Reportagem do Torcedores.com publica entrevista com o ex-volante do Grêmio, Jeovânio
Sábado, 26 de novembro de 2005. Recife, Pernambuco. Sob um sol escaldante e um cenário hostil desde o hotel até o estádio, o Grêmio parte em uma das missões mais emblemáticas de toda a sua história. Necessitava, pela frente, de um simples empate diante do Náutico para retornar à Série A do futebol brasileiro e enterrar de vez o pesadelo da segunda divisão.
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Sábado, 26 de novembro de 2005. Porto Alegre, Rio de Grande do Sul. Do sofá da sala de casa, Jeovânio conta as horas para o início do jogo e sofre em quantidade redobrada por estar distante. Titular durante quase toda a campanha, o volante gremista sequer viajou por conta de um entorse no tornozelo sofrida antes de uma partida contra o Santa Cruz. E, assim, muitos quilômetros o separavam de onde queria estar.
A palavra que o ex-jogador utiliza para resumir o sentimento da fatídica tarde de 15 anos atrás é uma só: angústia. Assim, ao Torcedores.com, ele detalhou o sofrimento que foi acompanhar de longe a épica vitória gremista por 1×0 com direito a dois pênaltis contra e quatro homens expulsos.
“Bom, eu acabei ficando de fora daquele incrível jogo por ter sofrido uma lesão no tornozelo no treino antes de um partida contra o Santa Cruz semanas antes. Acompanhei aquela partida em casa mesmo, em Porto Alegre. Lembro que naquele dia foi muito, mas muito difícil e também angustiante sem poder ajudar os meus companheiros. Mas, graças a Deus, deu tudo certo e fomos campeões na famosa Batalha dos Aflitos”, explicou.
Sem Jeovânio, o então técnico gremista Mano Menezes recorreu na cabeça de área a Nunes, que foi um dos expulsos em meio à confusão após o segundo pênalti dado aos pernambucanos. Em seguida ao milagre de Galatto, Anderson fez o gol da redenção – e alívio – gremista.
Passagem marcante e tristeza pela saída
Foram apenas dois anos de clube, mas tempo suficiente para formar um novo torcedor gremista. Jeovânio, hoje, é mais um dos tantos tricolores que só querem o bem do time. Ao caracterizar como “ótima” a sua passagem pelo Grêmio, ele lembra, por exemplo, o surpreendente 3° lugar no Brasileirão de 2006, que gerou vaga direta à Libertadores do ano seguinte – da qual a equipe, já sem ele, seria vice diante do Boca Juniors.
“A minha passagem pelo Grêmio eu considero ótima. Tive em 2005 um acesso de volta à primeira divisão e logo no ano de 2006 fomos campeões gaúchos sobre Inter. Depois, buscamos uma classificação para a Libertadores com uma ótima campanha no Brasileirão terminado em 3° lugar. Então, considero que foi muito boa. Sou, sim, hoje em dia um torcedor do Grêmio por tudo que o clube e a torcida me proporcionaram”.
O vice da Libertadores de 2007, aliás, foi visto por Jeovânio da mesma forma que ele acompanhou a Batalha dos Aflitos: pela TV. Desta vez, não por causa de lesão no tornozelo ou qualquer coisa do gênero. No final de 2006, muito embora todo o seu desejo de seguir em Porto Alegre, o Grêmio não acertou a permanência junto ao Figueirense – clube que detinha o passe do jogador. E os catarinenses, claro, toparam a proposta do Valenciennes, da França.
“Eu queria muito ficar no Grêmio naquela época e seguir com o grupo em 2007. Conversei com Mano (Menezes, treinador na ocasião) e com o presidente. E ainda falei com os diretores do Figueirense, mas o grande problema foi que o Grêmio não tinha condições financeiras, estava sem dinheiro para investir. Eu fiz de tudo para permanecer no Grêmio, mas acabou acontecendo de ir pra França”, lamentou.
Frustração por racismo e elogios a Renato Portaluppi: “Ele é fera”
Apesar de admitir que errou em entrevistas posteriores, Antônio Carlos Zago jamais ligou para Jeovânio se desculpando pelo ato de racismo em um duelo entre Juventude x Grêmio, no Estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul, pelo Gauchão de 2006. Após uma discussão normal de jogo, o ex-zagueiro fez um gesto apontando a cor da pele no braço – depois, sem convencer, justificou que estava “limpando um pouco de sangue”.
Jeovânio, evidentemente, guarda o episódio com frustração e lamenta nunca ter recebido uma ligação do oponente.
“Sobre o racismo… muitos me perguntam se o Antônio Carlos me procurou. Eu falo mesmo. Nunca recebi uma ligação dele depois disso. Mas é passado”.
No Grêmio, o único treinador do ex-atleta foi Mano Menezes. Mas ele deixa bem claro que também gostaria de ter sido comandado pelo “fera” Renato Portaluppi, no clube desde setembro de 2016 e principal condutor ao retorno dos grandes títulos, como a Copa do Brasil de 2016 e a Libertadores de 2017.
“O Renato é um grande administrador de grupos. Ele sabe o vocabulário do dia a dia dos jogadores, sabe como lidar com cada um e por isso que ele sempre tira o melhor de cada um. Dá pra ver também que ele sabe falar com os mais jovens. Isso é bom para o time ter a confiança do treinador e o treinador ter a confiança do grupo. Quando você tem um treinador que luta por você, fica mais fácil. Por isso cada jogador abraça a causa e se vê isso no Grêmio. Por isso que o Grêmio hoje e o que é. O Renato amadureceu como treinador e administrador de grupo. Ele é fera. Sou fã da forma que ele trabalha”, encerrou o ex-volante.
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