Allan Simon: Domínio do Flamengo na audiência da Globo não é só por time multicampeão
Audiência do Flamengo aumentou em 2019, é verdade, mas ampla diferença para o rivais já existia antes
Audiência do Flamengo aumentou em 2019, é verdade, mas ampla diferença para o rivais já existia antes
O Flamengo sabe o que está fazendo ao discutir com a Globo na Justiça por questões do contrato do Brasileirão e ao não renovar o acordo de transmissão do Campeonato Carioca. O time terminou 2019 com uma média de audiência absurdamente maior que a de qualquer rival no Rio de Janeiro. Deu bons números à emissora até na praça de São Paulo, sem contar o Brasil inteiro.
Mas é errado dizer que todo esse cenário acontece só por causa do time que conquistou Libertadores, Brasileirão e Carioca no mesmo ano, e ainda disputou um Mundial de Clubes. No Rio de Janeiro, a diferença do Flamengo para os rivais nas médias do Ibope chega a ser constrangedora, mas não começou em 2019.
Na última semana, publiquei em meu blog os dados completos das audiências do futebol entre clubes na Globo RJ em 2019. O Flamengo fechou a temporada com 34,2 pontos de média no Ibope em 36 jogos transmitidos. O segundo carioca na lista, o Vasco, ficou com 25,4 pontos, um resultado que é bom, mas fica esquecido em meio ao enorme índice rubro-negro. A diferença aumenta conforme avançamos. O Fluminense teve 22,4, e o Botafogo apenas 20,5.
É claro que o fato de todos os rivais terem ficado assistindo ao clube rubro-negro papar títulos em 2019 influenciou nisso. Mas, se voltarmos aos dados de 2018, publicados neste Torcedores pelo repórter Rafael Alaby no fim daquele ano, veremos que o Flamengo tinha 30,3 pontos de audiência em uma temporada na qual saiu de mãos absolutamente vazias, sem título algum. O Vasco fez 24,2 (ou seja, cresceu em 2019), o Botafogo tinha conseguido 22,4 (e caiu no ano seguinte) e o Fluminense marcou 20,5 pontos (também aumentou na temporada depois).
Ou seja, sem títulos, sem Libertadores além de oitavas de final, sem disputa de Mundial de Clubes, o Flamengo ainda passou da barreira dos 30 pontos no Ibope. O que conseguiu na temporada 2019 foi extrapolar os limites e fazer história na audiência no mesmo passo em que fazia história no campo.
Essa distância incrível entre médias de audiência de rivais não é verificável em São Paulo, por exemplo. Entre o Corinthians, que liderou o Ibope na Globo SP em 2019, e o Santos, o grande com menor índice, foram apenas quatro pontos de diferença. 27,3 para o Timão, 23,3 para o Peixe.
No ano anterior, com o Santos tendo apenas sete jogos, e o Corinthians sendo exibido 31 vezes, ou seja, uma exposição completamente discrepante, a média corintiana foi pouco mais de oito pontos maior que a santista, 29,4 x 21,1.
O Flamengo tem quase 14 pontos de diferença para o Botafogo em 2019. No ano anterior, quando o Fluminense segurou a lanterna do Ibope entre os grandes cariocas e o Rubro-Negro fez audiência menor, a distância já era de praticamente dez pontos.
Ou seja, fica provado que o Flamengo é um time extremamente necessário para a Globo dentro do pacote futebol. Cabe à emissora dizer se essa diferença compensa o pedido, noticiado pelo UOL Esporte recentemente, de praticamente R$ 80 milhões pelos direitos de um campeonato esvaziado que dura três meses, como é o Carioca atualmente, só pelo contrato do time de maior audiência, sem contar o dinheiro que já é pago no acordo atual aos demais participantes.
No fim das contas, tudo isso pode acelerar o “carro” dos clubes em um caminho que levará ao fim dos estaduais como conhecemos hoje. Afinal, a Globo não necessariamente precisa aceitar pagar proporcionalmente ao Brasileiro pelo tempo de disputa dos estaduais, que não despertam o mesmo interesse na maior parte da competição (audiência só cresce no mata-mata, formato que dá muito mais Ibope que pontos corridos).
A propósito, parece que o presidente do Flamengo finalmente se pronunciou na questão dos direitos de transmissão sobre algo que realmente mudaria cenários:
Landim diz que direito de transmissão do mandante precisa ser discutido, assim como funciona em vários países da Europa.
— Raisa Simplicio (@simpraisa) February 10, 2020
Esse foi exatamente o tema da minha coluna na semana passada. Só assim haveria de fato uma “revolução” nos direitos de TV neste país.
Allan Simon é jornalista esportivo desde 2011, tendo passado por redações como o R7, Abril.com, UOL Esporte e Torcedores. Participou das coberturas de duas Copas do Mundo, duas Olimpíadas, dois Pans, e diversos outros momentos históricos do esporte brasileiro nesta década. Criador do Prêmio Torcedores de Mídia Esportiva. Atualmente comanda o Blog do Allan Simon, é colaborador do UOL e colunista do Torcedores, tendo também um canal no YouTube com análises, histórias e estatísticas de mídia esportiva e futebol em geral.
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