Segunda divisão do Campeonato Paulista chega a 6 rodadas com surpresas nas duas pontas da tabela; técnicos e jornalistas do interior fazem avaliação
O Campeonato Paulista da Série A2 completou no meio de semana a sua 6ª rodada com a consolidação de uma grande surpresa. Com 4 vitórias e 2 empates, o caçula Monte Azul lidera a competição com 14 pontos, três a mais que São Bernardo, Portuguesa Santista e Taubaté. Se considerarmos os dois últimos campeonatos, 21 pontos – em 15 jogos – serão suficientes para a classificação à fase final, quando os oito melhores irão se enfrentar no sistema mata-mata.
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Em 21 dias, cada uma das 16 equipes jogou seis vezes, uma maratona que não permite titubeios. O ‘fio da navalha’ no qual técnicos e jogadores têm de sobreviver pode ser exemplificado pelo XV de Piracicaba, um dos clubes que mais se planejou para a competição. O Nhô Quim estreou com uma derrota para a Portuguesa de Desportos, no Canindé. Na partida seguinte, em casa, vencia o Audax por 2 a 0 até os 35 minutos do segundo tempo, quando sofreu dois gols e amargou o empate. A ‘pane’ se repetiu na 3ª rodada: vencia o São Caetano fora de casa até os 86 minutos, mas sofreu a virada. O técnico Tarcisio Pugliese, que realiza trabalho de longo prazo no clube piracicabano, balançou no cargo após o empate em casa contra o São Bento. Uma vitória contra o Londrina, pela Copa do Brasil – no único ‘vão’ da Série A2 –, trouxe a confiança de volta ao Barão da Serra Negra. Vieram então as duas primeiras vitórias pelo Paulista, contra o Atibaia (fora) e o Rio Claro (casa). O torcedor quinzista foi do ‘caos’ à ‘euforia’ em apenas uma semana!
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O Taubaté é outro ‘tradicional’ que sofre para encontrar a paz. Liderou a competição após a 2ª, 3ª e 4ª rodadas, mas bastaram uma derrota em Monte Azul e um empate em casa diante do São Bento para uma nuvem cinza se instalar sobre o Joaquinzão – e incomodar o técnico Ivan Izzo, ex-goleiro do Palmeiras. “Além do desempenho da equipe em si, o torcedor taubateano traz uma mágoa do histórico recente de eliminações precoces ou traumatizantes”, explica João Victor Marcondes, da Rádio Cacique. “2019 era um ano especial por marcar os 40 anos da conquista da ‘Intermediária’ de 1979, mas o Taubaté foi eliminado na A2 com um 7 a 0 no agregado para o Água Santa nas quartas de final e depois caiu cedo demais na Copa Paulista, já com o Ivan no comando. O plantel para 2020 é considerado um dos melhores já formados para a disputa do acesso, consequentemente, a expectativa criada é enorme. Tudo isso contribui para o clima de tensão.” O Burro da Central não sente o gostinho da 1ª divisão desde 1984.
Situação mais dramática vive o Votuporanguense, que parecia bem preparado para a disputa. Na lanterna na competição, com apenas dois pontos ganhos de 18 disputados, o clube alvinegro já praticamente não alimenta mais o sonho do acesso. A goleada por 4 a 0 sofrida em casa logo na 1ª rodada, para o Juventus, escancarou a fragilidade da equipe. Mesmo a troca de comando – Júnior Rocha entrou no lugar de Marcelo Henrique Dias, demitido após a 4ª rodada – não se mostrou suficiente para o início de uma reação. O desespero já tomou conta do CAV, que agora só quer evitar o rebaixamento para a terceira divisão. Não será nada fácil.
G8: Monte Azul 14, São Bernardo 11, Portuguesa Santista 11, Taubaté 11, Juventus 9, Sertãozinho 9, São Caetano 8, Audax 8
XV de Piracicaba 8, Rio Claro, 7, Atibaia 7, São Bento 6, Red Bull Brasil 6, Penapolense 5
Zona de rebaixamento: Portuguesa 4, Votuporanguense 2
A CAMPANHA DOS 10 TIMES DO INTERIOR
1º Monte Azul (14 pontos)
O desempenho é consistente: em casa, bateu Rio Claro e Taubaté e empatou com o Juventus; fora, venceu Sertãozinho e Votuporanguense, além de empatar com o São Caetano. É o único invicto. O AMA disputou a 1ª divisão do Paulista apenas uma vez, em 2010. Sonha em voltar à elite justamente no ano do seu centenário, neste 2020.
