Pouca gente hoje lembra, mas o SBT transmitia futebol em rede nacional. E esteve na Copa nos EUA.
O SBT não tinha Galvão Bueno, provavelmente não tinha o satélite exclusivo que a Globo fazia questão de ressaltar nas chamadas, os patrocinadores eram marcas como Arisco, sabão Minerva, Philco, Bradesco e Prosdócimo, e não Itaú, Rider, Coca-Cola, Chevrolet e Kaiser, como a rival. Mas tinha o ‘Amarelinho’ e muito carisma. Foi assim que a emissora de Silvio Santos transmitiu a Copa do Mundo de 1994.
Os mais jovens provavelmente nem ligam a marca do SBT ao futebol. A emissora atualmente só mostra a Copa do Nordeste por meio de suas afiliadas regionais. Em rede nacional, a modalidade sumiu desde 2003, quando foi transmitida a Copa Ouro da Concacaf com participação especial de um time sub-23 do Brasil que se preparava (para ficar fora) dos Jogos Olímpicos de Atenas-2004.
Mas há uma história rica do SBT com as Copas. Desde 1986, quando a emissora de Silvio Santos fez um pool com a Record (que também tinha participação acionária do Homem do Baú na época) para exibir o Mundial do México, mais precisamente falando.
O SBT foi também um dos canais presentes na Copa do Mundo de 1990, na Itália, e faria sua última participação em 1998, na França. Todas elas quando a OTI (Organização das Telecomunicações Ibero-Americanas) era a responsável por repassar os direitos de transmissão. Depois que essa era acabou, começou o domínio total da Globo.
Mas, no Mundial dos EUA, o SBT vivia um bom momento. Tinha novelas de sucesso no ar, como Éramos Seis. Via a Manchete cada vez mais distante na briga pelo segundo lugar (e sem dinheiro para transmitir a Copa do Mundo de 1994). E entrou no bonde para mostrar o Brasil na luta para acabar com o jejum de 24 anos sem títulos mundiais no futebol.
Não havia o tamanho, a estrutura e a audiência da Globo. Nem o conhecimento esportivo que a Bandeirantes possuía. Mas o SBT tinha sua identificação com uma parcela da audiência. Ganhou muitas crianças da época com o Amarelinho, um personagem que fazia uma verdadeira farra na TV.
É verdade que não chegou nem perto do “Eu sei que vou”, da Globo, mas o SBT também teve sua marchinha no tetra. “Brasil, Brasil, Brasil. Levante a taça, vibra mais, seleção. Jogando com raça, com ginga e amor. Com jeito, com graça, seja como for. Nós vamos juntos sentir essa emoção, e na galera explode coração”, dizia um trecho da letra.
O “seja como for” representava o espírito da época. Claro que havia críticas ao modo como a seleção de Parreira jogava, mas a grande maioria do povo brasileiro só queria ganhar a Copa e enterrar o fantasma de que não era mais possível ganhar o mundo pós-Pelé.
O SBT tinha uma abertura simpática com uma música instrumental baseada no jingle da emissora para a Copa também.
https://www.youtube.com/watch?v=HleSq0MSb7U
Tinha um programa especial com Jô Soares. Era o “Jô na Copa”.
A narração do tetra não teve “É TETRA”, mas teve um igualmente emocionado Luiz Alfredo, que realizava um sonho. Igualava o pai, Geraldo José de Almeida, que narrou o tri no México em 1970. Quando Baggio isolou o último pênalti, o locutor do SBT repetiu várias (mesmo) vezes que o Brasil era tetracampeão do mundo. Não havia outra frase a ser dita para quem viveu 24 anos sem nem ver o país em uma final de Copa.
Uma pena que nem mesmo o SBT faça questão de lembrar que contribuiu com a história do futebol brasileiro. Ainda bem que existe a internet para manter esses arquivos acessíveis hoje em dia.
Allan Simon é jornalista esportivo desde 2011, tendo passado por redações como o R7, Abril.com, UOL Esporte e Torcedores. Participou das coberturas de duas Copas do Mundo, duas Olimpíadas, dois Pans, e diversos outros momentos históricos do esporte brasileiro nesta década. Criador do Prêmio Torcedores de Mídia Esportiva. Atualmente comanda o Blog do Allan Simon, é colaborador do UOL e colunista do Torcedores, tendo também um canal no YouTube com análises, histórias e estatísticas de mídia esportiva e futebol em geral.
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