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Independiente del Valle espreme o suco e atropela um Flamengo completamente apático e irreconhecível

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a goleada impiedosa dos comandados de Miguel Ángel Ramírez e os impactos do resultado no trabalho de Domènec Torrent

Por Luiz Ferreira em 18/09/2020 01:33 - Atualizado há 4 anos

Reprodução / Facebook / Conmebol Libertadores

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a goleada impiedosa dos comandados de Miguel Ángel Ramírez e os impactos do resultado no trabalho de Domènec Torrent

O que eu e você vimos na noite desta quinta-feira (17) no Estádio Casablanca, em Quito, foi uma verdadeira aula de transição ofensiva, organização e jogo coletivo por parte do Independiente del Valle. E não se enganem. A goleada por 5 a 0 (CINCUNNN?) saiu barato demais para um Flamengo completamente desconexo, desorganizado e incrivelmente apático. É até difícil saber por onde começar esta análise depois do desastre que se desenhou na capital equatoriana. O que é certo é que o Del Valle espremeu o suco dentro de campo e o Fla não ficou nem com o bagaço da laranja. Tudo baseado no EXCELENTE trabalho de Miguel Ángel Ramírez à frente da equipe equatoriana e (bastante) facilitado pela péssima atuação coletiva do time do Flamengo. Domènec Torrent errou na estratégia e os jogadores pareciam estar em outro mundo. Não teve um que se salvou. E nem havia como.

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Dome montou o Flamengo para esse jogo baseado no estilo de jogo do Independiente del Valle. Por isso, o treinador catalão escolheu a formação com cinco jogadores no meio-campo (Willian Arão, Gerson, Diego, Éverton Ribeiro e Arrascaeta). Na prática, o Fla se fechava num 4-1-4-1 com a marcação mais recuada do que o costume para tentar roubar a bola e aproveitar os espaços que porventura aparecessem às costas dos zagueiros Schunke e Segovia. O que se via, no entanto, era um “bate e volta” constante da bola e uma dificuldade imensa da defesa rubro-negra organizar a sua transição para o ataque. Muito por conta do ótimo posicionamento dos jogadores do Independiente del Valle e da ótima estratégia de Miguel Ángel Ramírez. O Flamengo simplesmente não conseguia sair do seu campo e sofria com a pressão do escrete equatoriano. E isso por um motivo simples.

Para se sair de uma marcação por pressão, você precisa que seus jogadores tenham intensidade e objetividade nas transições. Tudo o que o Fla de Dome não teve nesta quinta-feira (17). Gerson e Arrascaeta saíam à caça dos adversários para tentar fechar as linhas de passe, mas Diego e Gabigol não participavam da pressão. Com isso, o que se via era um “efeito cascata”. Willian Arão abandonava seu posto para fechar o espaço e abria ainda mais o setor, deixando Rodrigo Caio e Léo Pereira completamente expostos. Pellerano, Moisés Caicedo e Faravelli já haviam descoberto o espaço no meio-campo rubro-negro. E quando o time carioca se dava conta, o Del Valle já estava trocando passes na intermediária ofensiva com extrema facilidade. Tudo porque o Flamengo cometeu o pecado imperdoável de não tirar o espaço de um time tão rápido como é o Independiente del Valle.

Domènec Torrent ainda tentou dar sangue novo ao Fla com a entrada de Bruno Henrique e mais uma série de mexidas que não alteraram o panorama da partida. Pior: o treinador catalão não resolveu o principal problema da sua equipe. A primeira linha de marcação (aquela que deveria dar o primeiro combate) seguia completamente frouxa. Gabigol e Éverton Ribeiro parados, Pedro e Michael perdidos, Bruno Henrique correndo sem saber pra onde, Thiago Maia e Willian Arão sobrecarregados… Tudo errado. O erro do Fla não é individual (até porque todos que estiveram em campo tiveram parcela significativa de culpa na goleada). É coletivo. E o Independiente del Valle não fez nada além de aproveitar esses espaços para construir uma goleada acachapante e com lances até bonitos. Destaques para os gols de Preciado, Gabriel Torres e Moisés Caicedo (este no primeiro tempo).

O resultado foi construído em cima de vários aspectos. E os que mais chamaram a atenção foram a apatia e a passividade dos jogadores do Flamengo. Sim, goleadas acontecem vez por outra. Seja por uma noite ruim ou por “coisas que só o futebol pode explicar”. Os culpados já estão sendo caçados nas redes sociais e a torcida rubro-negra está espumando de ódio por conta da pífia atuação desta noite terrível de quinta-feira (17). No entanto, o que ninguém entende é como os jogadores do Flamengo concederam tanto no jogo de hoje. E ainda diante de um adversário que não era desconhecido. Este que escreve já falou da qualidade do Independiente del Valle mais de uma vez aqui mesmo neste espaço. Enquanto isso, Miguel Ángel Ramírez rodava o time sem que ele perdesse a intensidade. E com o Fla já entregue, só restava espremer o suco, matar a sede e jogar o bagaço no lixo.

Não há sistema ou estratégia de jogo que se sustente diante de tanta apatia. E vale lembrar que o futebol é um ESPORTE COLETIVO. Não há como se cobrar apenas o treinador. E aí é que entramos na parte da gestão. Mais do que nunca, os dirigentes do Flamengo precisam identificar o problema e resolvê-lo o quanto antes. Domènec não perdeu gols feitos como Gabigol perdeu nos jogos contra o Ceará. Também não desistiu da jogada e deixou Preciado ter tempo para ajeitar o corpo e acertar o ângulo de César como Gerson e Willian Arão fizeram. Também não cometeu erros de passe no ataque como Isla, Éverton Ribeiro e Arrascaeta. Dome tem sua parcela de culpa sim. Mas quando se fala em gestão, espera-se que os dirigentes estabeleçam processos e cobrem quem deve ser cobrado. E cobrar o treinador é coisa mais fácil do mundo. Qualquer time faz. Há coisas que o treinador não controla.

Miguel Ángel Ramírez trabalha num contexto completamente diferente dos grandes clubes brasileiros. Não há pressão externa e o espanhol tem todo o tempo do mundo para implementar seus conceitos. Vale lembrar que ele permaneceu um ano nas categorias de base do Independiente del Valle antes de ser promovido para o time principal. Será mesmo que você imagina isso acontecendo em alguma equipe daqui do nosso país? Com toda a pressão de torcida a cada três resultados ruins? Domènec Torrent vem provando o suco gosto amargo da pressão e do estresse que é comandar um time do tamanho do Flamengo. Mas é preciso voltar no problema da gestão: será que os dirigentes não sabiam que haveria um choque de filosofias depois da saída de Jorge Jesus para o Benfica e que os jogadores sentiriam a mudança? Futebol é um processo, minha gente. Não existe apenas um único culpado.

Domènec Torrent tem sim boa parcela de culpa pela goleada e pela fase do Fla. Mas é preciso lembrar que futebol é contexto. Não existe mais espaço para apatia e passividade no futebol dos nossos tempos. Intensidade, comprometimento e força mental são inegociáveis. Ainda mais numa Copa Libertadores da América.

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