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Liderança, um esporte feminino: Aline Pellegrino é referência do campo aos bastidores

Ex-capitã da seleção brasileira ainda busca quebra de tabus como diretora na FPF

Por Papo de Mina em 08/03/2020 19:21 - Atualizado há 5 anos

Crédito: Rodrigo Corsi/FPF

Ex-capitã da seleção brasileira ainda busca quebra de tabus como diretora na FPF

Por Beatriz Pinheiro

Referência no futebol feminino e esporte brasileiro, a ex-zagueira Aline Pellegrino foi de capitã da seleção brasileira a Diretora de Futebol Feminino da Federação Paulista de Futebol, um exemplo de liderança feminina que vai do campo aos bastidores. Em conversa exclusiva com o Papo de Mina, Pellegrino falou sobre representatividade, busca pela equidade de gênero e a importância de mulheres fortalecerem umas às outras na luta por tabus que ainda não foram quebrados.

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Ao buscar as origens de seu perfil de liderança e a influência de sua trajetória no papel de gestora que desempenha atualmente, Aline Pellegrino recorda os primeiros passos no futebol e o início dos questionamentos sobre a diferença de gêneros no esporte. “Aos seis, sete anos, eu perguntava: ‘Por que eu posso brincar com todo mundo e essa brincadeira eu não posso? Por que os meninos que brincam de pega-pega e esconde-esconde podem brincar de futebol e eu não posso?’, eu sempre tentava entender os porquês e mudar a situação”, conta, relembrando também que enfrentou a resistência inicial do pai.

“Sabia que meu pai não deixava, então eu não contava que estava jogando futebol. Quando consegui meu primeiro time de meninas, também não pedi permissão, então desde o início eu estava criando estratégias para praticar o futebol”, destaca. Mesmo assim, Aline aponta o pai como um espelho para a postura de liderança que passou a assumir desde a infância já que ele costumava deixar bilhetinhos para a filha em dias de jogos, com instruções sobre as adversárias. “Ele acabou me instigando a não olhar só a Aline e o time que a Aline jogava, mas contra quem a gente ia jogar. Isso eu passava para as meninas do time em que eu jogava e foi quando eu comecei a ter esse olhar do todo”.

Início como capitã

A primeira vez como capitã foi defendendo a seleção brasileira, em uma época pós Jogos Olímpicos de Atenas. Aline levou a responsabilidade da braçadeira durante a campanha campeã dos Jogos Pan-Americanos de 2007, quando precisou lidar com um grupo ansioso pela competição em casa e com a pressão do favoritismo. Mas, segundo a ex-atleta, o ponto de virada foi uma derrota dolorida diante do Japão, em amistoso anterior à Copa do Mundo do mesmo ano.

“Passamos uma madrugada terrível, estava tudo um caos. Acho que foi ali que surgiu a Aline capitã, no sentido amplo da coisa, de chamar todo mundo na chincha, de soltar uns palavrões, e acho que foi ali que elas passaram a me respeitar de fato como uma liderança dentro do grupo. Essa seleção só tinha líder, tinha Andreia Suntaque, Renata Costa, Tânia Maranhão, Formiga, Daniela Alves, Marta, Cristiane… Então não dá para falar que eu era a maior líder, cada uma tinha a sua liderança, mas acho que ali eu me impus enquanto capitã e liderança, que seria a porta-voz dentro de campo e isso me deu muita força. Cresci muito nesse ano”, recorda.

Segundo Pellegrino, há poucas diferenças entre suas versões capitã e gestora. “Tento unir potencialidades, tentando fazer com que todo mundo trabalhe de forma muito horizontal. Quando estava no campo eu gostava de ter mais clara essa hierarquia, e hoje como gestora já não gosto de ter essa hierarquia de mim para baixo. Gosto de ter referências para cima, ter bem claro quem são meus gestores, para quem eu respondo e quem vai me dar bronca. Tem dado certo e é um crescimento diário”.

Referência e representatividade

Seja com a braçadeira ou à frente do Departamento de Futebol Feminino da FPF, Aline reconhece sua responsabilidade enquanto referência feminina em um posto de tomada de decisão. A diretora cita a chegada de Ana Lorena Marche, campeã brasileira em 2019 na gestão da Ferroviária e atual Coordenadora de Futebol Feminino da Federação Paulista, como um exemplo de que a presença de mulheres em cargos de liderança é fundamental para aumentar o equilíbrio de gênero.

“Quando a gente fala de representatividade, é isso. Se não tem a primeira, não tem esse olhar de que precisa, não vai puxar a outra. Quanto mais sucesso a Aline tem, isso potencializa as outras mulheres e é natural essa conexão. A gente não vai conseguir deixar mais diversificados esses cargos de tomada de decisão enquanto não tiver a primeira. Acredito que estamos no caminho, as coisas estão acontecendo. A mudança não vai ser de zero a 50%, é gradativamente que a gente avança de uma maneira sólida, com mulheres capacitadas, que possam fazer a diferença”, declara.

Apesar do avanço já percorrido, Aline é categórica em afirmar que ainda não existe de fato uma igualdade entre homens e mulheres, e que esse olhar é decisivo na realização de ações que tenham como objetivo uma maior equidade. Segundo a diretora, uma análise de contexto histórico ajuda a esclarecer a presença ainda tímida das mulheres em cargos de gestão ou como na figura de técnicas esportivas, por exemplo. 

“A gente olha um curso de capacitação de futebol, que precisa ter homens e mulheres, e vai ver os requisitos e critérios, estão tratando homem e mulher igual, mas não é igual, porque a gente teve uma história diferente. Como um curso para uma mulher em um alto escalão de futebol paga-se o mesmo que um homem se a gente recebe menos? Pelo menos 20% a menos ele deveria custar, porque eu recebo 20% a menos”, aponta.

Mesmo com as barreiras pelo caminho, Aline Pellegrino incentiva outras mulheres a trilharem caminhos em busca de ocupar os espaços. “Tenham coragem de arriscar, confiança de arriscar. Às vezes a gente tem dificuldade de dar o primeiro passo com medo do que vai acontecer. Dar esse primeiro passo é extremamente importante, porque assim a gente caminha, às vezes muda um pouco a direção, mas sai da inércia. Às vezes essa inércia não é por culpa dessas mulheres, é todo um ambiente que te fez estar ali travada, mas que elas tenham confiança de dar o primeiro passo”, conclui.

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