Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, recebe um hospital de campanha para ajudar no combate ao novo coronavírus
O seu, o meu, o nosso Pacaembu está no grupo de risco do Covid-19. Em abril agora completa 80 anos de muitas vidas com muitas camisas. Agora ele não é mais dos cidadãos. É da empresa Allegra Pacaembu que se espera que cuide direitinho do mais lindo estádio de espírito paulista. Quem sabe brasileiro.
Refazendo novo prédio onde estava o tobogã desde 1969 e onde já foi a concha acústica desde 1940. Quando a gente puder voltar a pensar em ter gente no estádio, teremos um novo campo dos sonhos. Hoje, apenas pesadelos.
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Embora poucas vezes se viu tanta vida e esperança como agora. Esta é a imagem vista do céu do Pacaembu, como se viu na FOLHA deste domingo. Pode parecer o inferno. Infelizmente, para alguns poderá ser. Mas para mim e para muitos, ainda que dolorida, é mais uma mensagem de vida. De um estádio abraçando o público como se estivesse em casa. Como se fosse o mais privado lar. Hoje nos dias de privações e provações inimagináveis, 200 leitos serão entregues em tabelinha com prefeitura e Albert Einstein.
Aqui milhares deram abraços em quem não conheciam. Hoje não podemos dar em quem amamos. Aqui gritamos alto agarrados no alambrado. Hoje nem tocar nele podemos. Aqui demos as mãos, às vezes até saímos na mão. Sem álcool e nem gel. Sem cabeça como se não pensássemos nas consequências. Sem coração de tanto bater descompassado o nosso.
O Pacaembu é nosso, mesmo não sendo. O Pacaembu será deles. E nunca será tão nosso. Aos timaços que agora vão entrar nesse Pacaembu como se fossem Oberdan, Leônidas, Cláudio, Domingos, Sastre, Fiúme, Mauro, Lima, Bauer, Luizinho, Jair Rosa Pinto, Baltazar, Djalma Santos, Julinho, Belangero, Nena, Humberto, Brandãozinho, Gilmar, Pinga, Rodrigues, Zito, Rubens, Orlando, Zizinho, Zequinha, Canhoteiro, Pepe, Mazola, Pelé, Chinesinho, Pagão, Bellini, Coutinho, Vavá, Mengálvio, Dino Sani, Calvet, Geraldo Scotto, Almir, Servílio, Dias, Ademir da Guia, Rivellino, Dida, Dudu, Didi, Garrincha, Ivair, Djalma Dias, Clodoaldo, Leivinha, Edu, Carlos Alberto, Gérson, Rildo, César, Toninho Guerreiro, Pedro Rocha, Ramos Delgado, Leão, Zé Maria, Cejas, Luís Pereira, Marinho Peres, Dicá, Basílio, Muricy, Wladimir, Valdir Peres, Enéas, Jair da Costa, Serginho Chulapa, Sócrates, Amaral, Jorge Mendonça, Zé Sérgio, Palhinha, Dario Pereyra, Carlos, Renato, Careca, João Paulo, Juari, Zenon, Pita, Mário Sérgio, Oscar, Jorginho, Casagrande, Pedrinho, Vagner Bacharel, Daniel González, Paulo Isidoro, Batista, Reinaldo, Édson, Júlio César, Silas, Edu Marangon, Falcão, Ricardo Rocha, Muller, Edu Manga, Neto, Zetti, Raí, Roberto Dinamite, César Sampaio, Ronaldo, Evair, Viola, Marcelo, João Paulo, Velloso, Antonio Carlos, Mauro Silva, Márcio Santos, Cafu, Dener, Leonardo, Djalminha, Válber, Toninho Cerezo, Mazinho, Rogério Ceni, Paulo Sérgio, Palhinha, Zinho, Edmundo, Rivaldo, Euller, Edilson, Roberto Carlos, Marcelinho Carioca, Souza, Edmilson, Giovanni, Zé Roberto, Rincón, Marques, Denilson, Juninho Paulista, Roque