Como os Bucs conseguiram que Tom Brady deixasse New England por Tampa Bay, na maior contratação de free agency na história da NFL
Segundo Rick Stroud, setorista dos Bucs no Tampa Bay Times, a inesperada escolha de Tom Brady pelos Buccaneers foi permeada de nuances e passou longe de uma negociação de contrato comum.
O jornalista publicou um relato cheio de informações de bastidores sobre uma das maiores contratações da história da Liga. Com informações de Jason Licht, GM de Tampa Bay diretamente envolvido nas tratativas com Tom Brady, o texto traz importantes insights sobre as prioridades do QB ao deixar os Patriots. Veja abaixo:
Primeiro contato
Era quarta-feira à noite, oficialmente o primeiro dia da nova temporada da NFL, quando os Bucs ligaram para Tom Brady.
O general manager dos Bucs, Jason Licht era scout em New England em 2000 e estava na sala do draft naquele ano quando os Patriots selecionaram o quarterback de Michigan na sexta rodada. Apesar disso, ele não tinha uma relação pessoal próxima com Brady.
No entanto, naquela noite, Licht falou primeiro. Então, foi a vez do técnico Bruce Arians.
“Eles são caras legais?”
A conversa durou cerca de 90 minutos. Brady falou boa parte do tempo. De fato, os Bucs foram para a conversa com um plano detalhado, e com a firme crença de que teriam que fazer uma apresentação agressivamente vendedora para ter qualquer chance de conseguir o quarterback vencedor de seis Super Bowls. No entanto, Brady entrevistou Licht e Arians tanto quanto eles fizeram perguntas a Brady.
A preparação dele, claro, era de outro nível. Ele sabia tudo sobre o ataque de Arians, e estava disposto a comandá-lo. Ele podia recitar, por posição, a lista das armas ofensivas dos Bucs. Ele estava intrigado pela noção de ter dois recebedores do Pro Bowl, Mike Evans e Chris Godwin. Ele não perguntou sobre eles como jogadores. Ele queria saber, “Eles são caras legais?”
Os melhores, assegurou Licht.
Quem entrevistou quem?
Estava claro que Brady tinha assistido alguns vídeos dos jogos dos Bucs, porque ele estava impressionado com como a defesa havia jogado bem nos últimos seis jogos da temporada regular de 2019, sob o coordenador defensivo Todd Bowles, o ex-técnico dos Jets.
A sensação era de que Brady estava recrutando os Bucs, e o jogador de 42 anos falava com o entusiasmo de um adolescente.
Ele falou muito sobre vencer, e estava claro para Licht e Arians que a chama da competitividade de Brady segue acesa e quente. E também que o escolhido por três vezes MVP da Liga ainda acha que tem algo a provar. Talvez para o técnico dos Patriots, Bill Belichick. Talvez só pra ele mesmo.
Os Bucs passaram por cada item da lista. Quando a ligação acabou, Licht e Arians olharam um pro outro incrédulos, como dizendo, “Uau, isso está mesmo acontecendo”.
Outras prioridades
Brady nunca falou de dinheiro. Na verdade, era a última das prioridades que seu agente, Donald Yee, pôs em discussão quando os Bucs ligaram ao meio-dia de segunda-feira, quando teve início na NFL o período de negociação da free agency. Brady assinou um acerto justo: dois anos, US$50 milhões garantidos. Ele pode ainda ganhar mais US$9 milhões em incentivos de performance.
Um exame médico foi marcado com médicos independentes de Nova York, onde Brady estava com seu filho mais velho, Jack.
Colaboração
Brady nunca pediu controle do ataque. Ele sabia que Arians, o coordenador ofensivo Byron Leftwich, o treinador de QBs Clyde Christensen e o assistente especial Tom Moore iriam colaborar com ele nos planos de jogo. Ele não pediu que nenhum jogador específico viesse com ele. Ele nem mesmo pediu para usar o número 12, que por enquanto pertence a Godwin.
De fato, Brady fez apenas um pedido depois de assinar: ele queria o telefone de todos os seus companheiros de time.
Incredulidade
Isso simplesmente não acontece. Afinal, Tom Brady, o maior quarterback que já jogou este jogo, não deixa New England depois de 20 temporadas e seis anéis do Super Bowl.
E se ele deixa, não é para se juntar aos Buccaneers, uma franquia com a pior porcentagem de vitórias (.387) dentre as maiores equipes esportivas profissionais.
Mas aconteceu. Uma bizarra convergência de talentos, timing e um jogador icônico buscando um novo desafio e, talvez, uma oportunidade para conseguir mais um anel do Super Bowl antes do fim.
Quem imaginaria?
