Jair Ventura vem mostrando que é o treinador certo para a realidade do Sport; entenda
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória do Leão sobre o Fluminense e a implementação dos conceitos do treinador na equipe pernambucana
Não é possível analisar futebol sem se observar o contexto. Esse é um dos mandamentos de quem se propõe a dissecar o velho e rude esporte bretão e uma das grandes lições que este que escreve vem aprendendo nesses últimos anos. E a atuação do Sport Recife na vitória por 1 a 0 sobre o Fluminense neste domingo (20) é um bom exemplo disso. Primeiro pela maneira como o Leão Pernambucano vem absorvendo os conceitos de Jair Ventura, jovem treinador com passagens por Botafogo, Santos e Corinthians. E depois pelo contexto em si. Como bem observou Rodrigo Coutinho (jornalista, analista de desempenho e colunista do Yahoo Esportes e do Footure FC), é bem possível que o filho de Jairzinho não fosse somar muita coisa em muitos clubes da Série A do Brasileirão. Por outro lado, Jair Ventura é exatamente o que o Sport precisa dentro da sua realidade.
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É bem verdade que o gol de Hernane Brocador (em pênalti tolo cometido por Egídio em cima de Leandro Barcia) logo aos 13 minutos de jogo deixou todo o cenário favorável ao Sport. Mesmo assim, a equipe pernambucana já colocava em prática alguns dos conceitos bem conhecidos do seu treinador. Fã confesso do Atlético de Madrid e do argentino Diego Simeone, Jair Ventura armou o Leão com as linhas de marcação bem próxima do gol, muita compactação e saída rápida pelas laterais com Patrick e Luciano Juba. Mais à frente, Leandro Barcia acelerava pela direita e Mugni organizava as jogadas como “ponta armador” pelo outro lado. Também foi possível ver o Sport adiantando suas linhas e aplicando uma marcação forte na saída de bola do Fluminense em determinados momentos da partida. Vale destacar aqui a dinâmica colocada pelos volantes Ricardinho e Betinho.
Uma das características do Sport de Jair Ventura é a marcação forte no seu campo. Mas foi possível ver a equipe pernambucana forçando o erro na saída de bola do Fluminense em alguns momentos da partida. Notem como os jogadores fecham os espaços e forçam Nino a recuar a bola para Muriel (fora da foto). Foto: Reprodução / Premiere.
O modelo proposto por Jair Ventura no Sport é bem semelhante ao implementado no mesmo Botafogo que chegou às quartas de final da Libertadores em 2017. Só que tudo está sendo adaptado à realidade do seu novo clube. E essa boa execução desse modelo de jogo começa pelos volantes. Marcão Silva é o volante que fica entre a defesa e o meio-campo (num 4-1-4-1 bem organizado e bem compactado), Ricardinho e Betinho saem à caça dos jogadores adversários e os “pontas” Leandro Barcia e Mugni fecham as laterais. Na prática, é como se Jair Ventura fizesse uma linha de handebol à frente do gol de Luan Polli. E quando um dos laterais (Patrick ou Luciano Juba) saem na perseguição aos atacantes do Fluminense, os volantes fechavam as linhas de passe junto com os atacantes de lado. Tudo para tirar a profundidade do Fluminense e evitar as bolas levantadas na área.
Laterais saindo no encalço dos adversários e recebendo o auxílio de volantes e “pontas” na cobertura. Não é exagero afirmar que Jair Ventura “estacionou um ônibus” na frente da sua área. A marcação do Sport lembrava uma linha defensiva de um time de handebol em alguns momentos da partida. Foto: Reprodução / Premiere.
As ideias de Jair Ventura ficaram ainda mais claras no final da partida, quando o Fluminense saiu para tentar o empate na base do abafa. E é aí que entra a conhecida filosofia do “saber sofrer”. O Sport se fechou mais ainda na frente da sua área, abriu mão da posse de bola e ficou esperando o momento certo de encaixar o contra-ataque que veio na metade do segundo tempo, mas Leandro Barcia (em impedimento) desperdiçou grande passe de Rogério. Quem vê as estatísticas do SofaScore pode pensar que o Fluminense massacrou o Leão pelo grande número de finalizações (19 contra oito do Sport). Só que apenas cinco foram na direção do gol de Luan Polli. Méritos totais da estratégia de Jair Ventura e da sua inspiração num modelo de jogo que deu certo num Botafogo sem tantas estrelas mas que competia demais. Assim como a equipe pernambucana competiu neste domingo (20).
Pontas fechando os lados, laterais fechando as linhas de passe, volantes atentos no combate ao adversário e atacantes prontos para receber o passe em profundidade. Jair Ventura repete o modelo de jogo que deu muito certo no Botafogo para dar mais competitividade ao Sport dentro da realidade do clube. Foto: Reprodução / Premiere.
Começamos essa análise falando de contexto. É bem verdade que o estilo de jogo proposto por Jair Ventura pode não ser o mais agradável ao gosto dos amantes do futebol. Mas ser reativo e pragmático é do jogo. Simples. E dentro da realidade encontrada pelo treinador no clube pernambucano, essa estratégia que vem conseguindo tirar o melhor de cada jogador do elenco do Leão. Já são seis partidas no comando do Sport (com três vitórias, um empate e duas derrotas), sete gols marcados, seis sofridos e a décima posição na tabela do Campeonato Brasileiro. Parece pouco para quem vê apenas a frieza dos números, mas foi suficiente para tirar a equipe pernambucana do sufoco. Resta saber como Jair Ventura vai encaixa Thiago Neves na sua equipe. A tendência é a mudança para o 4-2-3-1 ou com o veterano entrando na vaga de Mugni na manutenção do 4-1-4-1. Mas ainda precisamos aguardar.
Repetimos: é impossível analisar futebol sem observar todo o cenário e todas as questões envolvidas. Pode ser que Jair Ventura ainda necessite de mais “casca” como treinador. Mas seu trabalho à frente do Sport nessas seis partidas já tem uma identidade bem clara e uma maneira de jogar bem de acordo com o elenco que tem à sua disposição.
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