Barbosa sofreu preconceito e carregou culpa por derrota em 1950 até o fim da vida: “não sou um criminoso”
Goleiro morreu em 2000, 50 anos após vice-campeonato mundial
Goleiro morreu em 2000, 50 anos após vice-campeonato mundial
O ex-goleiro Barbosa, ídolo do Vasco e absoluto na Seleção Brasileira na década de 40, pagou até o fim da vida pela derrota do Brasil por 2 a 1 para o Uruguai na Copa do Mundo de 1950.
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O ex-atleta morreu em 2000, quase 50 anos após a partida que ficou conhecida como ‘Maranazzo’, mas nunca teve a paz desejada.
Em entrevista à TV Cultura em 1994, Barbosa, que preferiu deixar o Rio de Janeiro em 1993 após perceber que não deixaria de ser condenado, para morar em Santos, disse que nunca deixou de sofrer ou ser provocado pelo gol sofrido por Alcides Ghiggia, o segundo do Uruguai.
“Às vezes sim (tratam como culpado). Há pouco tempo estava em um bar que frequento e um cara veio e falou: ‘ah, mas em 1950…’ E eu disse: ‘meu filho, acabou a conversa aí.’ Eu reportei a ele: as leis de condenação aqui no Brasil, a maior de todas é de 30 anos, 30 anos que o sujeito tem que cumprir. Estamos com 44 e eu acho que já paguei 14 anos a mais. Não tenho razão para discutir, nem dar explicação. Por que eu vou dar explicação? Não sou um criminoso vulgar”, disse Barbosa, já em Santos na época da entrevista.
“Não vou dar explicação, me cobrar uma coisas depois de 44 anos. Não tem direito a isso. Prefiro me calar. Não vou retornar aquilo que já passou. (Então) acho que sim (cumpri anos de condenação). Falam até hoje (1994), foi mais de 30, são 44 anos, acho que tenho o direito de pelo menos dormir tranquilo.”
Barbosa ainda se sentiu incomodado em rememorar tantas vezes a Copa do Mundo de 1950, mesmo que não se sentisse culpado.
“Não gosto de falar, nem de comentar isso (a final). Por essa razão, pela falta de respeito ao jogador. Ser vice-campeão do mundo não vale nada no Brasil, em outros países vale. Aqui não vale nada. Ser vice-campeão do mundo não tem valor.”
O ídolo do Vasco, campeão da Copa América com o Brasil em 1949, hexacampeão carioca com o Cruz-Maltino e campeão do Torneio Sul-Americano de 1948, considerada a predecessora da Libertadores, disse que nunca viu uma tristeza tão grande como em 16 de julho de 1950.
Barbosa, porém, fez questão de explica o lance do gol de Ghiggia e deixar claro que jamais falhou como disseram.
“Quando ele (Ghiggia) percebeu que alguém chegava, que eu tinha saído para cortar o centro (do gol), ele chutou para desencargo de consciência. Ele foi esperto e tentou uma coisa impossível que deu certo. Ele pensou errado e deu certo, eu pensei certo e deu errado”, admitiu o ex-goleiro.
“Talvez nunca se houve, ao menos eu como vivente, um silêncio maior que aquele que eu vi. Foram 200 mil pessoas em silêncio. Nem se morresse um presidente teria tudo aqui. Eu senti na carne. Todo mundo só acordou no outro dia com o pesadelo. É uma frustração muito grande pensar em tudo o que tinha pela frente e de repente ruir em 90 minutos. Todos os sonhos, o pensamento de ser campeão do mundo. A única coisa que faltava na carreira, o ápice, pesa na balança.”
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