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Iberê Riveras: Cúmplice do caos, FPF chancela retorno do Mogi Mirim à última divisão do Campeonato Paulista

Por Iberê Riveras em 22/02/2020 13:43 - Atualizado há 3 anos

Em meio à ebulição política e guerra judicial, tradicional clube do interior sequer tem um presidente legitimado; Federação ignora fatos e expõe a cidade a mais uma vergonha

Todo o vexame ao qual a torcida mogimiriana foi submetida desde 2014 parece não ter sido o suficiente para que a Federação Paulista de Futebol (FPF) tivesse uma gota de sensatez na reunião do Conselho Arbitral da 4ª divisão do Campeonato Paulista no último dia 29 de janeiro. Representado pelo ‘presidente que não é presidente’ Luiz Henrique de Oliveira, o LHO, o Sapão da Mogiana, após um ano de inatividade, anunciou o seu retorno às competições oficiais. O último ano em que o Mogi havia disputado esta divisão havia sido no longínquo 1977.

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Aos olhos do amante do futebol, a novidade trouxe alegria, afinal, muito se especulou no último ano sobre o desaparecimento definitivo do clube. Afundado na maior crise de sua história, o Sapo havia acumulado cinco rebaixamentos em seis anos. Pior do que isso, o clube tornou-se uma fonte de escândalos, quase todos com alguma relação a Rivaldo, o maior jogador da história do clube que se tornou presidente em 2008, após o falecimento de Wilson Fernandes de Barros, o inesquecível patrono que conduziu o alvirrubro do ‘nada’ a se tornar um dos maiores e mais simpáticos clubes do interior paulista.

Quem não se lembra do “Carrossel Caipira de 1992 – veja documentário aqui – comandado por Oswaldo Alvarez, o Vadão, que revelou ao Brasil grandes jogadores como Válber e Leto, além daquele que viria a ser um dos maiores jogadores do futebol mundial de todos os tempos, Rivaldo? O mágico camisa 11 – às vezes 10 – das pernas compridas e arqueadas foi eleito pela FIFA o melhor jogador do mundo em 1999, quando atuava pelo Barcelona, além de ter sido peça-chave na conquista do pentacampeonato mundial do Brasil, na Copa do Mundo de 2002, ao lado dos ‘Ronaldinhos’. Apesar da artilharia do ‘Fenômeno’, há quem diga que foi Rivaldo o craque daquele Mundial.

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Só que a alegria nostálgica do torcedor informal sobre a volta do Sapão esconde uma realidade tenebrosa que praticamente somente a população de Mogi Mirim, cidade situada a 160 quilômetros da capital, conhece. O ano sabático que o clube tirou não só não acalmou a guerra política pelo controle do clube como ganhou contornos ainda mais perversos, com uma infinidade de processos judiciais e situações simplesmente surreais. É absolutamente impossível compreender a complexidade do caso sem muito conversar com personagens que têm vivido o dia-a-dia do clube. Se a opinião das partes envolvidas sempre carrega um viés político, a saída foi ler e ouvir dois dos mais preparados jornalistas esportivos da cidade: Diego Ortiz, do jornal A Comarca, e Lucas Valério, do O Popular. Profissionais que além do título de comunicadores caminham a passos largos para se tornar craques do direito esportivo. Afinal, como diz Ortiz, “infelizmente o Mogi Mirim se tornou notícia mais nos tribunais do que dentro de campo”. A Federação Paulista finge que não sabe disso.