Muitos times da NFL provavelmente pensaram que Brady nunca deixaria New England.
Mesmo depois de Brady lutar pra se tornar um free agent, e por uma cláusula em seu contrato que impediria que os Patriots pudessem aplicar a ele a franchise tag depois de 2019, não parecia provável que a melhor dupla técnico/quarterback da Liga poderia acabar.
Mas Belichick sempre manteve suas relações profissionais separadas das pessoais, e a lista de jogadores mais velhos com grandes contratos que o técnico dispensou é longa. Brady pode ter percebido há muito tempo que isso poderia acontecer com ele. É provavelmente esse o motivo de ter costurado tudo de modo a poder sair sob seus próprios termos.
Os Bucs perceberam essa vibração, também.
Novos rumos em 2020
Primeiro, eles tiveram que tomar uma decisão sobre seu próprio quarterback, Jameis Winston. É interessante que Licht tenha contratado Arians para melhorar a posição de quarterback, especificamente aquele que foi a primeira escolha geral dos Bucs em 2015, saído da Florida State. Em vez disso, Arians pode acabar cumprindo esse papel porque sua presença como técnico permitiu aos Bucs contratar Brady.
Apesar dos turnovers, Winston tinha a chance de ser o quarterback para 2020 até os últimos dois jogos da temporada passada. Os Bucs estava 7-7, surfando em uma sequencia de quatro vitórias. Eles foram melhores que Texans e Falcons nos dois jogos finais mas Winston jogou ambos os jogos no lixo. Apropriadamente, sua última jogada foi uma pick-six para um touchdown que deu fim a uma partida perdida na prorrogação em casa para Atlanta.
Analisando as opções
Enquanto isso, o departamento de scout de Tampa Bay estava seguindo de perto todos os potenciais quarterbacks da free agency, incluindo Brady.
Eles leram sobre como ele estava frustrado pela forma como os Patriots estavam jogando. Eles ouviram as conversas que Brady tinha na sideline sobre a dificuldade de seus recebedores tinham em ganhar espaço.
Carpe Diem
É difícil entrar na cabeça de outro homem, mas o post de Brady depois da morte de Kobe Bryant, da filha Gianna e mais sete pessoas, em um acidente de helicóptero em janeiro, destacou um espírito carpe diem.
“Quem vai descartar medo e amor e ódio”, escreveu Brady no Instagram. “Quem vai carregar o fardo do super-herói que ele era? A resposta é simples para mim: TODOS NÓS. Decida fazer a mudança em você mesmo. Se há algo que eu aprendi, e fui inspirado por, durante esse evento trágico, é isso: APROVEITE O DIA. É o que Kobe sempre fez. E é o que lee queria para nós, também.”
Bruce Arians decidido
Em Tampa, Bruce Arians queria seguir em frente sem Winston, e não indicava que mudaria de ideia.
No NFL Combine deste ano, em Indianapolis, Arians disse que não estava certo de quem efetivamente iria para a free agency. Por outro lado, o técnico deixou escapar que havia um quarterback que o faria pegar o telefone: “Tom Brady”, ele disse.
Havia outros quarterbacks sendo considerados, também, e Christensen fez relatórios sobre todos eles. Mesmo os que poderiam estar disponíveis em trocas: Brady, Teddy Bridgewater dos Saints, Philip Rivers dos Chargers. Todos eram considerados um upgrade em relação a Winston, cuja liderança no índice de interceptações da Liga (foram 30 em 2019) e cinco fumbles perdidos resultaram em 112 pontos de turnovers na temporada passada.
Por outro lado, quando veem os vídeos das atuações de Brady, os Bucs não veem qualquer deterioração de habilidades. Seu braço está vivo, e ele ainda se move bem o suficiente para sair de situações perigosas.
Negócio fechado
Assim, Brady assinou seu contrato na sexta de manhã. Em seguida, pelo Instagram, anunciou que estava a caminho dos Bucs. Desde então, free agents ao redor da Liga já expressaram interesse em juntar-se a ele para uma última corrida pelo Super Bowl.
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Licht e alguns outros têm trabalhado em seu escritório no CT AdventHealth, mas o distanciamento social não permitiu que ele sinta o quanto a torcida dos Bucs está animada com a chegada de Brady.
“De todas as razões para ficar feliz, essa é a numero um”, disse Licht. “Só fico feliz que durante um período como este, em que estamos todos passando por isso, há um respiro, algo por que nossa torcida possa ficar realmente muito feliz.”
De alguma forma, os Bucs – os Bucs! – conseguiram convencer o maior quarterback do planeta a ser o seu quarterback.
“Você poderia falar que eu provavelmente não serei muito popular neste verão em New England, onde eu passo as férias”, diz Licht.
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