Cadê as mulheres da F1? Repórter na cobertura diária analisa pouca presença feminina
No dia a dia do automobilismo, Julianne Cerasoli foi a entrevistada no podcast do Papo de Mina e falou sobre machismo e o motivo das poucas mulheres na F1
No dia a dia do automobilismo, Julianne Cerasoli foi a entrevistada no podcast do Papo de Mina e falou sobre machismo e o motivo das poucas mulheres na F1
Por Lívia Camillo e Ana Cichon, do Papo de Mina
“Para quebrar qualquer barreira, você precisa que alguém vá lá e desbrave”. Foi assim que Julianne iniciou a entrevista para o podcast do Papo de Mina “Cadê as mulheres da F1?”. Mas, para ela, não ter visto outras mulheres na cobertura diária do automobilismo não foi motivo para não se enxergar naquela função. Com apoio da família e uma determinação de “fora da curva” [com o perdão da piada], ela realizou o sonho de criança: reportar os GPs ao redor do mundo.
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Apesar de constar nos regulamentos que a categoria de automobilismo é mista, praticamente não existem mulheres na Fórmula 1. Tanto dentro quanto fora das pistas, o ambiente se mostra hostil para o gênero feminino. E foi em meio a este terreno arenoso que Julianne precisou ‘fincar os pés’ para ganhar credibilidade. Desde então, são onze anos no paddock.
“Quando cheguei na F1 foi quando senti o baque. Acho que foi quando saí da minha bolha, onde eu achava que podia fazer o que bem entendesse. Mas cheguei na F1 e fui tratada como a ‘carne nova’ do pedaço”, contou a repórter do UOL e da Rádio Bandeirantes ao Papo de Mina.
“Eu me lembro muito bem que foi muito dolorido para mim, inclusive ao ver pessoas que eu tinha como referência, ex-pilotos e pessoas importantes, me tratando como se apenas vissem uma mulher…Uma menina que eles poderiam dar em cima ou alguma coisa assim. Foi a primeira vez, muito por ingenuidade minha, que veio muito forte um pensamento ‘talvez aqui não seja o seu lugar’, mas ao mesmo tempo acho que foi tarde demais. Aquilo só me deu estímulo para continuar”, acrescentou.
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Cadê as mulheres da F1?
Se hoje é possível ver mulheres em posição de chefia e atuando nos bastidores da categoria, é preciso fazer um esforço para “caçar” as peças na cobertura do dia a dia. Se este crescimento tem sido lento fora das pistas, dentro delas então será preciso ter muita paciência. A última representante feminina nos carros foi Giovanna Amati, em 1992.
“O que aumentou foi a presença de mulheres na cobertura de TV. Os produtores perceberam que ‘vende’ você colocar uma mulher falando de Fórmula 1 na imagem. É claro que, sabendo disso, as mulheres, que gostam e são jornalistas, acabam indo mais por este caminho. É um caminho menos difícil, não vou dizer mais fácil. Em termos de engenharia, por exemplo, eu não vejo tanto crescimento assim, ou este crescimento tem sido bem mais devagar”, disse Julianne.
O fim das ‘grid girls’
Em 2018, a Liberty Media, proprietária da Fórmula 1 desde 2016, tomou uma decisão acabar com as ‘grid girls’, uma das tradições conhecidas do esporte. Com roupas coladas, sempre com um padrão de beleza, elas ficavam ao lado dos carros, seja com as plaquinhas ou guarda-sóis, como uma espécie de “acessório humano”.
“Se você é uma menina assistindo F1, e você só se vê representada como aquela modelo que tá segurando um guarda-sol, vai pensar: ‘Isso aqui eu não quero fazer da minha vida, eu quero fazer uma coisa muito melhor’. É muito mais inspirador, para uma menina, olhar e ver que uma engenheira ganhou uma corrida com uma equipe. É muito importante ter deixado de ser ‘grid girl’ para ser Stephanie Travers”, afirmou.
As mulheres chegam ao pódio também
Quando Stephanie Travers foi para o banho de champanhe ao lado de Lewis Hamilton no GP da Estíria, a história estava sendo escrita. Além de carregar o peso de uma importante função na Petronas, petrolífera e parceira da Mercedes, Stephanie, sendo mulher, preta e engenheira responsável pela qualidade do combustível do carro de Hamilton, mostrou que era tão vitoriosa e merecedora daquele pódio quanto um piloto.
“Essa foi uma grande sacada da Mercedes, de colocar duas mulheres no pódio em corridas seguidas, uma branca e uma negra, que tem por trás esse lance de as meninas olharem e se verem representadas de um jeito vencedor, na melhor equipe e recebendo um troféu. Isso é importante para entrar no imaginário das meninas, que ela podem estar lá também”, disse Cerasoli. “É esse negócio de ter alguém lá dando a cara a bater e abrindo portas para todas as outras”, acrescentou.