Classificação do Vasco na Copa do Brasil não esconde os (sérios) problemas do time de Abel Braga; entenda
Argentino Germán Cano marcou o gol da vitória do Trem Bala da Colina sobre o ABC no Maracanã; além do camisa 14, atacante Vinícius e volantes Guarín e Andrey foram os destaques do Vasco em noite de pouquíssima inspiração da equipe de Abel Braga
Argentino Germán Cano marcou o gol da vitória do Trem Bala da Colina sobre o ABC no Maracanã; além do camisa 14, atacante Vinícius e volantes Guarín e Andrey foram os destaques do Vasco em noite de pouquíssima inspiração da equipe de Abel Braga
Não é intenção deste que escreve assumir o papel de “profeta do apocalipse”. Mas certas coisas precisam ser ditas. A classificação do Vasco para a terceira fase da Copa do Brasil (após vitória magra contra o ABC de Natal no Maracanã) deveria trazer uma certa dose de alívio ao torcedor do Trem Bala da Colina. No entanto, até mesmo o mais otimista dos vascaínos sabe muito bem que sua equipe ainda tem problemas sérios de estratégia, tomadas de decisão e proposta de jogo. Essas questões passam diretamente pelas escolhas do técnico Abel Braga para o time titular e pelo planejamento da diretoria. O Vasco segue com questões urgentes a serem resolvidas para a sequência da temporada. E isso justo num momento em que o nível de exigência tende a aumentar vertiginosamente com a terceira fase da Copa do Brasil, a reta final do Campeonato Carioca e a preparação para o Campeonato Brasileiro.
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Os primeiros minutos do Vasco contra o ABC deram a falsa impressão de que o time da casa não teria muitos problemas pela frente. Mas isso durou apenas 15 minutos. Com o colombiano Fredy Guarín ainda sem poder jogar os noventa minutos, o técnico Abel Braga apostou num 4-1-4-1 que tinha Andrey recuando entre os zagueiros para auxiliar na saída de bola, Yago Pikachu e Henrique espetados e saída rápida pelas laterais com os velozes Marrony e Vinícius. Aos poucos, o Trem Bala da Colina foi diminuindo o ritmo e aceitando a marcação do ABC na intermediária ofensiva. Tanto que a melhor chance do primeiro tempo saiu dos pés de Guarín, num chute de fora da área bem defendido pelo goleiro Rafael. Não é que tenha faltado disposição ao time do Vasco. Faltou é a movimentação inteligente para abrir espaços e fugir da marcação de um adversário não mais do que esforçado. Principalmente do trio ofensivo formado por Marrony, Cano e Vinícius.
Guarín recebe a bola na intermediária e não encontra nenhum companheiro de equipe com liberdade para receber o passe. Marrony, Cano e Vinícius começaram bem, mas se movimentaram muito pouco no setor ofensivo. Foto: Reprodução / SporTV
A disposição tática do time do Vasco e os movimentos feitos pelos jogadores dentro de campo deixavam o time de Abel Braga extremamente previsível. Some isso aos buracos imensos à frente da zaga (sempre que Andrey recuava entre Werley e Leandro Castán para qualificar o passe na saída de bola) e você terá um problema sério de ocupação de espaços em todos os setores. E com os laterais bem marcados, as únicas válvulas de escape do time eram as subidas em velocidade dos “pontas” Vinícius e Marrony. Muito pouco para quem precisava apresentar um futebol com um mínimo de qualidade. Por outro lado, a equipe do ABC colaborou (e muito) quando Paulo Sérgio (aquele mesmo que jogoou no Flamengo no início da década) desperdiçou uma chance absurda dentro da pequena área com Fernando Miguel já batido no lance. Isso dez minutos antes do argentino Germán Cano abrir o placar no Maracanã em jogada bem trabalhada que vamos dissecar a seguir.
O 4-1-4-1 de Abel Braga tem movimentos previsíveis e jogadores estáticos em campo. As válvulas de escape eram as bolas lançadas para Vinícius e Marrony nos lados do campo. O grande problema não estava na intensidade, mas na precisão e coordenação dos movimentos. Foto: Reprodução / SporTV
O único gol da partida saiu de uma das únicas vezes em que o 4-1-4-1 de Abel Braga funcionou como deve funcionar. Não somente pela movimentação dos jogadores, mas pela maneira como a jogada foi conduzida desde o campo de defesa em contra-ataque rápido pela direita. Vinícius tem a bola e vê Guarín e Cano puxando a marcação por dentro e abrindo espaços na intermediária. O camisa 49 faz o passe que cruza toda a área do ABC e chega até Raul, que serve Marrony (em posição legal) na esquerda e este cruza rasteiro para Cano apenas escorar para as redes. Sempre que o setor ofensivo do Vasco se movimentou com inteligência (isto é, saiu um pouco da mesmice e buscou mexer um pouco com a defesa adversária), as chances apareceram. O camisa 14 ainda teve duas boas chances de ampliar o marcador no segundo tempo, mas acabou falhando na hora H. A vitória foi justa, mas com algumas ressalvas que precisam da atenção da comissão técnica.
O lance que originou o gol do Vasco é justamente aquilo que se pede da equipe comandada por Abel Braga: movimentação inteligente e passes precisos. As coisas funcionaram sempre que o time pensou “fora da caixinha”. Foto: Reprodução / SporTV
O Vasco sofre com gestões terríveis do clube dentro e fora de campo. Se Abel Braga ainda mostra dificuldades para escolher a estratégia mais adequada para a sua equipe, a diretoria também vacila (e muito) nas suas decisões. Por mais que a ideia deste espaço seja apontar os pontos positivos e negativos de uma equipe de futebol em campo, é praticamente impossível não colocar boa parcela da má fase do clube nas costas de Alexandre Campello. E aqui vale destacar o seguinte: não se vê “corpo mole” em absolutamente nenhum jogador do Vasco. Por outro lado, não há tática que resista a salários atrasados, guerra política nos bastidores e promessas não cumpridas pela diretoria. Se colocamos aqui que Abel Braga precisa rever muitos dos seus conceitos, é altamente necessário cobrar dos dirigentes um elenco condizente com as tradições do Trem Bala da Colina. Hoje, a equipe depende quase que exclusivamente da qualidade de Guarín. Muito pouco.
O Vasco terá o Goiás pela frente na terceira fase da Copa do Brasil. Mas se quiser seguir na competição, será preciso superar uma série de problemas técnicos, táticos e de gestão o quanto antes. Se Abel vacila, a diretoria vacila ainda mais.
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