Cancelamentos esportivos acontecem desde a Gripe Espanhola de 1918
Há semanas, desde a constatação da Covid-19 como pandemia, nos acostumamos com notícias sobre os cancelamentos dos eventos esportivos mais notáveis do mundo. Campeonatos de futebol, basquete, tênis e esportivos de tudo quanto é coisa não vão acontecer tão cedo…
Há semanas, desde a constatação da Covid-19 como pandemia, nos acostumamos com notícias sobre os cancelamentos dos eventos esportivos mais notáveis do mundo. Campeonatos de futebol, basquete, tênis e esportivos de tudo quanto é coisa não vão acontecer tão cedo…
Entre essas notícias, talvez o adiamento essa semana dos Jogos Olímpicos Tokyo 2020 tenha nos chamado mais a atenção pelo ineditismo dos fatos.
Olimpíadas já foram canceladas, mas nunca adiadas para o ano seguinte. Há, inclusive, quem considere essa alteração uma blasfêmia para as tradições do evento…
Mas fato é fato (mesmo que muitos por ai continuem desacreditando do que acontece em torno de todo o globo terrestre): o vírus desloca-se em todos os territórios, e junto com ele, desafia o status quo de governos, mercados e cotidiano dos seres humanos comuns que desejam resistir a esse problema sem precedentes.
Sem precedentes porque o mundo moderno, por mais que já tenha encarado outras epidemias e pandemias, encontra-se numa sinuca de bico sem manual e soluções certeiras e, por isso, apega-se onde e com quem pode para conseguir sair dessa menos lesionado possível.
Mas….. vale aqui lembrar que não se refuta ciência com opinião, e a História está ai para nos ajudar olhar para trás e projetarmos futuros possíveis.
A atual de pandemia de Covid-19 nos instiga o interesse pelo histórico da gripe espanhola e como esse episódio, há mais de 100 anos atrás, afetou o contexto esportivo brasileiro.
A gripe Espanhola de 1918
Na semana que se passou o grupo de pesquisa acadêmica sobre esporte, o Sport, publicou um texto muito elucidativo sobre o histórico de cancelamentos esportivos de 1918, época em que a gripe espanhola assolou o mundo.
A pesquisa foi organizada e escrita pelo professor Elcio Loureiro Cornelsen (FALE/UFMG) e chama-se “O futebol e a gripe espanhola“. Ela reune matérias e pesquisas atuais que tem se voltado ao tema, com a contribuição de pesquisadores, jornalistas e fontes de jornais da época.
Para quem não sabe, estima-se que o influenza de 1918 vitimou entre 50 e 100 milhões de pessoas no mundo, e por volta de 500 milhões de pessoas foram infectadas entre os anos de 1918 e 1919, coincidindo, inclusive, com o final da Primeira Guerra Mundial.
Nações como Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Estados Unidos estavam sob guerra, e a Espanha, que estava fora da peleja, acabou ganhando o nome da gripe por ter melhores condições de noticiar e contabilizar o contágio do vírus em meio ao caos mundial.
Supõe-se, inclusive, que o verdadeiro epicentro da pandemia da gripe espanhola tenha acontecido em St. Louis, no sul dos Estados Unidos. Já naquela época, em 1918, eventos públicos foram cancelados e aglomerações evitadas após o registro dos primeiros casos fatais no continente norte americano.
De acordo com Joachim Müller-Jung, a gripe espanhola fez com que escolas fossem fechadas em St. Louis, enquanto que na cidade da Philadelphia, na contra-mão das recomendações, eventos com aglomeração de público foram permitidos.
Resultados: enquanto em St. Louis o número de infectados subiu lentamente, os números na Philadelphia ficaram cinco vezes maiores, enterrando em média 250 pessoas diariamente.
O Brasil esportivo da gripe espanhola
De acordo com um texto recente do jornalista Paulo César Coelho (PVC), em 1918 aconteceu a paralisação do Campeonato Paulista de Futebol por três meses. Vale a pena relembrar que diferente de hoje, o grupo de risco de 100 anos atrás eram jovens entre 20 e 30 anos.
Apesar do Club Athletico Paulistano ostentar o título de campeão paulista do torneio de 1918, os relatos da imprensa da época nos sugerem que foi bem conturbada a interrupção e organização do campeonato de futebol em meio a gripe espanhola.
A exemplo do que acontece hoje no estádio do Pacaembu, o próprio Paulistano, de acordo com Adison Veiga, montou um hospital de campanha em sua sede social, com a disponibilidade de mais leitos, num gesto simpático às autoridades médicas da época (se hoje em dia países desenvolvidos sofrem com a escassez de leitos e respiradores, imagine naquela época?)
Hoje acompanhamos de perto a Federação Paulista de Futebol interrompendo o andamento dos campeonatos masculinos e femininos de futebol, assim como ligas e dirigentes esportivos amadores, suspendendo suas atividades, como aconteceu com a Copa Super Pioneer e com o Complexo do Campo de Marte, ambos da várzea paulistana.
De acordo com Mario Gonçalves, a gripe espanhola também desorganizou o calendário de outros dois torneios no Estado de São Paulo: o Campeonato do Interior e o Campeonato Paulista da Segunda Divisão.
Apesar dos transtorno e baixas daquele período, tanto o Brasil como os outros países duramente afetados pelos vírus se reergueram e quase se esqueceram dos episódio da crise sanitária centenária. O universo dos esportes também sobreviveu às adaptações da gripe espanhola.
Em tempos difíceis, desejo empatia, solidariedade e muita, muita paciencia para todos.
E bora aprender com um passado não muito distante.
#fiqueemcasa
#yomequedoencasa
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