A posse constante da bola é algo muito em comum entre a seleção de Parreira e a Espanha de Del Bosque
A seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1994 nos Estados Unidos, treinada por Carlos Alberto Parreira, pode não ter sido exuberante aos olhos dos amantes do futebol, sendo que normalmente vencia pelo placar mínimo e era, talvez, pouco convincente. Mas revelou, há mais de 25 anos, um novo jeito de pensar e de jogar futebol.
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Parreira era um estudioso do esporte e conhecia a fundo a seleção brasileira. Havia trabalhado como auxiliar de Zagallo na campanha do tricampeonato em 1970, no México, além de ter acompanhado toda a evolução e as guinadas de percurso do futebol em nível internacional.
Em 1994, o então treinador tinha a missão de recuperar o prestígio do “país do futebol” que estava há 24 anos sem conquistar a Copa do Mundo. E, para isso, precisava fazer algo diferente de tudo o que havia sido feito desde junho de 1970. Vicente Del Bosque vivia situação parecida 16 anos depois. Sua seleção espanhola estava finalmente no centro das atenções ao levantar o troféu da Eurocopa de 2008.
Del Bosque, ao contrário de Parreira, foi jogador da própria seleção da Espanha nas décadas de 70 e 80. Sisudo, concentrado e firme, também tinha de fazer algo diferente para fazer a “Fúria” se tornar campeã mundial pela primeira vez. E o futebol da força física, que tanto caracterizou o estilo de jogo de seu país na história das Copas, foi finalmente substituído pelo toque de bola. E essa é a notável semelhança entre as duas seleções campeãs mundiais de 1994 e 2010: o controle total do jogo.
O conceito em comum: a posse constante da bola
Dunga era o “cão de guarda” da defesa e que sabia conduzir a bola. Mazinho e Zinho saíam do meio para a frente carregando-a e esperando pelas investidas dos laterais Jorginho e Branco. Leonardo ou Raí, quando estavam em campo, se deslocavam de um lado para o outro até encontrar algum espaço para deixar Romário ou Bebeto em condições de fazer o gol ou servir um ao outro.
O time vencia, com placares magros, é verdade, mas qual a importância disso se a sólida defesa formada por Aldair, Ricardo Rocha, Mauro Silva e Tafarell raramente tomava gols? Ademais, eram apenas sete partidas em 30 dias para se chegar ao título. O elenco de Parreira não tinha, claro, os mesmos talentos individuais que o time de Del Bosque. Porém, de algum modo, a fórmula de manter quase que integralmente a posse de bola já estava sendo consagrada pelo time que seria tetracampeão nos Estados Unidos.
Del Bosque tinha a disposição técnica muito mais apurada. Seu time trocava passes incansavelmente, de pé em pé, com a aproximação dos atletas em todos os setores do campo, mesmo dos zagueiros quando o meio avançava em direção ao ataque. Os jogadores da Espanha eram, digamos, mais “generosos” e mais “solidários” no sentido de servir ao companheiro, o que tornava o jogo mais fluente e, consequentemente, mais bonito de se ver.
A Espanha de 2010 era rápida, envolvente e bastante paciente (neste último quesito, como era também o Brasil de 1994), cometia pouquíssimos erros em sua maneira de jogar que, basicamente, era a mesma que Parreira concebeu duas décadas antes. O Brasil não tomava gols porque, além do alto nível dos jogadores de defesa, o time era treinado para permanecer com a bola e, sendo assim, impedir o adversário de atacar.
Os números entre as duas seleções são muito próximos
As estatísticas mostram que a posse de bola do time espanhol era algo arrasador: chegou a 62% em média por partida durante o Mundial da África. E 90% em média de acerto nos passes. Na partida contra a Suíça, alcançou 72% de posse de bola e 93% de passes acertados. E voltam então as semelhanças entre as duas seleções: o Brasil de Mazinho e Zinho teve, em média, 60% de posse de bola por partida e 86% de acerto nos passes. Ou seja, números muito próximos aos da seleção espanhola de Xavi e Iniesta.
O desenho tático da Espanha foi também outra semelhança com a seleção brasileira campeã 16 anos antes. Ambos os times jogavam com e sem a bola, impunham forte marcação ao adversário e lutavam para retomá-la e permanecer com ela. É claro que os espanhóis, mais técnicos e desempenhando mais de uma função e de uma posição dentro de campo, deixavam o jogo mais organizado e sem deixar buracos para possíveis contra-ataques.
No entanto, a seleção de Parreira foi mais ofensiva que o chamado “tiki-taka” de Del Bosque: o Brasil de 1994 fez 11 gols e a Espanha de 2010 só marcou 8 vezes, o que mais uma vez sugere a importância e a semelhança no que diz respeito à constante posse da bola.
Vale lembrar mais algo em comum: se o Brasil de Parreira foi campeão na primeira Copa decidida nos pênaltis, a Espanha fez o gol do título em 2010 somente aos 26 minutos da prorrogação. Ou seja, com conceitos bastante parecidos, o Brasil de 1994 foi vencedor nos Estados Unidos, o que não significa necessariamente que foi melhor ou jogou mais bonito que a Espanha de 2010, na África.