Atacante do Iranduba desistiu do atletismo e superou dificuldade financeira no futebol
Antes de estreia pelo Iranduba, ex-velocista Érica Gomes conta como seguiu no futebol após três anos recebendo menos de seis vezes o valor de um salário mínimo por mês
Antes de estreia pelo Iranduba, ex-velocista Érica Gomes conta como seguiu no futebol após três anos recebendo menos de seis vezes o valor de um salário mínimo por mês
Por Lívia Camillo
O caminho para o futebol nem sempre começa com a paixão pela bola. Pelo menos foi assim com Érica Gomes, 22, atacante que estreia hoje (9) pelo Iranduba-AM no Campeonato Brasileiro A1. O desejo de ganhar um par de chuteiras surgiu depois de calçar suas primeiras sapatilhas nos treinos de corrida. No entanto, a relação da ex-velocista com o atletismo vai muito além do esporte.
“Foi através dele [atletismo] que eu comecei a ver o mundo de outra forma. Quando comecei, eu treinava com deficientes e via a determinação. Elas me motivam, me obrigavam a vencer”, contou emocionada ao Papo de Mina.
A motivação que Érica recebeu foi primordial durante seu início como jogadora. Em 2015, quando foi aceita no Vitória-PE, ela precisou conviver com a dura realidade do futebol feminino. Foram três anos recebendo menos de seis vezes o valor de um salário mínimo por mês. O obstáculo financeiro quase a impediu de seguir.
“Eu comecei recebendo R$ 50 e saí de lá ganhando R$ 150. Aquele dinheiro era para comprar tudo: sabonete, pasta de dente, shampoo, roupa e etc”, revelou.
“A gente não tinha nenhuma estrutura. Era só o amor que eu sinto pelo futebol. Por isso decidi insistir. Quando eu pensava em desistir ou ficava desanimada eu pensava naquelas pessoas.”
Futebol no meio do caminho
Érica começou a correr aos 15 anos, na FEPA (Federação Pernambucana de Atletismo), inspirada por um dos treinos que assistiu. Sua família morava nas redondezas do centro de treinamento, que também atendia paratletas, e foi assim que o esporte a conquistou.
Alguns meses depois, quando já estava federada e competindo oficialmente, ela resolveu mudar de rumo. “A gente tinha mudado o local do treinamento para um quartel (do Exército). Eu via os rapazes jogando futebol durante os meus treinos, porque no meio da pista tinha o campo. Foi quando surgiu a minha vontade de jogar.”
Profissionalização
O apoio da família, principalmente do pai, Seu Caetano, contribuiu para que a dificuldade fosse minimizada. A ajuda financeira era enviada todos os meses, inclusive com o valor das passagens para os retornos regulares à terra natal, a capital Recife. Os “perrengues” seguiram até alcançar a profissionalização.
Na Bahia, jogou no São Francisco do Conde, teve uma rápida passagem pela Chapecoense, em Santa Catarina, até que, em 2019 chegou ao Avaí Kindermann. Com uma temporada memorável, terminou a Copa Encantado sendo um dos destaques, além de levar o título da competição com o clube.
“Com certeza poderia ser melhor o salário do futebol feminino. Mas hoje eu vivo muito melhor do que antes. Claro, ainda não cheguei onde eu quero chegar, mas melhorou muito”, disse.
Estreia pelo Iranduba
Anunciada pela equipe de Manaus como um dos principais reforços para a temporada, a atacante vem se preparando para a estreia neste domingo (9), diante da Ponte Preta, às 15h, no estádio Moisés Lucarelli. “Estou muito ansiosa. Todo jogo eu tento focar o máximo pra poder ter tranquilidade. O jogo [diante] da Ponte Preta vai ser o primeiro jogo e quero estar preparada pra dar o meu melhor.”
A partida será transmitida pelo site da CBF, em parceria com o aplicativo MyCujoo.