França foi superior durante quase toda a partida e conquistaram o título antecipado do Torneio Internacional de Futebol Feminino; falta de criatividade no meio-campo ainda é o grande problema da equipe de Pia Sundhage
Essa foi a pior atuação da Seleção Brasileira sob o comando de Pia Sundhage. Falo com extrema tranquilidade. A derrota de (apenas) 1 a 0 para a ótima França acabou saindo barato para Marta, Cristiane, Formiga e companhia. É bem verdade que estamos falando de uma partida amistosa válida por uma competição de “tiro curto” (contra uma equipe claramente superior ao escrete canarinho) e que a treinadora sueca ainda realiza seus testes para fechar o grupo que vai disputar os Jogos Olímpicos em Tóquio. No entanto, a maneira como toda a Seleção Feminina se comportou nos noventa e poucos minutos é preocupante. O time de Pia Sundhage foi completamente dominado, sofreu com as investidas de Sommer, Cascarino e toda a equipe de Corinne Diacre, além de não ter produzido quase nada de bom. E isso sem falar no deserto de ideias que é o meio-campo brasileiro.
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Para esse jogo contra a França, a técnica Pia Sundhage optou por um meio-campo (em tese) mais leve com a entrada de Andressinha junto de Luana (que voltou para a sua posição original) e Formiga, e por um ataque formado por Cristiane e Bia Zaneratto, duas atletas acostumadas a jogar como referência no setor ofensivo. Muita gente pensou (incluindo este que escreve) que Pia fosse apostar numa espécie de 4-3-3 com Luana e Andressa Alves fechando os lados do campo e auxiliando as laterais Letícia Santos (depois Antônia) e Tamires. No entanto, o que se viu foi um 4-4-1-1 que isolou Cristiane no ataque, prendeu Bia Zaneratto no lado esquerdo e sobrecarregou Andressinha na criação das jogadas. Do outro lado, a França de Corinne Diacre explorava bem os espaços entre as linhas da Seleção Feminina e controlava praticamente todas as ações no meio-campo.
Pia Sundhage apostou num 4-4-1-1 que isolou Cristiane no ataque, sobrecarregou Andressinha e ainda tirou parte do poderio ofensivo da Seleção Feminina. A França, por sua vez, explorava bem o espaço entre as linhas do time brasileiro e controlou completamente a partida. Foto: Reprodução / SporTV
O Brasil teve uma leve melhora no segundo tempo, quando Pia Sundhage lançou Marta e Debinha nos lugares de Andressa Alves e Bia Zaneratto. No entanto, a marcação brasileira deixou Marji ir até a linha de fundo e cruzar a bola na cabeça de Gauvin, que contou com o vacilo de Bárbara para marcar o único gol da partida. Vale a pena destacar aqui a facilidade que a equipe francesa teve para entrar na nossa defesa. Mesmo com o já mencionado 4-4-1-1 armado e organizado, a Seleção Feminina permitiu que pelo menos cinco atletas adversárias encontrassem espaços generosos na última linha. Além do jogo coletivo e da criatividade, faltou compactação e concentração das nossas jogadoras diante de um adversário que nem precisou forçar tanto para entrar na área brasileira. E outros gols poderiam ter saído se a equipe francesa não tivesse diminuído o ritmo nos minutos finais da partida.
Pia Sundhage não mexeu no desenho tático básico da Seleção Feminina com as mudanças e viu sua equipe ser dominada pela França. O lance do gol de Gauvin mostra que além do problema crônico da criatividade, a defesa brasileira sofreu com a falta de compactação entre as suas linhas. Foto: Reprodução / SporTV
Pia ainda tentou dar mais vitalidade à sua equipe com as entradas de Duda, Thaisa e Aline Milene, mas as chances brasileiras só apareceram muito mais na base do brilho individual do que na base do jogo coletivo. O já mencionado 4-4-1-1 foi mantido até o final sem que a treinadora sueca fizesse alguma mudança mais profunda na disposição das suas jogadoras dentro de campo. Muito pouco para quem almeja pelo menos uma medalha olímpica em Tóquio. A pior atuação da Seleção Feminina sob o comando de Pia Sundhage teve a marca da desorganização tática e do problema crônico de criatividade no meio-campo brasileiro. E por mais que a treinadora sueca cite outras questões como a preparação física das suas atletas, ficam as perguntas (sem resposta) sobre as suas escolhas, desde a convocação até a escalação do time titular.
O jogo contra o Canadá vai servir apenas para cumprimento de tabela no Torneio Internacional da França. Mesmo assim, Pia Sundhage pode se ajudar e escalar uma Seleção Feminina mais leve e mais dinâmica. E já passou da hora de se pensar em Tamires ao lado de Bia Zaneratto e Debinha no ataque com Luana e Andressinha pisando na área. E isso só pra começar.
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