Home Games The Last of Us 2 é um dos jogos mais importantes da história, você querendo ou não

The Last of Us 2 é um dos jogos mais importantes da história, você querendo ou não

Carlos Alberto Jr
Colaborador do Torcedores.com.

Desenvolvedores da Naughty Dog recriam o mundo distópico de The Last of Us esperando “normalizar o que é normal” através da representação queer de personagens centrais no game

[Texto contém SPOILERS dos dois jogos e DLC da franquia]

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O que significa ser representado? Não é apenas ver seu próprio rosto ou desejos em uma tela – sendo dito, implicitamente, que há valor em sua história. Representação é sobre quem faz essas representações, e na industria do entretenimento, quem lucra com elas. Todos nós – não devemos simplesmente ser vistos, mas também entendidos. Nos videogames, como em todas as mídias que cresceram e distorceram nossa cultura de preconceito, pode ser difícil encontrar uma representação verdadeira.

Em The Last of Us 2, a sequência do aclamado game de 2013, que foi lançado há pouco menos de um mês, já é um dos lançamentos de jogos de maior sucesso comercial de todos os tempos. É também um jogo em que a protagonista, Ellie, é lésbica, e dois dos maiores personagens coadjuvantes são queers: Dina, uma mulher bissexual, e Lev, um adolescente trans. A esse respeito, The Last of Us 2 é nada menos do que inovador, oferecendo o tipo de representação queer visível que é difícil de ser encontrada até mesmo em blockbusters do cinema.

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Apesar disso, The Last of Us 2 não é um jogo sobre a sexualidade de Ellie, ou sobre qualquer pessoa, realmente; é uma história de vingança sombria, violenta e reflexiva, que frequentemente faz você questionar o que está fazendo como jogador. Mas a sexualidade de Ellie é um fato de quem ela é. Percorremos grande parte do jogo com sua namorada Dina, vemos a experiência dela com a homofobia e conversamos embaraçosamente com as pessoas que se preocupam com ela.

A professora de desenvolvimento de jogos digitais para crianças Giovana – sobrenome que não pode identificar, de 23 anos, conta que a que o fato de Ellie ser lésbica, viver uma aventura com a namorada e que o relacionamento delas não ser o motivo central dos conflitos do game é importante em mostrar que a vida de pessoas LGBTQ+ não são pautadas exclusivamente por sua sexualidade.

“Eu sei que existem muitos filmes e narrativas sobre a comunidade LGBTQ+. Sei que essas obras são muito importantes porque mostram a realidade das pessoas da comunidade, de como o preconceito e o sofrimento torna nossas vidas muito mais difíceis. Mas acontece que em pleno 2020 eu já estava ficando muito cansada de ver filmes com temática LGBTQ+ somente com essa narrativa, que sempre retrata nossa realidade como apenas e exclusivamente feita de sofrimentos e culpa. E não é assim. Então, pra mim, o ponto mais importante sobre a representatividade desse jogo é pelo fato deles apresentarem a sexualidade da personagem principal apenas como um detalhe na vida dela. A narrativa não é sobre o sofrimento por causa da sexualidade. Porque quando você está assistindo qualquer filme padrão, a heterossexualidade dos personagens não é o tema principal da história. Então o que mais me agradou nesse jogo foi ver isso, uma narrativa sobre uma aventura no apocalipse tendo como personagem principal uma menina lésbica vivendo essa aventura”, explicou.

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Representatividade nos games

Geralmente, em videogames, se um personagem é gay, é porque você escolheu que ele fosse assim. Os jogos de dramatização há muito tempo apresentam romance, e alguns desenvolvedores se orgulham de oferecer aos jogadores opções irrestritas; No jogo de fantasia Dragon Age 2, da BioWare, lançado em 2011, os personagens de todos os sexos são “sexuais como o jogador” e podem ter o mesmo prazer em retribuir. Mas muitas vezes não há muito peso para esta versão do queerness no jogo. Suas escolhas românticas nunca afetam como um personagem se move pelo mundo ou como os outros reagem a ele. Muitas vezes, sua escolha de parceiro romântico parece pouco mais consequente do que sua escolha da arma favorita. Apesar de uma história de representação gay que remonta décadas – o casamento gay já era comum em The Sims muito antes dos países no mundo real – os jogos raramente têm muito a dizer sobre como é ser LGBTQ+ na vida real.

Mas vamos ser justos, representatividade percorreu um longo caminho nos jogos nos últimos anos. Vimos mais personagens femininas, mais diversidade racial e uma explosão de histórias sobre relacionamentos e identidade, do drama adolescente sobrenatural Life Is Strange à ao jogo de animação Night in the Woods. Personagens e histórias queer estão começando a ocupar o centro do palco nos games: no final deste ano, Tell Me Why, do estúdio francês Dontnod, se tornará o primeiro jogo com um personagem principal trans. E, assim como no cinema e na TV, é especialmente significativo para os jovens se verem representados na tela.

The Last of Us: Left Behind

Voltando a franquia The Last of Us, em 2014, o game lançado no ano anterior ganhou uma DLC chamada The Last of Us: Left Behind, que levou os jogadores de volta ao primeiro romance de Ellie com sua melhor amiga adolescente, Riley. É uma história sincera e comovente sobre um primeiro amor no fim do mundo, acompanhando as meninas em uma excursão irresistivelmente perigosa por um shopping abandonado que, infelizmente, acaba por não estar livre dos infectados. Estava na hora de jogarmos da perspectiva de uma adolescente, e a primeira vez que vi a dinâmica intensa, engraçada e às vezes confusa de uma primeira paixão da perspectiva feminina.

A irá do gamer

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No DLC citado acima, Ellie dá um tímido beijo em Riley, como no filme Meu Primeiro Amor – só que em um mundo pós-apocalíptico – e isso, por mais singelo que pareceu, despertou a irá da comunidade gamer que se sentiu enganada por uma personagem querida ser lésbica. O que muitos não esperavam é que esse traço da personalidade de Ellie ia ser explicitado na continuação do game, que foi talvez, a melhor e mais corajosa decisão tomada pela direção do game.

Acompanhando comentários, vídeos e reviews negativos sobre The Last of Us 2, a desculpa é sempre a mesma: o jogo forçou na “lacração” e esqueceu a história ou qualquer outro comentário envolvendo a morte de Joel, um personagem cujo o arco narrativo já havia sido concluído no fim do primeiro game. Reclamação por conta de Abby ser uma mulher fora dos padrões e Lev (muita gente nem entendeu que se tratava de um personagem trans).

Conhecendo a comunidade gamer, a mensagem do jogo sobre o ciclo do ódio, e até mesmo a forma cruel e passiva como Joel – o herói hétero – morreu, além de uma função narrativa, pode ser encarado como um recado para grande parte do público conhecido por ser extremamente preconceituoso. Eles podem até chorar, mas não vão parar o progresso.

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