Em uma era de poucos recursos no Beira-Rio, atacante Diego se tornou titular e peça importante na reconstrução do clube nos anos 2000
O futebol profissional vive os últimos capítulos para Diego Barcelos, que, com 35 anos, espera cumprir apenas o contrato com o Grêmio Bagé, da segunda divisão gaúcha, antes de pendurar as chuteiras. Chuteiras essas que, no início dos anos 2000, representaram uma enorme aposta da direção colorada – sem dinheiro, o Inter se viu obrigado a olhar pra base e tinha no atacante, ao lado do gêmeo, o meia Diogo, um grande trunfo para o futuro.
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E Diego entende que, principalmente em 2003, quando foi titular a temporada inteira, conseguiu dar a resposta necessária e mostrar que a base, naquele momento, era a melhor solução para o clube. No comando de todo o processo de reconstrução estava o técnico Muricy Ramalho, a quem o atacante, até hoje, classifica como um “pai” dentro do futebol.
Mas o início no profissional do Inter e a relação quase que familiar com Muricy são apenas alguns dos temas da entrevista de Diego ao Torcedores.com. No “cardápio”, tem uma noite mágica na Bombonera, a frustração por não ter tido muitas chances no ano mágico de 2006 e até uma opinião sobre a recente pancadaria no Gre-Nal da Libertadores.
Torcedores.com: Diego, quando tu surgiu no Inter, já vinha “badalado” e muito comentado na base desde aquele título mundial sub-15, em 2000. Essa grande expectativa criada sobre o teu futebol gerou uma pressão extra quando subiu?
Diego: Bom, na verdade eu me preparei bastante pra esse momento que foi a minha subida para o profissional. Desde os tempos da base, eu e Diogo éramos sempre muito comentados. Começamos a ser falados bem cedo, mas nunca nos atrapalhou em termos de ir pra campo e se sentir pressionado. Então, no começo, lá em 2003, quando eu subi eu me sentia confortável, nada de pressão. Me divertia bastante com aquela situação. Era tudo novo pra mim. Lembro que eu ficava encantado em ir para os treinamentos, trabalhar junto com os profissionais e depois concentrar, participar dos jogos. Era tudo novidade e eu encarava com muita tranquilidade. Eu me divertia muito, era prazeroso fazer aquilo, ainda mais no clube que eu sempre torci. Posso dizer que foi muito bom aquele período ali.
T: Quais as principais lembranças você tem daquele time de 2003, repleto de jovens como tu, Nilmar, Diogo, Daniel Carvalho, Ismael, e como era a convivência com o Muricy Ramalho?
D: A lembrança que eu tenho é que, como eu falei, nós nos divertíamos muito. Se tornou um ambiente muito bom dentro do vestiário. Os jogadores mais experientes junto com os mais jovens. Isso gerou uma liga boa. Nos receberam muito bem e nós, jovens, com a nossa alegria natural, de estarmos subindo da base, formamos um clima muito bom. E o Muricy, como um excelente comandante, soube perfeitamente controlar bem isso, tanto os jovens como os mais experientes. A lembrança é sempre a melhor possível. O Muricy foi como um pai no futebol pra mim. Me ensinava, mas cobrava. Só que ele cobrava passando segurança pra nós. E eu lembro perfeitamente de alguns jogos que eu não rendia de repente um, dois jogos e ele me mantinha no time. Isso é a confiança do treinador. E aí eu conseguia dar a resposta. Então ele foi fundamental pra mim naquele ano e eu sou grato por tudo que eu aprendi com ele.
Abaixo, Diego marca na vitória sobre o Vasco em 2003
T: Gostaria que tu recordasse aquela partida contra o Boca, na Bombonera, em 2004, que você fez um gol e deu uma assistência naquela derrota de 4×2 pela semi da Sul-Americana. Individualmente, foi especial? E esse jogo, na sua opinião, ajudou o Inter a ganhar experiência para os títulos de 2006?
D: Foi muito especial sim porque o Inter voltava ao cenário internacional depois de muitos anos afastado dessas competições. E nós conseguimos botar o clube em evidência ao chegar naquela semifinal de Sul-Americana contra o lendário Boca Juniors. Lembro que eu estava bem à vontade naquele jogo. Muito por conta do Muricy. Em 2004, eu comecei no banco e não vinha jogando com o Lori Sandri. Aí o Lori foi embora, veio o Joel Santana. Eu até entrava nos jogos, mas nunca era titular. Quando o Muricy retornou, aí sim, já me conhecendo de 2003, me deu de novo toda aquela confiança e eu voltei a render. Meu futebol cresceu. E naquela semifinal eu consegui jogar bem. Dei o passe pro Sobis, fiz um gol. Foi especial pelo que o Boca representa, pelo que a Bombonera representa. E eu ter tido a oportunidade de jogar lá, ter feito gol, ter dado assistência, ficou marcado na minha vida. Foi uma pena a gente não ter conseguido um resultado melhor. Lembro que estávamos jogando muito bem, só que no primeiro tempo, se lembrarem no vídeo, o Clemer leva uma cotovelada. Depois, no início do segundo tempo, já sem imagens, a torcida deles jogou uns rojões atrás do gol. O jogo ficou parado, estávamos ganhando de 1×0. Eles empataram em uma bola que o Clemer ficou com medo de levar uma bolada no rosto por conta da cotovelada. Até então vínhamos fazendo um grande jogo. Tivemos um apagão de 15 minutos e levamos quatro gols. Ainda fiz um gol pra dar uma esperança pro jogo da volta, mas não conseguimos reverter. Tudo isso foi um passo dado pra grande trajetória que o Inter daria nos anos seguintes.
