, quando a camisa 10 recebeu de Bianca, se livrou de Katiele e acertou o ângulo da goleira Michelle. Golaço com a marca da estratégia de Ricardo Belli. Onze minutos depois, Bianca faria o gol da virada num lance que serve bem para mostrar como a estratégia das Palestrinas desarrumou completamente a defesa das Sereias da Vila. A camisa 7 recebe no meio da área com amplo espaço para dominar, levantar a cabeça, escolher o canto e sair para o abraço. E isso sem falar nas duas companheiras de equipe que acompanhavam a jogada (ver no destaque abaixo). É isso que acontece quando o passe longo é usado corretamente.

Bianca recebe no meio da defesa das Sereias da Vila e tem tempo para decidir o que fazer com a bola. O segundo gol das Palestrinas mostra bem como a mudança na postura do time de Ricardo Belli funcionou para desarrumar o time das Sereias da Vila. Foto: Reprodução / Twitter / BRFeminino

Não foi um jogo tão bom no aspecto técnico. Por outro lado, a partida teve todos os ingredientes que um clássico precisa ter. Duas equipes aplicadas na marcação, polêmicas, golaços, lances mais ríspidos e muita vontade de vencer de ambas as partes. Acabou que as Palestrinas tiveram um pouco mais de concentração e força mental para correr atrás do resultado dentro do Allianz Parque. Além disso, a mudança de estratégia pareceu ser a mais correta no final das contas. Enquanto as Sereias da Vila são uma equipe de mais toque de bola e triangulações, as Palestrinas possuem um jogo mais vertical que funciona muito bem quando Bianca, Rosana, Carla Nunes e companhia encontram espaços à sua frente. Todas elas (principalmente a camisa 10) são muito difíceis de serem batidas no um contra um por conta da habilidade com a bola no pé. Boa sacada de Ricardo Belli.

E precisamos falar da polêmica da partida. Ao marcar seu golaço, Carla Nunes mostrou a barriga numa comemoração que fez com que muita gente pensasse se tratar de um protesto pela sua ausência entre as convocadas por Pia Sundhage para a Seleção Feminina. Após o jogo, a própria Carla Nunes afirmou que se tratava de uma homenagem para um dos diretores da equipe, mas que não estava satisfeita com as escolhas da treinadora sueca. Vou pedir licença para parafrasear minha amiga Carla “Índia” Oliveira: quem defende bom preparo físico, defende o esforço; quem defende técnica, defende o talento; e quem defende a junção de tudo, defende que as jogadoras sejam atletas. O nível exigido numa Copa do Mundo e numa Olimpíada é enorme. Não condeno a comemoração. É do jogo. Mas é preciso estar sim em boa forma física para segurar o rojão na Seleção Brasileira.

A vitória deixou o Palmeiras bem próximo dos líderes do Brasileirão Feminino e com amplas condições de ir ainda mais longe. O trabalho de Ricardo Belli vem gerando bons frutos a partir da utilização correta do potencial de cada jogadora dentro de uma estratégia coesa e bem planejada. A competição só tem a ganhar em qualidade com equipes assim.

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