Chegada do Esporte Interativo às transmissões do Facebook foi positiva, mas internet no Brasil é problema
A primeira transmissão de jogo envolvendo clube brasileiro na Libertadores aconteceu para o Facebook Watch na última quinta-feira (5), quando o São Paulo perdeu de virada para o Binacional por 2 a 1 no Peru. A partida teve audiência considerável, chegando perto de 1 milhão de espectadores de forma simultânea no segundo tempo.
O conteúdo da transmissão no Facebook Watch também melhorou sensivelmente em relação ao ano passado. Saiu a equipe do Fox Sports, entrou o time do Esporte Interativo, da Turner, uma marca mais acostumada à linguagem da internet. Marca que inclusive se mantém funcionando por causa dessa experiência, já que os canais de TV do EI foram encerrados há quase dois anos.
Com um pré-jogo especial começando uma hora antes da bola rolar, e toda uma atenção também ao pós, repercutindo as entrevistas na zona mista e o clima após a derrota tricolor na estreia da Libertadores, a live do Facebook Watch na página oficial da competição teve quase quatro horas de duração.
Além disso, o jogo teve equipe completa in loco no Peru para fazer a transmissão. Jorge Iggor, Mauro Beting e Rodrigo Fragoso fizeram o bom trabalho ao qual nos habituamos no Esporte Interativo da TNT e do Space na TNT. Pontuo essa questão porque hoje em dia está ficando mais comum ver canais de TV fazendo jogos assim com narrador e comentaristas no estúdio, apenas com reportagem no campo.
Se no lado do conteúdo a melhora foi visível, o Facebook ainda esbarra na má qualidade da internet brasileira. Só agora, no segundo ano de transmissões pela internet, a Conmebol fez um guia quase completo de como assistir aos jogos da Libertadores na plataforma de Mark Zuckerberg.
Eu vi o jogo do São Paulo com perfeição, qualidade total e nenhum travamento. Mas, como diriam as nossas mães, eu não sou todo mundo. Nas redes sociais, não foram poucos os relatos de dificuldade com o sinal da partida ao longo do duelo.
Nem todos possuem uma boa conexão de internet, conseguem ver a partida em aplicativos dedicados do Facebook Watch em SmartTVs, e – por isso o “quase” no parágrafo anterior – com internet cabeada, o que melhora consideravelmente a qualidade. Essa questão deveria ser melhor abordada nos materiais de comunicação.
É evidente que muita gente vai ver os jogos pelo celular, tablets, e não teria essa opção. Mas, pensando em quem tem como principal motivo de reclamação a perda do conteúdo na TV paga para a internet, isso deveria ser de mais amplo conhecimento.
Sem qualquer valor científico, apenas por curiosidade, perguntei aos meus seguidores no Twitter sobre o tipo de conexão que eles usam ao ver as transmissões do Facebook na televisão ou pelo computador. Quase 88% das respostas eram de internautas dizendo que assistem por dispositivos em rede wi-fi. Só 12% por internet cabeada.
Outro fator que irrita o torcedor é a exclusividade do Facebook nas transmissões de quinta-feira na competição. Mas essa reclamação é mais de quem possui TV por assinatura e tinha todo esse conteúdo à disposição até 2018. Os internautas que não são assinantes de TV paga acabaram “ganhando” esses jogos de graça com a única condição de terem uma conta no Facebook – além da boa conexão de internet.
Nesta semana, o Facebook Watch terá um enorme desafio. Não desagradar a torcida brasileira na transmissão exclusiva simplesmente do primeiro Grenal da história da Libertadores. Sim, o duelo entre Grêmio e Internacional será realizado na quinta-feira (12) com exclusividade de exibição da plataforma de internet.
Ainda é cedo para “chutar” número de audiência que essa partida poderá atrair, principalmente por ser uma forte rivalidade local que desperta curiosidade no país inteiro, tanto que forçou a Globo a transmitir para São Paulo a final da Copinha disputada pelos dois grandes gaúchos este ano.
Mas dá para imaginar o tamanho do barulho que será feito caso a tecnologia de internet não entregue o que o fã de futebol se acostumou a ter pela televisão nas últimas duas décadas. Mais uma prova de fogo para o Facebook.
Allan Simon é jornalista esportivo desde 2011, tendo passado por redações como o R7, Abril.com, UOL Esporte e Torcedores. Participou das coberturas de duas Copas do Mundo, duas Olimpíadas, dois Pans, e diversos outros momentos históricos do esporte brasileiro nesta década. Criador do Prêmio Torcedores de Mídia Esportiva. Atualmente comanda o Blog do Allan Simon, é colaborador do UOL e colunista do Torcedores, tendo também um canal no YouTube com análises, histórias e estatísticas de mídia esportiva e futebol em geral.
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