Home Futebol Entenda porque Jesualdo Ferreira não deve abrir mão do 4-3-3 na montagem do Santos para a temporada de 2020

Entenda porque Jesualdo Ferreira não deve abrir mão do 4-3-3 na montagem do Santos para a temporada de 2020

Técnico português de 73 anos substitui Jorge Sampaoli no comando do Peixe e fica até o final do ano no clube; Jesualdo Ferreira tem no currículo um tricampeonato nacional com o Porto na década passada e bons trabalhos no Oriente Médio

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Técnico português de 73 anos substitui Jorge Sampaoli no comando do Peixe e fica até o final do ano no clube; Jesualdo Ferreira tem no currículo um tricampeonato nacional com o Porto na década passada e bons trabalhos no Oriente Médio

A contratação do português Jesualdo Ferreira pelo Santos talvez tenha sido a última grande notícia no futebol brasileiro em 2019. Não somente por toda a novela envolvendo a renovação frustrada com Jorge Sampaoli, mas pela aposta num nome que não estava dentro dos possíveis substitutos do argentino e que adota um estilo de jogo semelhante ao do antigo treinador. Jesualdo Ferreira chega ao Peixe chancelado pelos bons trabalhos no Porto (onde foi tricampeão português e bicampeão da Taça de Portugal) e no Oriente Médio, onde conquistou títulos com o Zamalek (no Egito) e com o Al-Sadd (no Qatar). A grande missão do português de 73 anos será manter o Santos na disputa por títulos e dar mais equilíbrio ao time nas competições que o clube terá pela frente em 2020. Tudo sem perder o tal “DNA” santista: equipe ofensiva e de futebol alegre e envolvente.

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Antes de aceitar o comando técnico do Santos, Jesualdo Ferreira trabalhava como comentarista no Canal 11 de Portugal desde a sua saída do Al-Sadd (do Qatar) em maio do ano passado (depois de quatro temporadas no clube e a passagem do bastão para o espanhol Xavi Hernández). No dia 27 de dezembro, na sua última participação na TV, o agora treinador do Peixe deu uma verdadeira aula de como monta as suas equipes e explicou os motivos da sua preferência pela adoção do 4-3-3 nas suas equipes. O vídeo abaixo dá uma boa ideia de como Jesualdo Ferreira pensa o futebol dentro das quatro linhas e já dá algumas pistas de como o treinador português pode montar o Santos para as competições dessa temporada no Brasil e na América do Sul. E aqui vai um pequeno “spoiler”: para Jesualdo, o 4-3-3 é o esquema ideal para ocupar os espaços dentro de campo e para se realizar variações nos desenhos táticos durante uma partida em andamento. Logo abaixo vamos destacar alguns trechos.

Tomando o período em que Jesualdo Ferreira comandou o Porto (de agosto de 2006 a maio de 2010), é possível perceber porque o novo treinador do Santos defende o 4-3-3 com tanta veemência. Foi a partir deste desenho tático (e das suas variações) que os Dragões conseguiram um tricampeonato nacional (2006/07, 2007/08 e 2008/09) e duas Taças de Portugal (2008/09 e 2009/10). Sob o seu comando, o Porto disputou 186 partidas com 125 vitórias, 30 empates e 31 derrotas, com 354 gols marcados e 138 sofridos. Os números mostram que o time azul e branco não marcava tantos gols sob o comando de Jesualdo Ferreira (média de 1,9 gol feito por partida), mas conseguia equilibrar bem as ações dentro de campo. Além disso, apresentava uma boa consistência defensiva (média de 0,74 gol sofrido por jogo). O time que conquistou a Taça de Portugal de 2009/10 mostra bem o estilo de Jesualdo na montagem das suas equipes e também um pouco da sua filosofia.

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Porto - Football tactics and formations

Porto campeão da Taça de Portugal de 2009/10 com uma vitória de 2 a 1 sobre o Desportivo Chaves. Os movimentos do 4-3-3 de Jesualdo Ferreira ficam bem visíveis na disposição dos jogadores em campo.

Voltando à despedida de Jesualdo Ferreira do Canal 11 de Portugal e das suas atividades como comentarista, alguns trechos da sua fala sobre o 4-3-3 merecem destaque nessa análise do que o treinador português pode fazer no comando do Santos. E o veterano não fala apenas de movimentação e de disciplina tática, mas lembra da necessidade de se ter jogadores capazes de interpretar aquilo que o treinador quer dentro de campo e de exercer as funções dentro de um desenho tático pré-estabelecido e todas as suas variações durante os noventa minutos. Destacamos abaixo alguns trechos da última “aula” de Jesualdo Ferreira no Canal 11.

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“Pro meu 4-3-3, eu preciso ter jogadores que sejam capazes de me interpretar. (…) Sem dois laterais fortes ofensivamente, o 4-3-3 é menos forte. Sem dois médios que não sejam capazes de ser verticais e, ao mesmo tempo, sejam capazes de se envolver (com o jogo), você terá menos opções. Sem um ‘6’ (número da camisa que o primeiro volante usualmente joga em Portugal) de alta qualidade é difícil também que o 4-3-3 tenha na partida declives sensíveis.” Foto: Reprodução / SIC

“Com relação ao ataque: se efetivamente os três da frente forem dois extremos puros e um avançados para mim não é o ideal. E por que não é o ideal? Para mim, os três jogadores à frente do 4-3-3 são avançados. (…) São avançados que têm que ter características para exercer um duplo papel. Saber jogar fora, saber jogar por dentro. Saber entrar como finalizador. E, acima de tudo, são jogadores que tenham características e capacidades para serem efetivamente três avançados.” Foto: Reprodução / SIC

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“O 4-3-3 pela forma (…) como se ocupa os espaços e pelos jogadores que nós garantimos durante o jogo através de movimentos mais curtos e mais aproximação é aquele que garante o controle do espaço melhor do que os outros sistemas. Esta é a minha opinião. Agora, é efetivamente o ponto de partida para outros sistemas. No meu 4-3-3, eu sou capaz de facilmente durante o jogo de sair facilmente do sistema durante o jogo para um 4-4-2 com duplo pivô e dois pontas de lança rápidos.” Foto: Reprodução / SIC

Vale lembrar que, mesmo com toda a sua experiência e sabedoria, Jesualdo Ferreira terá que lidar com os problemas financeiros do Santos e a saída de jogadores considerados importantes na campanha do vice-campeonato brasileiro na temporada passada. Victor Ferraz, Gustavo Henrique e Jorge não permaneceram para 2020, praticamente toda a defesa titular dos tempos de Jorge Sampaoli. Mesmo assim, é possível pensar num time que tenha Éverson ainda como titular, Madson (lateral que chegou ao Peixe na negociação com Victor Ferraz), Lucas Veríssimo, Luiz Felipe e Felipe Jonathan na linha defensiva, Alison, Diego Pituca e Carlos Sánchez no meio-campo e um trio ofensivo formado por Marinho, Eduardo Sasha e Soteldo. Raniel (atacante vindo do São Paulo) é outro nome que pode ser aproveitado pelas características que se encaixam com aquilo que Jesualdo Ferreira deseja. Assim como o meia Ewandro. A tendência é vermos um Santos não tão ofensivo como em 2019, mas muito mais equilibrado.

É bem verdade que o Peixe ainda precisa de reforços em todos os setores para encarar a maratona de competições que terá pela frente. No entanto, mesmo com o que encontrou na sua apresentação na Vila Belmiro, Jesualdo Ferreira tem totais condições de manter o Santos jogando em alto nível. Só resta saber se os problemas extra-campo vão atrapalhar a última grande aventura do treinador português.

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