Jr, Rodrigo, Júnior, Serginho, Luizão, Amoroso, Dodô, Marcos, Gamarra, França, Vampeta, Kléber, Luís Fabiano, Carlos Germano, Ricardinho, Arce, Júlio Baptista, Paulo Nunes, Alex, Dida, Oséas, Fábio Luciano, Valdo, Renato, Gil, Kaká, Elano, Deivid, Robinho, Liedson, Diego, Lugano, Alex, Fábio Costa, Mineiro, Léo, Miranda, Fagner, Danilo, Cicinho, Ricardo Oliveira, Grafite, Jô, Tévez, Hernanes, Nilmar, Mascherano, Roger, Valdivia, Diego Souza, Adriano, Elias, Douglas, Ronaldo, Ganso, Dagoberto, Willian, Edu Dracena, Rafael, Neymar, Cássio, Marcos Assunção, Marquinhos, Alessandro, Lúcio, Ralf, Paulinho, Sheik, Arouca, Prass, Fábio Santos, Danilo, Guerrero, Dudu, Renato Augusto, Jadson, Casemiro, Pato, Lucas Moura, Gabriel Barbosa, Felipe Melo, Gabriel Jesus, Gómez, Bruno Henrique.
Muito obrigado, doutores e enfermeiros. Vocês são craques. Todos torceremos por vocês como se fossem todos esses que desfilaram por aqui.
Mas agora quero lembrar o que escrevi há quase 7 anos. Um dos melhores momentos nesse lindo estádio de espírito. O texto que publiquei à época no LANCE! Quando o Palmeiras venceu o Libertad por 1 a 0, na Libertadores de 2013.
Uma das maiores vitórias de um dos menores times do Palmeiras. Mas um dos mais verdes times que já vi em 40 anos de Palmeiras e de Pacaembu. De Porcoembu.
O Palmeiras ainda está longe de ser campeão. Mas não está distante de voltar a ser Palmeiras.
Uma das maiores celebrações que senti apenas por uma classificação para a próxima fase que poucos esperavam pela fragilidade de elenco limitado em qualidade e quantidade. Sem quatro titulares. Sem quatro atletas não inscritos. Sem 11 disponíveis. Sem grande qualidade técnica. Sem notável organização tática – natural para um time que precisa mudar a cada jogo.
Mas com uma torcida que jogou no 35.000-4-2-3-1. Por vezes um 35.000-4-1-4-1. No início, um 35.000-4-4-2. Com a infantil expulsão de Wesley, aos 16 do segundo tempo, um 35.010-0-0. Ou muito melhor: Os 16 milhões de palmeirenses tirando com os pés de Prass um gol certo do bom e catimbeiro time paraguaio, aos 31 finais. Quando milhares cantando o Hino verde no meio da pressão paraguaia oravam por milhões vigilantes pelo mundo.
Com a confiança que o imenso espírito de porco, periquito e Palestra que permeou o Pacaembu na quinta-feira de resgate do torcedor. O Palmeiras não passou apenas de fase. Fez um ritual de passagem para um lugar que parecia perdido no coração, na cabeça, na memória.
O Palmeiras passou ao passado. Voltou ao futuro. Deu um presente ao torcedor que deu ao time limitado vida. Velocidade com Vinicius – o nome do jogo, quem diria. Vitalidade com Mauricio Ramos – que partida. Vida com uma equipe que se doou. Se doeu. Deixou de ser danada e acendeu uma vela na escuridão dos últimos tempos do Palestra.
O time que perdeu um gol fácil com Juninho por que ele é lateral, não centroavante, a um minuto do segundo tempo. Que quase fez um gol de calcanhar com Marcelo Oliveira que não é artilheiro, aos três. Que quase fez outro com Márcio Araújo que não é de frente, aos quatro. Que fez um gol de sorte num chute torto de Wesley com desvio para o pé ruim de Charles, aos oito do segundo tempo.