“Será o fim do Mogi Mirim Esporte Clube?” (04/02/19), “Presidente do MMEC admite que pode fechar o clube” (10/02/19), “Estádio Vail Chaves é interditado e MMEC libera atletas” (24/02/19), “Assembleia fora do Vail Chaves elege Bernardi presidente” (16/09/19), “MMEC tem eleições para presidente neste sábado” (25/11/19), “Juiz manda e cartório registrar destituição de Luiz Henrique de Oliveira” (03/12/19), “Luiz Henrique de Oliveira diz que oposição roubou Santa Casa e tem ‘mensaleiros’” (09/12/19), “Juiz dá prazo de 5 dias para Luiz Oliveira sair do Mogi” (12/12/19), “Celso Semeghini é eleito presidente do Mogi Mirim, mas grupo sofre revés na Justiça” (17/12/19), “MMEC pode começar 2020 sem presidente registrado” (23/12/19), “FPF confirma Mogi Mirim na disputa da Bezinha” (02/02/20), “Vigilância aponta 9 inconformidades no Vail Chaves” (09/02/20), “’Não entrem nessa’, diz Sindicato, sobre peneira do MMEC” (10/02/20).

Estes são os destaques esportivos relacionados ao Mogi Mirim do centenário jornal A Comarca do último ano. Em cada matéria, uma infinidade de desdobramentos da disputa dos dois grupos que pleiteiam o comando: um, liderado por Luiz Henrique Oliveira, que chegou ao clube pelas mãos de Rivaldo e que hoje, mesmo sem o reconhecimento em cartório, exerce a função de presidente; o outro, liderado por Celso Semeghini, que representa uma ala mais tradicional, ligada à gestão Wilson de Barros.

A era Barros – de 1982 a 2008

O estádio Vail Chaves sempre foi de propriedade do MMEC – doado oficialmente pela Companhia de Força e Luz de Rio Claro em 1947, da qual Vail era o presidente –, mas passou por várias reformas e ampliações, algumas delas realizadas na gestão Barros. Além das glórias esportivas – veja aqui um documentário sobre o ‘Carrossel Caipira’ –, o presidente Wilson Fernandes de Barros proporcionou ao Mogi Mirim um considerável patrimônio. Logo no início dos anos 90, construiu dois centros de treinamento, um em Limeira, outro em Mogi Guaçu. Também adquiriu em nome do clube 14 apartamentos, que abrigavam os técnicos e jogadores mais renomados. Não havia luxo, mas ficavam em um condomínio considerado ‘muito bom’. O Sapo também dispunha de três ‘senhores’ ônibus, que se encarregavam de transportar tanto os atletas profissionais quanto os das categorias de base.

A era Rivaldo – de outubro de 2008 a julho de 2015

O jornalista Lucas Valério explica: “Quando do falecimento do Wilson de Barros, a diretoria do Mogi tinha a ideia de terceirizar o futebol. Surgiram então mais de 20 investidores interessados no Sapo [o mascote foi adotado porque na região onde a cidade foi fundada havia muitos brejos com uma impressionante quantidade do anfíbio], mas quando Rivaldo manifestou o desejo de assumir o clube, não houve como dizer ‘não’, pela identificação do atleta com o clube e, por que não?, pela sua fama, seu capital, seus relacionamentos. De toda forma, a diretoria do Mogi Mirim quis proteger-se de eventuais dissabores e exigiu que o craque assumisse alguns compromissos. Na ocasião, Wilson Bonetti, cidadão mogimiriano e ‘braço direito’ de Rivaldo, preparou e publicou uma carta na qual dava garantias”. Uma delas era “que o ex-atleta Rivaldo manifestou o desejo de assumir integralmente o comando do clube, oferecendo-se para pagar o passivo com o compromisso de manter o patrimônio e arcar com todas as despesas para sua manutenção, afirmando, ainda, que o patrimônio do clube não será dilapidado”.

O acordo foi fechado e, com o apoio de ‘parceiros’ e ‘amigos’, Rivaldo conciliou a reta final de sua carreira, quando jogou no Uzbequistão e em Angola – e até no São Paulo e no São Caetano –, com a presidência do Mogi. Em 2014, quando o pernambucano aportou definitivamente em Mogi, a lista de medidas estapafúrdias já era volumosa. Provavelmente, há algo que o gênio da bola jamais assimilou: ele não era o dono, mas sim o presidente do clube. Evangélico, trocou o nome do estádio Papa João Paulo II – escolhido pelo ex-presidente Barros – para Romildo Vitor Gomes Ferreira, seu pai. Elegeu o filho presidente do Conselho Deliberativo e sua própria esposa, vice. Sentindo-se injustiçado, deixou a presidência em julho de 2015, passando a peteca para Luiz Henrique de Oliveira e o português Victor Simões. Rivaldo é acusado de vender o patrimônio do clube, passar os dois centros de treinamento para o seu nome e receber em sua conta pessoal dinheiro de parceria com empresa do Uzbequistão.


