Contratação de Paulo Pelaipe recoloca o Azulão no radar da mídia na busca por retorno à elite
O São Caetano vai comemorar nesta temporada os 20 anos de um feito histórico, a conquista do vice-campeonato da Copa João Havelange, que valeu como o Brasileirão de 2000. Aquele momento abriu um ciclo vitorioso, que teve mais um vice brasileiro no ano seguinte, além de chegar à final da Libertadores em 2002 e levar o título do Paulistão em 2004.
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O Azulão que relembra esses feitos hoje é um time que joga a Série A-2 do estadual e vai atuar na Série D do Brasileiro. Mas, ao mesmo tempo, é o clube que apresentou Paulo Pelaipe, recém-campeão brasileiro e da Libertadores pelo Flamengo, em uma temporada que teve ainda o vice do Mundial e o título carioca. Esse paradoxo representa o trabalho de reestruturação que busca reviver os bons tempos.
“Devolver o São Caetano para o lugar de onde nunca deveria ter saído”. Assim resumiu o presidente do clube, Carlos André de Freitas Lopes ao apresentar Pelaipe. Mas, afinal, como um dirigente que fez uma temporada praticamente perfeita no clube de maior torcida do Brasil foi parar em um time do ABC paulista que sempre teve as piores médias de público e hoje não está nem na elite estadual?
“Eu queria vir trabalhar no mercado de São Paulo. Eu tinha trabalhado no Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, outros estados, mas nunca no futebol paulista”, disse o novo diretor executivo do clube. Pelaipe citou experiências anteriores em sua carreira como bases para o trabalho de reerguer o São Caetano.
“Já tive desafios como o Grêmio em 2004, quando o time caiu para a segunda divisão. Fizemos um projeto de janeiro de 2005 a 2007, chegamos a dois campeonatos gaúchos, uma final de Libertadores da América. Temos experiência, e no próprio Flamengo nós assumimos em 2013 com folha de pagamento de R$ 10 milhões, e tivemos que trabalhar com uma folha de R$ 3 milhões, tivemos que montar uma equipe com aqueles padrões financeiros, e tivemos a felicidade naquele ano de ser campeões da Copa do Brasil”, afirmou.
O São Caetano viveu uma crise financeira no ano passado após notícias da saída do empresário Saul Klein, herdeiro das Casas Bahia, que por anos foi um ativo investidor do clube. Na reta final de 2019, enquanto disputava o título da Copa Paulista, o Azulão teve problemas para pagar salários de jogadores e funcionários. Atletas chegaram a fazer um vídeo pedindo a volta do mecenas.
Hoje, o presidente do São Caetano afirmou que Saul Klein é visto como histórico, “merecedor de um busto na frente do clube”, mas que o Azulão precisa “caminhar com as próprias pernas”. Prometeu que todos os compromissos vão ser acertados nesta temporada com dois patrocinadores que ainda serão anunciados pelo clube.
Pelaipe foi na mesma linha. “Podemos até pagar pouco, mas vamos pagar em dia, esse é o primeiro passo para que você tenha sucesso”.
O dirigente citou a integração entre sua experiência e o trabalho que já vinha sendo feito no clube, que trouxe ídolos do passado para formar a comissão técnica. Adãozinho é o treinador, enquanto Silvio Luiz ocupa o cargo de preparador de goleiro.
“Estou trazendo um supervisor que por 30 anos trabalhou no Flamengo, vamos aproveitar as pessoas aqui do clube, e realmente nós precisamos de alguma forma ter tranquilidade, ouvir, saber ouvir os funcionários, a comissão técnica, e, passo a passo, não vamos prometer nada a não ser trabalho. Vamos nos organizar, é trabalho para cinco, seis anos, mas nós precisamos plantar. Eu gostaria de fazer do começo ao fim esse trabalho”, afirmou Pelaipe.
O projeto do São Caetano é algo desafiador ao extremo, mas lembra o trabalhado iniciado no clube em 1997, quando o time lançou a ideia de ser grande no ano 2000. Em quatro temporadas, contratou jogadores que não eram midiáticos, mas formaram uma boa base para levar o time da Série A-3 à Série A-1 do Paulistão.
Reforço de peso, mesmo, foi o atacante Túlio, que teve atuações históricas na conquista da Série A-2 de 2000, mas não quis permanecer e aceitou o convite para jogar a Copa João Havelange pelo Botafogo. Perdeu a chance de colocar seu nome em uma das páginas mais incríveis do futebol nacional.
Agora, a ideia do São Caetano é fortalecer a base de jogadores e buscar nela os reforços para que o clube possa refazer a escalada de sucesso.”Eu tenho certeza de que eu vou fazer um bom trabalho”, prometeu Pelaipe.
Os desafios agora são percorrer um caminho que nem a Red Bull topou seguir, ao pular etapas e comprar o Bragantino para subir diretamente para a Série B, além de trazer de volta o torcedor ao estádio, como nos tempos que marcaram o São Caetano em uma subida meteórica no futebol brasileiro.
Fato é que o Azulão já conseguiu algo apenas por assinar com Pelaipe: recolocar o time na mídia, atrair a atenção da imprensa e de torcedores de outros clubes. Uma receita que já provou ter sucesso, mas, sozinha, não será suficiente.
Allan Simon é jornalista esportivo desde 2011, tendo passado por redações como o R7, Abril.com, UOL Esporte e Torcedores. Participou das coberturas de duas Copas do Mundo, duas Olimpíadas, dois Pans, e diversos outros momentos históricos do esporte brasileiro nesta década. Criador do Prêmio Torcedores de Mídia Esportiva. Atualmente comanda o Blog do Allan Simon, é colaborador do UOL e colunista do Torcedores, tendo também um canal no YouTube com análises, histórias e estatísticas de mídia esportiva e futebol em geral.
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