Paratleta amputou uma perna, retirou parte do pulmão esquerdo por conta de um câncer, já conquistou mais de 40 medalhas. O próximo desafio será subir o Everest.
Uma amputação de uma de suas pernas e a perda de mais da metade de um pulmão esquerdo. Todas essas limitações físicas poderiam ser motivos para se entregar, porém para João Carlos Rodovalho, 36 anos, mais conhecido como João Saci, as adversidades fizeram com que ele seguisse em frente. O paratleta já conquistou mais de 40 medalhas no esporte e se tornou escritor e palestrante.
João enfrentou o primeiro tumor aos 17 anos, em 2001, quando teve a perna amputada.
“Foi difícil receber o diagnóstico. Nós nunca estamos preparados para receber uma notícia dessa. Um turbilhão de sentimentos passa pela sua cabeça. Os meus planos eram terminar o ensino médio, tirar minha carteira de motorista, continuar os treinos de natação, prestar vestibular, planos normais na adolescência. Mas a minha vida cobrava outra atitude, tive que parar tudo para cuidar da minha saúde”, diz João.
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Mudança da natação para o crossfit
Em 2002, João se tornou campeão brasileiro de natação, tendo obtido o índice paraolímpico dois anos depois. O paratleta decidiu trocar as piscinas pelo crossfit, e para isto, ele precisou de uma prótese esportiva. Para adquiri-la, fez campanha de financiamento coletivo, arrecadando R$ 50 mil.
“Comecei a treinar crossfit em agosto de 2014, fiz uma aula experimental e dali para frente nunca mais parei. O crossfit surgiu em uma época em que eu havia parado com a natação e estava 6 meses sem fazer nenhuma atividade física. Lembro que comecei a roncar (apnéia) porque havia ganhado peso. Na época minha ex-esposa falou para eu procurar alguma atividade física, pois eu era um ex-atleta de natação. O ronco a incomodava”, disse.
Palestras
A história do paratleta começou a impactar pessoas de todo o país e assim em 2017, surgiram convites para que João começasse a dar palestras, atividade que segue até hoje e que ele conta com muita alegria.
“É gratificante esse tipo de trabalho, pois você consegue levar um pouco de amor e esperança que tem e que recebe para quem está passando por um momento bem difícil. Quando você está com câncer as pessoas costumam falar pra você acreditar e fazer o tratamento, mas quando você passa pela mesma doença, enfrenta os mesmos dilemas, aquilo que você fala acaba tendo um peso maior. Sempre falo para as pessoas acreditarem na cura, e doar 100% das suas forças ao tratamento, e que por mais que venham dias ruins, e eles vêm mesmo, entenda que faz parte do tratamento e que neste momento não se pode desistir”, destaca João.
História de João foi parar nas livrarias
Em fevereiro de 2019, João lançou seu livro, Nascido para Vencer, quando completou 13 anos da realização do transplante de medula. A ideia de escrever um livro surgiu durante as inúmeras palestras que concedeu.
“Em 2017 eu iniciei um projeto de palestras, onde contava a minha história, relatando tudo que passei e os aprendizados que eu tive. Nisto eu vi que a minha história tinha um poder de impactar a vida de outras pessoas. Durante a palestra tenho um tempo estipulado para trabalhar determinado assunto, enquanto com o livro consigo contar com mais detalhes tudo que me aconteceu. O livro veio para contribuir ainda mais com esse propósito de ajudar o próximo.”
O próximo desafio: subir o Everest, a montanha mais alta do mundo
Agora, o paratleta pretende realizar uma nova e emocionante aventura, que será chegar a um acampamento na montanha mais emblemática do mundo, o Everest. Serão 11 dias de caminhada para percorrer 94 km de trekking, que exigem muita preparação física.
“Treino crossfit todos os dias e além disso faço caminhadas, trabalho de fortalecimento muscular e fisioterapia respiratória. Conversei com meus médicos a respeito da subida e meu pulmão tem uma capacidade muito boa. Procuro mostrar através do exemplo que podemos conquistar tudo o que desejamos. Que mesmo após o câncer, a amputação da perna, a minha vida continuou e isso não me limitou nem fisicamente e nem mentalmente. Pelo contrário, me deu mais forças para prosseguir.”
João Saci foi diagnosticado 5 vezes com câncer, mas não se abateu e enfrentou a luta contra a doença. E enxergou no esporte um dos seus maiores aliados.
“Se me recuperei rápido das cirurgias, das quimioterapias e de outros tratamentos foi por conta do esporte. Se tenho uma capacidade pulmonar boa hoje, é pelo fato de nunca ter parado com a atividade física. É muito mais que uma questão de estética, é questão de saúde. Hoje em dia não deixo de treinar mais. Se eu paro, fico deprimido”, explicou.
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