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Aira Bonfim: Futebol: espaço de visibilidade Trans

O futebol já se abriu ao tema?

Aira Bonfim
Colunista do Torcedores.com.

O futebol já se abriu ao tema?

Facilmente associamos o ambiente e a prática do futebol mainstream como experiências homofóbicas, transfóbicas e misóginas. E por essa razão – e sem surpresas, quase nada acolhedoras.

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Entretanto, a amplitude social atingida por esse esporte nos permite observar não só categorizações de “fobias”, mas também reconhecer sim experiências positivas de associação social a esse jogo.

A última 4a feira, dia 29 de janeiro, celebrou-se o dia nacional da visibilidade trans. Um dia de luta pelos direitos das pessoas transgêneras e travestis no Brasil.

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Alvos de preconceito e marginalização, travestis, homens e mulheres trans muitas vezes tem muita dificuldade de inserção social, e mais do que isso, são recorrentemente alvos de crimes de ódio por pessoas intolerantes (ou adjetivos piores…).

Mas será que o futebol já se abriu para esse tema ou continua vigoroso no seu retrocesso?

O que é uma pessoa Trans?

Transexuais são pessoas que não se identificam com o gênero designado no nascimento. Ou seja, uma pessoa que nasceu com uma vagina (critério biológico), mas que se reconhece no mundo como homem, ou que nasceu com um pênis, mas que se vê como mulher.

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Antes que venham me dizer que “ah…. mas tá na moda esse negócio de ser bi, bixa, poliamor, sapatão e a porra toda!“, vou respirar e tentar ser didática.

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Olha, a identidade de gênero é uma coisa, ou seja, ela é trans ou cis (como são denominadas as pessoas que estão alinhadas com o sexo designado por seu corpo ao nascer – eu por exemplo). Já a orientação sexual, ou seja , por quem nos atraímos, é outra coisa. Trans e cis podem ser heterossexuais, homossexuais, bissexuais e por ai vai.

E lembremo-nos! Não vivemos em gavetas fixas. Essas formulações modificam-se e complexificam-se com o tempo. Afinal, o ser humano não curti ser um bicho óbvio. Never!

Mas e o futebol com isso?

Há alguns anos atrás fui surpreendida pela existência de uma equipe de futebol de homens trans: os Meninos Bons de Bola.

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Só naquela ocasião percebi que no meu cotidiano eu não só não convivia com nenhum homem trans, como pouco sabia sobre as formas de (re)existência desse grupo na minha cidade, no país e no mundo.

Não tinha assistido ao repertório de filmes que existe hoje e nem a novela da Globo havia abordado o assunto.

Por incrível que pareça, o futebol, que na sua esfera midiática e masculina nada tem de acolhedor e inclusivo para minorias de gênero (e até para mulheres), inspirou na época a criação de um importante espaço de socialidade e de prática esportiva entre esses garotos.

Uma modalidade inóspita se ressignificou como um caminho possível, e nela foi forjada o 1º time de futebol amador de homens transexuais do Brasil. “Nossos corpos em quadra é arte, ativismo e resistência!” é a bandeira (rosa e azul!) carregada pela equipe e seus entusiastas (como eu!)

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Os treinos acontecem aos domingos bem cedo, numa quadra cedida por um sindicato perto da Catedral da Sé, no centro de São Paulo.

Em 2017 tive a oportunidade de entrevistar dois jogadores do MBB, o Rapha e o Pedro. Esse texto até hoje me ensina e facilita a compreensão de outras pessoas para com o tema. Afinal, você conhece um homem trans?  

Foto Douglas Magno

Agora Marcelo!

Essa semana um colega e pesquisador do tema, o Maurício Rodrigues, compartilhou uma matéria que me causou inicialmente espanto e um grata surpresa.

O Globo Esporte havia produzido uma reportagem intitulada de Metamorfose, com texto e vídeo, no qual trazia a público o caso da ex-jogadora do Corinthians, Marcela Nascimento Leandro, que se assumiu como homem trans e vive no momento seu período de transição, assumindo, inclusive, o seu nome social como Marcelo Nascimento Leandro.

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Vale a pena destacar que o nome social é o nome pelo qual as pessoas preferem ser chamadas cotidianamente, em contraste com o nome oficialmente registrado em cartório, o nome civil, que não reflete sua identidade de gênero.

Marcelo, ainda como Marcela, chegou a competir em diferentes equipes de futebol de mulheres e ganhou três títulos mundiais com a seleção nacional de futsal e um Campeonato Brasileiro com o Corinthians Feminino.

Além de familiares, o vídeo de quase 17 minutos traz depoimentos de nomes esportivos como Vadão (ex-técnico da seleção brasileira), Erica Cristiano (jogadora do Corinthians e da seleção nacional) e do Arthur Elias (técnico do Corinthians).

Marcelo revela no episódio que não estava bem e demorou para compreender – a despeito do sucesso como desportista -, o que lhe faltava como ser humano.

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O depoimento é emocionante e a visibilidade do caso de Marcelo é oportuna e necessária para qualificar o debate em torno das pessoas trans, dentro e fora do futebol.

E Agora?

Esses exemplos nos geram fôlego e forças, uma vez que os desafios para qualificar as vidas trans são muitos e estão em jogo!

Pessoas e ambientes transfóbicos ainda são inúmeros, mas os passos estão sendo dados para capítulos mais generosos com esse público.

E como já diria Chico Science:

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“um passo a frente e você não está no mesmo lugar!”

 

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