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Em 1964, um Brasil diferente ia ao Japão disputar as Olimpíadas

Em uma delegação composta quase exclusivamente por homens, a campanha brasileira teve apenas 1 bronze em solo japonês

Por Aécio de Paula em 10/01/2020 10:02 - Atualizado há 5 anos

Divulgação: Arquivo/ Agência Estado

Em uma delegação composta quase exclusivamente por homens, a campanha brasileira teve apenas 1 bronze em solo japonês

O calendário apontava o dia 10 de outubro de 1964. Os jornais anunciavam o início da 19ª edição dos Jogos Olímpicos. O Estádio Nacional de Tóquio estava pronto para a festa inaugural. Era a primeira vez na história que o Japão recebia uma edição olímpica. Eram também os primeiros realizados na Ásia. A carga de simbolismo tomava conta dos japoneses. Eles deveriam ter sediado os Jogos de 1940, mas havia uma grande guerra no meio do caminho. Agora estava tudo certo. Era um mundo novo nascendo. Mas com as práticas de sempre.

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A delegação brasileira enviada para aquela edição olímpica foi composta majoritariamente por homens. De acordo com dados históricos do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), foram 67 homens e apenas uma mulher. A disparidade portanto teima em contrastar com o atual cenário. Depois de 56 anos, a delegação atual tende a ir para os Jogos de Tóquio com mais mulheres do que homens pela primeira vez na história.

Há quase seis décadas atrás, a realidade para as mulheres parecia ser muito mais dura. O nome da única atleta feminina do Brasil na edição olímpica de 1964 era Aída dos Santos. O sobrenome pode ter revelado a única ajuda que ele teve na época. Aída só podia contar com os céus. Isso porque ela não recebeu nenhuma espécie de apoio na ocasião.

Hoje com 82 anos, Aída chegou perto da medalha olímpica no salto em altura. Se tornou a primeira mulher da história do Brasil a disputar uma final olímpica. Terminou na quarta posição. Era uma mulher negra, no auge da teoria do embranquecimento racial no Brasil. Viajou para o Japão sem técnico e sem equipamentos oficiais para a competição. Teve dificuldades na Cerimônia de Abertura. Isso porque não foi feito um uniforme feminino para a ocasião. Terminou na quarta posição. Sem medalha. Mas na história.

A medalha

A única medalha brasileira veio na disputa da competição do basquete masculino. Portanto, outro contraste da atual realidade brasileira. Hoje, a Seleção Brasileira Masculina não é vista como uma das favoritas ao pódio. Aliás, sequer se classificou para os Jogos Pan-Americanos de 2019. Além disso, não passou da primeira fase do último Mundial.

Há 56 anos atrás, o time de Amaury Antônio Passos, Wlamir Marques, Ubiratan Pereira Maciel e Carlos Domingos Massoni conquistou o bronze. Era o único pódio brasileiro na competição. Era o Brasil de seleções que orgulhava o brasileiro. Dois anos antes, a Seleção Brasileira conquistava o título mundial de futebol pela segunda vez consecutiva.

Hoje as seleções masculinas de basquete e de futebol tentam retomar o prestígio de um passado que, de fato, não é tão distante, mas que teima em não voltar.

As novidades

Enquanto o país estreava nas competições de judô e natação, um certo atleta com um certo sobrenome competia no hipismo. Era Nelson Pessoa Filho. Há 56 anos, ele não poderia imaginar que seu filho é quem se tornaria campeão olímpico, em 2004. Rodrigo Pessoa não só conquistou o ouro em Atenas, como se tornou o maior nome da modalidade no país.

O Mundo em 1964

Em outubro de 1964, o país ainda aprendia viver sob a ditadura militar instaurada em abril daquele ano. Alguns analistas acreditam que os militares utilizaram o esporte internacional para maquiar a situação do país. “Entre a perspectiva naquilo que seria”nacional” e o alinhamento do país com uma cultura planetária, a ditadura militar foi responsável por estimular no Brasil o surgimento de um sentimento esportivo de massas, sem precedentes na história”, explica o historiador Marcus Aurelio Taborda.

Enquanto Martin Luther King vencia o Nobel da Paz e o democrata Lyndon B. Johnson se elegia presidente dos Estados Unidos, o mundo ainda se acostumava ao convívio no período pós-guerra. A própria realização dos Jogos Olímpicos no Japão fazia parte deste esforço. Isso porque o Japão foi um dos protagonistas na Segunda Guerra Mundial.

Tóquio 2020

Um país diferente na cultura, na economia, na política e sobretudo no esporte. Quase 6 décadas depois, o Brasil vai voltar a disputar os Jogos Olímpicos em Tóquio com outros problemas e com outra dinâmica esportiva. As modalidades com mais chances de medalha, por exemplo, não são as mesmas. O nível de apoio não é o mesmo. A visão de mundo não é mesma. É um Brasil diferente indo disputar os Jogos Olímpicos em um Japão diferente. Ou não.

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