T: Diego, você acredita que fez certo ao trocar o Inter pelo Santos em 2005? Lamenta não ter tido mais chances no colorado depois disso?
D: Em 2005 foi uma situação bem diferente. Em 2003 fizemos um excelente Brasileirão depois de um ano anterior em 2002 que o Inter quase caiu. Então a aposta em 2003 na base era muito grande. Demos conta do recado e brigamos até a última rodada por uma vaga na Libertadores. Depois em 2004 fizemos um grande ano caindo na semi da Sul-Americana. E em 2005, aí sim, virou uma pressão grande por um título nacional. Eu lembro que o Inter apostava muito na Copa do Brasil. Depois daquela eliminação contra o Paulista, em Jundiaí, nos pênaltis, a pressão ficou muito grande. E eu joguei aquele jogo. Acabei perdendo espaço, porque vieram outros jogadores da minha posição. É normal. É normal em um grupo apostarem em jogadores de fora. Aquele elenco era muito forte. Foi o ano em que o Inter era pra ter vencido o Brasileirão e teve aquele rolo todo da arbitragem. Se eu pudesse mudar? Claro. Gostaria de ter ficado, mas entendi que o momento era de mudança e eu tinha perdido espaço. Não me arrependo de ter ido pro Santos. O que eu mudaria? Naquela época eu lembro que eu tinha proposta para jogar fora do país. Se fosse hoje, talvez eu iria pra fora e não pro Santos. Essa seria a mudança. Em 2006, quando eu voltei pro Inter, esperava uma oportunidade, ter mais chances, mas acabei não tendo. Foi a única coisa que eu fiquei… não é uma mágoa, mas acredito que eu merecia mais chances, por tudo aquilo que eu representei em 2003 e 2004. Só que o futebol é dinâmico, chegaram outros jogadores, deu certo e o Inter conquistou todos aqueles títulos. Fiz parte da reformulação que começou em 2003, então eu me sinto feliz e fiquei muito contente com o que o Inter ganhou. Fiz parte de toda aquela história também.
T: Você acompanhou a repercussão da forte pancadaria no último Gre-Nal? Chegou a viver algo parecido? Como tu agiria se tivesse em campo?
D: Foi um excelente jogo. Muitas oportunidades de gols para os dois lados. Na minha opinião, o Inter foi superior ao Grêmio. E me surpreendeu. Ainda existia aquela imagem do Gre-Nal do Beira-Rio, onde o Grêmio foi superior. Pelos últimos confrontos na Arena também. O Grêmio vinha superior. Eu tive um receio. Mas o Inter, que vem com esse excelente trabalho do Coudet, conseguiu desempenhar com naturalidade na Arena, fazendo um grande jogo. Quanto à pancadaria, o pessoal acabou perdendo o controle. No clássico, a adrenalina já é lá em cima. Depois vem a expulsão do Moisés, ele perdeu a cabeça e ocorreu aquilo tudo. Assim, eu vivenciei uma ocasião parecida na China, mas era um amistoso, não era nem campeonato. Deu uma briga generalizada e a minha reação foi tentar separar. Pelo meu tamanho, não iria entrar pra brigar (risos). Mas a minha reação foi separar e não tentar agredir alguém ou algo do gênero
T: Pra fechar, quais os planos da continuidade na carreira dentro do futebol?
D: Eu ainda tenho o contrato com o Grêmio Bagé para disputar a Divisão de Acesso do Gauchão. Com essa situação do coronavírus, o campeonato está parado. Mas já ouvi falar que irá continuar em agosto. Pretende cumprir essa parte do contrato. Já pensando em parar. Foram 16 anos de carreira profissional. Sou muito grato ao futebol, a Deus, por esses anos todos estar sempre empregado. É uma luta diária. Se for fazer uma pesquisa, é uma porcentagem baixa que está sempre empregada. Sou um vencedor nessa profissão e sinto que agora está chegando o momento de parar, já com 35 anos. Aprendi e dei muito pro futebol. E agora é pensar futuramente. Eu e o Diogo temos algumas ideias, vamos sentar e conversar pra ver o que fazer daqui pra frente.
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