O Charles Anjo 28, sugere o colega Alexandre Petillo. O Charles do gol que o Calabar, o Cecchini, o Zuccari, o Alemão, o Paulo Sapo e tantos chutaram junto. Junto com a zica.
Sorte que o Palmeiras não sabia o que era desde quando fazia as coisas direito. Sorte de cada palmeirense que ficou com lágrimas nos olhos. Ou molhando o teclado. Não vou contar quem fui.
Desde a derrota para o Goiás, na Sul-Americana, no Pacaembu, em 2010, o que se via era o palmeirense macambúzio. Com aquela sensação de que daria tudo errado. E dava. E não dava mais para nada.
Quando Wesley foi expulso, quando o time mais estruturado, mais entrosado, menos desfalcado do Libertad veio pra frente, pra cima do Palmeiras, não houve mais aquela sensação de que vai dar tudo errado dos últimos anos. De que não tem mais jeito. De que não tem mais Palestra.
A emoção que o palmeirense viveu foi de felicidade. Não de tensão. Ele sabia que, desta vez, a bola deles não iria entrar mesmo com a pressão. Não teria gol de Vagner Love para rebaixar o time no final. Não teria gol no fim do Fred para dar título brasileiro ao rival. Não teria os adversários ficando até com dó de zoar. Não teria mais depressão.
Tinha Palmeiras com um time limitado sendo defendido por uma paixão ilimitada. Tinha Palmeiras em noite de Pacaembu e Palestra.
A mesma emoção que senti há 40 anos quando vim a este estádio pela primeira vez com meu pai sinto agora na primeira grande vitória sem meu pai ao meu lado. Era hoje o jogo para ligar berrando para ele na hora do gol que José Silvério narrou ao meu lado, na transmissão na cabine da Rádio Bandeirantes. Era o jogo para mandar torpedo para meus filhos com um G e 1993 letras O na hora do gol.
Mas a transmissão em HD no Pacaembu trava o sinal do celular. A minha operadora opera mal nesta região. Torpedo e whatsApp não funcionam com a rede wi-fi bugada.
Eu não tinha como me conectar com minha noiva com quem me caso daqui um mês exato. Com minha Silvana triste por que não conseguiu vir ao Pacaembu. Ela que só viu um jogo no estádio quando o futuro sogro dela foi homenageado pelo Santos e pelo Palmeiras na Vila Belmiro, na semana em que morreu, em 2012. Ela que veio ao Pacaembu na despedida e no amém de São Marcos, na semana seguinte.
Ela que queria ver o Palmeiras sendo Palmeiras hoje. Mas que não pôde. Ela trabalhava. Eu estou trabalhando. Não pude trazer meus Luca e Gabriel ao estádio. Não pude levar minha nova filhota Manoela ao Pacaembu. Não pude me conectar com meus amores com a bola rolando e os palmeirenses ralando.
Mas nosso amor nos fez estar unidos. Juntos. Conectados pelo amor, não pela tecnologia.
Como aquele cara lá de cima que me fez palmeirense.
Aquele pai que, hoje, agora, e sempre, deve estar conversando com Waldemar Fiume, Junqueira, Romeu, Heitor e tantos palestrinos. Celebrando como o Palmeiras foi palmeirense hoje. Ainda que não vá longe na Libertadores, e não deve ir mesmo, ele voltou fundo no carinho. No respeito.
Tanta festa e emoção por uma vitória apertada contra um time paraguaio na fase de grupo da Libertadores?
Sim. Como tenho milhões de emoções por um sorriso dos meus filhos, por um beijo da minha Sil.
Amor é isso.
Infelizmente, quem não ama não sabe.
Obrigado, Babbo, por ter colocado o Charles dentro da área naquela bola.
Obrigado, Babbo, por te me ajudado a ser jornalista há 26 anos.
Obrigado, Babbo, mais que tudo, por te me ensinado a amar.
Por ter me ensinado Palmeiras.
Isso foi em 2013.
Parece que sempre será assim.
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