Home Opinião Aira Bonfim: Lixo do Estádio do Pacaembu: afinal, o que devemos preservar?

Aira Bonfim: Lixo do Estádio do Pacaembu: afinal, o que devemos preservar?

Troféus que estavam no estádio serão descartados pela Prefeitura e irão para o lixo

Aira Bonfim
Colunista do Torcedores.com.

Troféus que estavam no estádio serão descartados pela Prefeitura e irão para o lixo

A semana que passou trouxe a tona notícias sobre o descarte de troféus e flâmulas pela administração da Prefeitura de São Paulo, que geriu o Estádio do Pacaembu nos último 80 anos. Mas afinal, como escolhemos o que guardar?

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Breve histórico

Não é novidade que a cidade de São Paulo tem vivenciado nos últimos anos os efeitos mais avassaladores da privatização de seus bens públicos.

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Tais escolhas não deixaram de afetar equipamentos esportivos como foi o caso do estádio do Pacaembu, inaugurado pelo Presidente Getúlio Vargas em 27 de abril de 1940, e, responsável unânime pela ocupação e valorização do bairro de mesmo nome – na época, uma região sem valor composta de várzeas e charcos.

Nos últimos anos, principalmente após a realização da Copa do Mundo FIFA no Brasil (2014), o estádio passou a ser publicamente difamado como um local sem uso social e responsável por custos altos para os cofres públicos municipais.

Planejado para recepcionar milhares de torcedores de futebol, o estádio, ao longo da sua história, acolheu as memórias de outras modalidades esportivas e atividades culturais pois se viu inserido em uma contexto de valorização e promoção dos esportes, especialmente como os de recreação popular.

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Tênis, lutas, natação, atletismo, carnaval, bailes, desfiles, show e até o Papa João Paulo escreveram a sua história nas entranhas do estádios do Pacaembu.

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Foto: Demetrio Vecchioli

Inquilino novo

Em setembro de 2019, um novo contrato garantia a transferência da administração do estádio para a Concessionária Allegra Pacaembu. A mudança recepcionará os novos moradores/empreendedores pelos próximos 35 anos.

O debate público em torno da vocação do complexo esportivo ganhou maior voz, principalmente entre boleiros saudosistas, defensores do patrimônio público e moradores do entorno. Afinal, quem não gosta do Paca? Ou como seria imaginar um Pacaembu Gourmet?

Entretanto, entre recursos e gastos nada transparentes, pouco parece ser possível fazer para remediar a decisão da Prefeitura de São Paulo e, como já noticiado ao longo da semana, o caminhão de mudanças já encontra-se estacionado na porta e junto dele, as caçambas para recolher o que não parece “prestar” no “novo” Pacaembu.

O jornalista Demétrio Vecchioli fez as primeiras denúncias sobre os objetos descartados no lixo e que possivelmente poderiam representar valores históricos indo ralo abaixo.

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Sem a pretensão de entrar no mérito se aqueles materiais deveriam ou não parar nas caçambas, vou fazer um exercício para pensarmos sobre porque guardamos alguns desses itens memorialísticos.

Materiais do Pacaembu descartados. Foto: Edu Simões

Por que guardamos?

Geralmente guardamos objetos que nos ajudam a lembrar de episódios, conquistas, feitos e/ou pessoas que fizeram parte de uma história marcante. Guardamos porque não queremos esquecer, correto?

Mas apenas guardar não garante a preservação das histórias presentes nesses objetos (e vale ai a reflexão sobre o descarte ocorrido no estádio). O acúmulo de objeto sem a atribuição de sentidos, ou seja, informações sobre os locais, eventos e pessoas envolvidas naquela história, esvaziam o valor daquele material.

Em muitos casos, podemos tomar atitudes simples ao guardamos um material que garantirão a maior sobrevida de informações contidas nos próprios objetos, ou diríamos na museologia, dos acervos.

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-Ah, mas o troféu tem o registro do local e ano na sua base de madeira!

Será que só isso basta para a manutenção e preservação das historias que não queremos esquecer?

Por vezes é necessários comunicar, contar e mostrar para todo mundo as histórias contidas nesses materiais, ou do contrário, museus nem mesmo existiriam e guardaríamos todos os nossos patrimônios em bancos e cofres bem lacrados.

Foto: Demetrio Vecchioli.

Três dicas para quem deseja preservar objetos e suas histórias!

Qual quer pessoa ou associações pode adotar boas maneiras que contribuam com a qualidade das informações dos objetos/acervos que escolheu guardar:
1) ESCOLHA o que guardar!
Sim babe, parece idiota mas esse é um critério que por vezes algumas pessoas pulam e por essa razão só acumulam objetos. Guardar dá trabalho, ocupa espaço e tempo, então, porque não refletir sobre as escolhas antes de empregar tantos esforços?
2) REGISTRE informações sobre os acervos!
Sim! Justifique as razões de um objeto estar guardado. Onde, porque, como, quem, quando….! Legendas, catálogos, cadernos, vídeos, blog, livro… todas as ferramentas e suportes podem trabalhar a favor da preservação das informações.
3) PROTEJA os objetos das intempéries!
A gente sabe que troféus, camisas e fotos ficam bonitos expostos (e tem que ficar mesmo!), mas procure compreender como esse objeto se comporta nesse local. Há muita luz? Umidade? Calor? Risco de enchente? Roubo?
Enfim, responsabilize-se sobre o ambiente que recepcionará o objeto que você quer que dure por muito tempo. Afinal, o objeto não vai poder sair de lá sozinho.
O Centro de Referência do Futebol Brasileiro, setor magnífico do Museu do Futebol, criou há alguns anos uma cartilha chamada Preserve Seu Acervo para ajudar pessoas comuns a cuidar de seus objetos e coleções tão preciosas. Dicas de limpeza, acondicionamento e até organização digital de acervos dessa natureza.
Vale muito a pena baixar, conhecer e compartilhar, uma vez que nos tornamos pequenos museus a cada item que escolhemos cuidar.
O exemplo do Pacaembu nos chama a atenção para uma memória esquecida, praticamente apagada e com um resto de sobrevida que sua materialidade proporcionou. Todavia, pouco se reconhece dos feitos e pessoas envolvidos em alguns dos objetos descartados, o que facilitou com que tais objetos fossem parar com tanta facilidade no lixo.
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