Luiz Henrique de Oliveira chegou ao Mogi Mirim pelas mãos de Rivaldo | Foto: Facebook

A era Luiz Henrique de Oliveira, o LHO – de julho de 2015 até hoje

A quantidade de rolos que se sucederam após a conturbada saída de Rivaldo é digna de um livro – talvez uma tragicomédia judicial – que poderia muito bem ser escrito pelos brilhantes Diego Ortiz e Lucas Valério. Mas, em se tratando da história do Mogi Mirim Esporte Clube, não há motivos para graça. LHO assumiu a presidência em julho de 2015, ao lado do investidor Victor Simões. Três meses depois, os dois se desentenderam e Oliveira ficou com o comando do clube. O mandatário alega que se desentendeu com Simões por ele não querer pagar a Rivaldo o que havia sido combinado anteriormente e por não concordar com indicações feitas pelo investidor e para o conselho deliberativo do Mogi. Em 2018, Oliveira fez parceria com dois empresários, o brasileiro Diogo Medeiros da Silva e o sul-coreano Hyun Seok Choi, para terceirizar o futebol. O negócio não foi à frente e também foi parar na Justiça.

A estranha condescendência da FPF

Todos sabemos como funciona o sistema judiciário no Brasil, este país tão sofrido. Depois de uma decisão, há outra que a derruba. Algum tempo depois, surge nova ordem, que na prática não significa nada. Este balaio de gatos infelizmente só prova uma coisa: que o Mogi Mirim ainda levará um bom tempo para encontrar a sua paz. Todos podem compreender isto, menos a entidade que rege o futebol paulista e deveria zelar pelos seus clubes filiados.

No dia 3 de dezembro de 2019, o jornal A Comarca estampou em sua sessão de Esporte: “Juiz manda e cartório registra destituição de Luiz Henrique de Oliveira”. No dia seguinte (4), a reportagem do jornal O Popular acompanhou a delegação provisória do MMEC em reunião na Federação Paulista de Futebol. O grupo de oposição de LHO, liderado pelo presidente (?) João Carlos Bernardi foi recepcionado por Gustavo Normanton Delbin, vice-presidente e responsável pelo Departamento de Registo, Transferências e Licenciamento, e por Gabriel Delbem Bellon, advogado do Departamento de Filiação.

Treze dias depois (17), A Comarca manchetou: “Celso Semeghini é eleito presidente do Mogi Mirim, mas grupo sofre revés na Justiça”. O conteúdo da última matéria do ano escrita por Diego Ortiz para A Comarca no dia 23 esclareceu que “em função de duas tentativas de registros de eleições diferentes, o Mogi Mirim pode começar 2020 sem um presidente registrado em cartório”. E assim foi, o Sapo fechou o ano sem um mandatário legitimado. Um caos.

Nos primeiros dias do ano corrente não houve novidades em relação a este caso na esfera jurídica, de modo que era difícil imaginar a Federação Paulista de Futebol receber algum dirigente mogimiriano no seu Conselho Arbitral da 4ª divisão – curiosamente, no site da FPF, o presidente (em exercício) do Mogi Mirim é Rosane Lúcia de Araújo, irmã e vice de LHO quando o então presidente foi suspenso pela Justiça Desportiva até que o clube efetuasse o pagamento de valores devidos referentes a despesas de jogos.