O gaúcho Luciano Dias transitou por cargos diretivos, mas retomou a carreira de treinador | Foto: Arquivo Pessoal
O técnico Luciano Dias não esconde a sua surpresa com o desempenho do Azulão. “Se no início da competição a gente pudesse fazer uma avaliação, eu não me colocaria nesta condição, como líder, até pela tradição de outras equipes ou investimentos que nós não temos aqui. Mas, felizmente, o trabalho está surtindo efeito, os meninos têm se empenhado ao máximo e a gente está aproveitando este momento.” Luciano cita a ‘continuidade do trabalho’ como um diferencial do Atlético Monte Azul. “O grupo é jovem, tirando o Gilsinho, o Juca e o Jô, os demais atletas têm pouco histórico de Série A2. Acho que demos a importância da manutenção de sete ou oito jogadores que conquistaram o acesso da Série A3 no ano passado. Agregamos algumas peças experientes e mais alguns jovens que a gente viu que tinha potencial.” O ex-zagueiro do Grêmio de Porto Alegre prega cautela após seis rodadas. “Ainda está no início, praticamente 1/3 da competição, então tem muita coisa para acontecer ainda. A gente sabe que passando as rodadas, os adversários vão crescendo, vão respeitar mais o Monte Azul e as dificuldades vão aumentar. Em algum momento a gente vai oscilar, mas estamos trabalhando para manter uma regularidade.” Sobre o ‘equilíbrio da competição’, Luciano conclui. “Tem as surpresas do lado negativo, que a gente sabe que pode acontecer também, a Portuguesa, o Votuporanguense. O XV teve um início ruim, mas a gente sabia que cresceria na competição. Acho que o São Caetano é um time que vai chegar forte.”
4º Taubaté (11 pontos)
O Burro da Central começou com um empate fora de casa contra o Audax. Depois, engatou três vitórias seguidas contra Votuporanguense (C), Portuguesa de Desportos (F) e Penapolense (C). A quebra da invencibilidade em Monte Azul Paulista seguida de um empate em casa contra o São Bento de Sorocaba foram o suficiente para gerar instabilidade ao técnico Ivan Izzo, que não goza da simpatia de boa parte da torcida taubateana.
6º Sertãozinho (9 pontos)
Terceiro e último clube do interior a integrar o G8, o Sertãozinho tem tropeçado. O time comandado pelo veterano José Carlos Serrão estreou vencendo a Lusa Santista (C). Após arrancar um ótimo empate com o Juventus na Rua Javari, superou o São Bento em Sorocaba. Perdeu a invencibilidade ao ser goleado em casa pelo Monte Azul e vem de empates contra São Caetano (F) e Atibaia (C).
9º XV de Piracicaba (8 pontos)
Em ascensão, o XV de Piracicaba está a um passo do G8. O técnico Tarcisio Pugliese descreve a evolução de seu time. “A gente começou o campeonato fazendo um jogo razoável contra a Portuguesa e bons jogos contra o Audax e o São Caetano, quando saímos na frente, mas sofremos gols no final dos jogos. Depois, mais um jogo muito forte contra o São Bento. Finalmente, os resultados começaram a aparecer, primeiro na Copa do Brasil, depois no Paulista. A gente sabia que ia ter um início um pouco mais difícil porque dos atletas que têm jogado com mais frequência, quatro ou cinco chegaram em janeiro. Leva um período para que esses atletas possam se conhecer, estar num ritmo melhor, se adequar ao nosso modelo de jogo. Isso está acontecendo, a equipe vem evoluindo. Além disso, tivemos muitos problemas com lesão, um número grande de jogadores no departamento médico, o que obviamente dificultou todo esse processo. O momento é bastante positivo.”
