Caso o Santos fosse prejudicado pela arbitragem e ficasse sem o título, torcida do Peixe pretendia incendiar o estádio; entenda
Ao entrar no Memorial das Conquistas, localizado no estádio Urbano Caldeira, a famosa Vila Belmiro, o visitante logo se depara com um grande painel onde estão relacionados os muitos títulos do Santos em seus 108 anos de história, um dos clubes mais vitoriosos e conhecidos do mundo.
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Fundado em 14 de abril de 1912 por três esportistas que entendiam que a cidade do litoral (já economicamente forte por causa do porto e das exportações) precisava de um representante no Campeonato Paulista de Futebol, criado dez anos antes, o Alvinegro Praiano conquistou seu primeiro título na chamada era amadora do esporte, quando ainda tinha o nome de Santos Foot-Ball Club.
Em dezembro do ano seguinte, a equipe sagrou-se campeã invicta do Campeonato Santista ao golear pelo placar de 7 x 0 o Clube Atlético Santista, após seis vitórias em seis partidas, com 35 gols marcados e somente sete sofridos.
Já o primeiro título importante e oficial foi conquistado pouco mais de duas décadas depois, no domingo dia 17 de novembro de 1935, no estádio Alfredo Schuring, conhecido popularmente por Parque São Jorge. O Santos superou o rival Corinthians por 2 x 0, com gols de Raul Guedes e Araken Patusca, e foi campeão paulista daquele ano, iniciando uma série de 22 troféus estaduais presentes em sua galeria.
O time treinado por Virgílio Pinto de Oliveira, apelidado de “Bilu” ou “Rei do Carrinho” (por conta de seu modo de jogar quando era zagueiro do Santos), entrou em campo 12 vezes no torneio disputado em sistema de pontos corridos e turno único, somando nove vitórias, dois empates e apenas uma derrota, assinalando 32 gols e sofrendo 12, com saldo positivo de 20 tentos.
Um bom número de torcedores do Peixe subiu a serra do mar para acompanhar o último e decisivo confronto no Parque São Jorge e, segundo Guilherme Guarche, coordenador do Centro de Memória do Santos, o jogador santista Mário Pereira teria dito em entrevista que a torcida pretendia incendiar o estádio corintiano caso a equipe da Vila Belmiro fosse mais uma vez prejudicada pela arbitragem, como havia acontecido na final da competição em 1927.
Ainda de acordo com Guarche, em texto publicado no site oficial do Santos, a pedido do então presidente do clube, Carlos de Barros, estivadores do porto colocaram galões de gasolina a bordo dos vagões do trem que conduziu os torcedores santistas para a capital do estado. Se perdessem o título por culpa do árbitro Heitor Marcelino, eles ateariam fogo nas arquibancadas de madeira do estádio. Mas com atuação brilhante, os visitantes venceram com propriedade por 2 x 0 e foram campeões paulistas pela primeira vez no território do maior rival.
Corinthians 0 x 2 Santos
Campeonato Paulista de 1935
Data e local do jogo: 17 de novembro de 1935, no estádio Alfredo Schuring, o Parque São Jorge, em São Paulo
Corinthians: José, Jahú e Carlos; Brito, Brandão e Munhoz; Teixeira, Carlito e Teleco; Alberto e De Maria; treinador: José Foquer
Santos: Cyro, Neves e Agostinho; Ferreira, Marteletti e Jango; Sacy, Mário Pereira e Raul Guedes; Araken Patusca e Junqueirinha; treinador: Virgílio Pinto de Oliveira, o “Bilu”
Gols: Raul Guedes (aos 36 minutos do primeiro tempo) e Araken Patusca (17 minutos do segundo tempo)
Árbitro: Heitor Marcelino Domingues