Sem constrangimento, LHO compareceu ao Arbitral | Foto: Facebook

Eis que, por alguma destas razões que custamos a compreender, a FPF não só recebeu Luiz Henrique de Oliveira como legítimo presidente do Mogi Mirim como chancelou a participação do clube na 4ª divisão do campeonato paulista deste ano. Nem mesmo a visita do grupo opositor a LHO à sede da FPF há menos de três meses foi capaz de sinalizar o racha político infernal a que o clube está submetido. Há quem diga que, mesmo ausente do clube, Rivaldo ainda exerce algum tipo de influência nos bastidores. O fato é que o nobre Sapo da Mogiana vai voltar à ativa, ok, mas só Deus sabe na mão de quem. Será Justiça, cedo ou tarde, que decidirá o grupo legitimado que comandará a agremiação. Agora, faz sentido submeter um clube nestas condições à disputa de uma competição? Vale o risco de ficar sem time, perder de WO, já que o trabalho que se inicia pode ser interrompido a qualquer momento? Parece ser a fórmula do caos total.

Leia matérias sobre este assunto publicadas em 2017 pelo Torcedores.com
Derrocada do Mogi Mirim começou após pentacampeão mundial assumir clube
Pentacampeão Rivaldo é alvo de protesto em Mogi Mirim

CAMPEONATO PAULISTA DA 4ª DIVISÃO

Clique aqui para ver a tabela com os 42 clubes participantes e aqui para acessar o regulamento da competição.

CAMPEONATO PAULISTA A1 – Clique aqui para ver a tabela detalhada

Dos 16 participantes, nove são do interior: Botafogo, Ferroviária, Guarani, Inter de Limeira, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Ponte Preta e Red Bull Bragantino. Corinthians, Palmeiras, São Paulo (capital), Santos (litoral), Santo André e Oeste (Grande São Paulo) completam a lista.

CAMPEONATO PAULISTA A2 – Clique aqui para ver a tabela detalhada

Dos 16 participantes, dez são do interior: XV de Piracicaba, Taubaté, Atibaia, Monte Azul, Penapolense, Red Bull Brasil, Sertãozinho, São Bento, Rio Claro e Votuporanguense. Portuguesa e Juventus (capital), Portuguesa Santista (litoral), São Bernardo FC, São Caetano e Osasco Audax completam a lista.

CAMPEONATO PAULISTA A3 – Clique aqui para ver a tabela detalhada

Dos 16 participantes, 13 são do interior: Batatais, Barretos, Capivariano, Comercial, Desportivo Brasil, Linense, Marília, Noroeste, Olímpia, Paulista, Primavera, Rio Preto e Velo Clube. Nacional (capital), EC São Bernardo e Grêmio Osasco (Grande São Paulo) completam a lista.

COPA DO BRASIL

Dos quatro clubes do interior que disputaram a 1ª fase, três se classificaram. Somente o Novorizontino ficou pelo caminho ao ser derrotado pelo Figueirense por 2 a 1, no Jorjão.
A Ponte Preta venceu o Novo Hamburgo-RS fora de casa (2 a 1) e agora irá receber o Vila Nova goiano no Majestoso. Se vencer, deverá ter o Atlético-MG pela frente – o Galo vai encarar o Afogados da Ingazeira-PE. Já a Ferroviária derrotou o Avaí por 2 a 0 na Fonte Luminosa e terá pela frente, mais uma vez em casa, o surpreendente Águia Negra, atual campeão sul-mato-grossense – o vitorioso irá cruzar com o vencedor de Operário de Ponta Grossa e América Mineiro.
O outro classificado é o XV de Piracicaba, que eliminou o Londrina pelo placar mínimo, no Barão. Seu próximo adversário será o Juventude de Caxias do Sul, em ‘Pira’. River-PI ou América-RN poderá ser o futuro rival do Nhô Quim.
A 2ª fase também será disputada em partida única, mas em caso de empate no tempo normal, a decisão será nos pênaltis. O Red Bull Bragantino, campeão da Série B em 2019, já tem vaga assegurada nas oitavas de final.

E-mails com sugestões, correções ou críticas devem ser enviados para ibere.riveras@gmail.com

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