Briga entre torcedores, vaias e protestos contra Abel Braga e a diretoria marcam derrota do Vasco para o Goiás no jogo de ida da Copa do Brasil. É um bom momento para clube e treinador repensarem a relação.
Quando Thiago Duarte Peixoto apitou o fim de Vasco 0x1 Goiás, nada chamou mais a atenção do que a solidão de Abel Braga. De fundo, um estádio dividido, rachado.
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A caminhada solitária, em meio às vaias, numa espécie de corredor polonês do julgamento, é o triste retrato da parceria firmada por treinador e clube em 2020. Sozinho, sem apoio interno – ao menos público – e rejeitado pelo torcedor desde o primeiro dia, o técnico se tornou o para-raio de uma diretoria igualmente desprezada por grande parte da arquibancada.
Uma arquibancada, aliás, que terminou dividida, como se ali, no espaço vascaíno, houvessem rivais. Esse é o momento vivido pelo clube. Algo que, infelizmente, não é novo, ainda mais em ano de eleição – que parece ser todo ano.
É muito desamor reunido num espaço onde milhares de vascaínos deveriam se encontram para praticar exatamente o inverso. Há um choque de ideias e vontades. Campo e bancada estão longe de uma sintonia. E não há nada mais perigoso do que uma paixão em desalinho.
O trabalho de Abel após dois meses não emplaca. O da diretoria, depois de mais de dois anos, também não. A torcida não larga a mão, mas também não deixa de bater o pé. É direito e dever dela.
Tido como ‘paizão’ ao longo de sua carreira, Abel hoje caminha só. O time que até o fim do ano passado vivia em simbiose com o seu torcedor, se calou em razão dos atrasos salariais. A torcida, unida até poucos dias em busca de uma marca histórica de sócios, agora briga entre si.
É um Vasco cada vez mais desconectado de seu torcedor. Consequentemente, de sua história e de si próprio.
Como se houvessem ali dois Vascos: o do vascaíno e o dos dirigentes. E nenhum vence.
Em sua coletiva pós-jogo, Abelão disse amar o Vasco, clube onde viveu quatro anos de glória como jogador na década de 70. Como treinador, porém, jamais foi feliz – nem em 2000.
Talvez seja a hora de repensar o relacionamento, para o bem dos três: clube, Abel e, principalmente, a torcida. Caminhar sozinho é a última coisa que o Vasco precisa neste momento.