Tarcisio Pugliese resistiu à pressão pelos maus resultados do início de temporada | Foto: Divulgação/XV de Piracicaba
10º Rio Claro (7 pontos)
Em dificuldades financeiras, a briga do Rio Claro é contra o rebaixamento. Estreou perdendo em Monte Azul Paulista, mas em seguida fez valer o ‘fator casa’ vencendo Penapolense e Red Bull Brasil. Perdeu em Santos para a Lusa local, ficou no zero com o Juventus (C) e foi batido em Piracicaba pelo XV. O técnico Adilson Teodoro se vira como pode.
11º Atibaia (7 pontos)
Ah, que falta uma casa faz! Como visitante, o Atibaia arrancou três bons empates, contra Portuguesa Santista, São Bernardo e Sertãozinho. No entanto, ter de mandar seus jogos em campo neutro – o estádio de Atibaia não reúne condições – fatalmente contribuiu para a demissão do técnico Wilson Júnior, no meio de semana. Jogando em Americana, o Falcão obteve uma vitória (Votuporanguense), um empate (Red Bull Brasil) e uma derrota (XV de Piracicaba). É o clube que mais empatou – quatro vezes. O novo técnico é Carlos Roberto, o Carlão.
12º São Bento (6 pontos)
A situação do São Bento merece atenção. O clube de Sorocaba é o único da A2 que tem calendário nacional para o restante do ano – disputará a Série C –, mas não deslancha. Com apenas uma vitória em seis jogos, o time treinado por Léo Condé sofre para balançar as redes – fez apenas quatro gols. Sem vencer há quatro jogos, o Bentão precisa reagir se quiser brigar pelo acesso. Perdeu na estreia para o São Bernardo (F). Em casa, venceu a Portuguesa de Desportos, mas perdeu pro Sertãozinho. Seguiram-se então três empates: XV de Piracicaba (F), Red Bull Brasil (C) e Taubaté (F).
Nilson Duarte, da Rádio Cruzeiro FM de Sorocaba, explica o que está havendo com o Bentão. “Depois da queda para a Série C do Brasileiro no ano passado, a diretoria fez uma grande reformulação no elenco, só restaram quatro jogadores daquele grupo: os volantes Fábio Bahia e Doriva, o goleiro Paulo Vitor e o lateral direito Marcos Martins. Uma das grandes preocupações do São Bento até o momento na A2 é a situação física. O time até tem um bom desempenho no início das partidas, mas acaba perdendo a força no final dos jogos, inclusive tomando gols ‘estranhos’. O técnico Léo Condé tem um trabalho ainda muito verde à frente do São Bento, não conseguiu impor sua filosofia de trabalho. Acho que os próximos jogos, contra a Portuguesa Santista fora e o São Caetano em casa, serão primordiais pra sequência de trabalho do Condé. Num primeiro momento, o objetivo do São Bento é estar entre os oito. Depois, é ‘arrumar essa casinha’ para vir forte na fase final.”
13º Red Bull Brasil (6 pontos)
Utilizando apenas atletas com menos de 23 anos, o Red Bull Brasil parece estar finalmente recuperando a paz perdida após a saída de Antônio Carlos Zago da Red Bull – o ex-zagueiro deixou o clube de Bragança Paulista para trabalhar no Japão. Vinicius Munhoz teve de ausentar-se do projeto de Jarinu para acudir a matriz em Bragança Paulista. De forma interina, Alexandre Lemos, do sub-20, assumiu o comando e acumulou três empates (Atibaia e São Bento fora, São Bernardo em casa) e duas derrotas (Rio Claro fora, Audax em casa). Bastou Munhoz, ex-Ferroviária, ‘sentar-se ao banco’ para o Toro Loko conquistar sua primeira vitória, contra o São Caetano em casa.
Vinicius Munhoz socorreu o Red Bull Bragantino, mas está de volta a Jarinu | Foto: Divulgação/RB Bragantino
O gaúcho de 41 anos avalia a turbulência do início de temporada. “Mesmo diante dos contratempos, o Red Bull Brasil vem realizando bons jogos. A equipe é jovem, mas com potencial de crescimento. Temos que dar o mérito aos atletas, ao Lemos e à comissão técnica que conduziram o trabalho. Recebi uma equipe bem treinada, organizada, o que aumenta a nossa expectativa para a sequência da competição”. Em relação à meta do clube na A2 [mesmo que fique entre os dois melhores, o RB Brasil não pode subir para a A1 porque lá está o Red Bull Bragantino, o outro clube da multinacional austríaca], Munhoz quer dar ‘tempo ao tempo’. “Nossa prioridade é o jogo seguinte. Tudo é ainda muito recente, por isso estabelecer objetivos de curto prazo é importante. Pensar na preparação adequada e na melhor performance possível nos jogos é o foco para o momento.”
14º Penapolense (5 pontos)
A vitória em casa sobre o São Caetano na 1ª rodada fez a torcida do Penapolense acreditar numa boa campanha, mas a sequência foi desanimadora, com três derrotas seguidas: Rio Claro (F), São Bernardo (C) e Taubaté (F). Edison Só não resistiu e Alberto Félix, ex-centroavante do Santos, assumiu o Pantera, que somou mais dois pontinhos ao empatar com o Votuporanguense (C) e a Portuguesa Santista (F). Não resta dúvidas, a prioridade agora é evitar a degola.
16º Votuporanguense (2 pontos)
A lavada que tomou do Juventus na 1ª rodada, 4 a 0, em casa, foi o prenúncio de um início de ano bastante complicado. Vieram as derrotas para Taubaté (F) e Atibaia (C). O empate contra a Portuguesa de Desportos (C) derrubou Marcelo Henrique. Já com Júnior Rocha, campeão da Copa Verde pelo Luverdense-MT em 2017, empate com o Penapolense (F) e derrota para o Monte Azul (C). A luta contra o fantasma do rebaixamento será na base da foice.
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COPA DO BRASIL
Dos quatro clubes do interior que disputaram a 1ª fase, três se classificaram. Somente o Novorizontino ficou pelo caminho ao ser derrotado pelo Figueirense por 2 a 1, no Jorjão.
A Ponte Preta venceu o Novo Hamburgo-RS fora de casa (2 a 1) e agora irá receber o Vila Nova goiano no Majestoso. Se vencer, deverá ter o Atlético-MG pela frente – o Galo vai encarar o Afogados de Ingazeira-PE. Já a Ferroviária derrotou o Avaí por 2 a 0 na Fonte Luminosa e terá pela frente, mais uma vez em casa, o surpreendente Águia Negra, atual campeão sul-matogrossense – o vitorioso irá cruzar com o vencedor de Operário de Ponta Grossa-PR e América Mineiro.
O outro classificado é o XV de Piracicaba, que eliminou o Londrina pelo placar mínimo, no Barão. Seu próximo adversário será o Juventude de Caxias do Sul, em ‘Pira’. River-PI ou América-RN poderá ser o futuro rival do Nhô Quim.
A 2ª fase também será disputada em partida única, mas em caso de empate no tempo normal, a decisão será nos pênaltis. O Red Bull Bragantino, campeão da Série B em 2019, já tem vaga assegurada nas oitavas de final.
CAMPEONATO PAULISTA A1 – Clique aqui para ver a tabela detalhada
Dos 16 participantes, nove são do interior: Botafogo, Ferroviária, Guarani, Inter de Limeira, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Ponte Preta e Red Bull Bragantino. Corinthians, Palmeiras, São Paulo (capital), Santos (litoral), Santo André e Oeste (Grande São Paulo) completam a lista.
CAMPEONATO PAULISTA A2 – Clique aqui para ver a tabela detalhada
Dos 16 participantes, dez são do interior: XV de Piracicaba, Taubaté, Atibaia, Monte Azul, Penapolense, Red Bull Brasil, Sertãozinho, São Bento, Rio Claro e Votuporanguense. Portuguesa e Juventus (capital), Portuguesa Santista (litoral), São Bernardo FC, São Caetano e Osasco Audax completam a lista.
CAMPEONATO PAULISTA A – Clique aqui para ver a tabela detalhada
Dos 16 participantes, 13 são do interior: Batatais, Barretos, Capivariano, Comercial, Desportivo Brasil, Linense, Marília, Noroeste, Olímpia, Paulista, Primavera, Rio Preto e Velo Clube. Nacional (capital), EC São Bernardo e Grêmio Osasco (Grande São Paulo) completam a lista.
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