Curral das Éguas, no feminino, e Gogó da Ema, no masculino, conquistaram o Torneio
“Um gol para toda vida”, esse é lema da Taça das Favelas. O maior campeonato entre comunidades do mundo vai muito além do esporte, é também um exemplo de cidadania. Neste sábado (27), os torcedores que compareceram ao Estádio Moça Bonita assistiram ao Curral das Éguas vencer o Corte Oito por 2 a 1 na final feminina. Enquanto, na final masculina, o Gogó da Ema venceu, nos pênaltis, após empatar em 2 a 2 com o Patativas de Campo Grande.
A oitava edição da Taça das Favelas Rio chegou ao fim. Idealizado pela CUFA (Central Única das Favelas), o projeto busca promover uma competição saudável entre comunidades e periferias do Rio de Janeiro.
Em 2019, foram 84 equipes inscritas na categoria masculina e mais 28 na categoria feminina. Envolveu mais de mil jovens que ousaram sonhar. Meninos e meninas que, ao longo dos últimos três meses, superam todo tipo de adversidade em busca do título.
Antes das finais, o presidente e um dos fundadores da CUFA, Celso Athayde, falou sobre a favela.
“Favela é coisa muito séria. Campo do Bangu lotado, recorde de público, pode ter certeza. Favela é isso, alegria, força. Favela é potência, jamais carência”, afirmou Celso.
Durante as finais, aconteceu um pouco de tudo. Festa, comemoração, sofrimento, dor e até um cachorro demonstrando habilidade em campo.
Final feminina
A final das meninas colocou frente-a-frente duas equipes opostas. De um lado, o Curral das Éguas, favela da Zona Oeste do município do Rio. Do outro, o Corte 8, da cidade de Duque de Caxias, Zona Oeste do Rio.
O Curral contava com a experiência de jogadoras acima dos 30 (lembrando que não há limite de idade no feminino), como, por exemplo, a atacante Adriana Imperatriz. Aos 36 anos, a artilheira da Taça das Favelas coleciona passagens pelas divisões de base do Vasco e da Seleção Brasileira. Enquanto o Corte Oito apostava juventude de atletas como a goleira Marcela, que está na base do Flamengo.
No embate entre a juventude e a experiência, as experientes saíram melhor. No primeiro tempo, Adriana Imperatriz aproveitou o cruzamento (e falha de Marcela) para abrir o placar. Foi o oitavo gol de Vossa Majestade da Taça das Favelas 2019.
Na segunda etapa, o Corte Oito até ganhou volume de jogo. Entretanto, foi o Curral que ampliou o placar. Adriana deu um belo passe para a meia Daniele marcar o segundo das meninas da Zona Oeste.
Festa das campeãs
Com a vitória, o Curral das Éguas conquistou o troféu Ari Pipa – nome dado em homenagem ao um dos maiores incentivadores da Taça no Rio.
Além disso, a equipe de roxo viu a meia Yasmin ser eleita melhora jogadora da competição e Adriana Imperatriz levar o troféu de artilheira. E, como não podia faltar, a goleadora comemorou com a tradicional dancinha.
“Nós estamos aqui representando todas as favelas. É preciso olhar mais para as favelas, é lá que estão as Martas, as Cristianes, as Formigas, as Pretinhas”, disse Adriana após o título.
Final masculina
O jogo dos meninos trouxe dois dos maiores personagens da edição 2019 da Taça das Favelas. Pelo Patativas, o atacante Diogo, que deixou o caminho da criminalidade pelo sonho de ser jogador de futebol. Enquanto o Gogó da Ema contava com o talentoso Ronald, que desejava conquistar o título para mostrar a sua comunidade que eles também podem sonhar.
Acima de tudo, os dois já poderiam ser considerados vencedores no jogo da vida. Entretanto, em campo, só um poderia sair levando o troféu para casa.
A partida começou equilibrada, mas Ronald tem o poder de desequilibrar. Em cobrança de falta, o camisa 10 encontrou o zagueiro Roger, que teve calma para abrir o placar.
“Ai Meu Deus do Céu, o meu 10 é melhor que Lionel”, cantava a torcida do Gogó. E o meia justificou a confiança da torcida. Após passar por dois adversários, o meia tabelou e, assim como seu companheiro de time, tocou com calma na saída do goleiro. Oitavo gol do artilheiro da Taça.
O primeiro tempo terminou com 2 a 0 e o Gogó parecendo que só precisaria de apenas mais 45 minutos para garantir o título.
Segundo tempo do Patativas
Contudo, há um ditado para os gaúchos como Régis Rösing, que esteve presente na cobertura da Globo na final, que diz: “não está morto quem peleia”.
Talvez por isso, o Patativas voltou para o segundo tempo disposto a mostrar que não estava entregue. Primeiro com o zagueiro Halisson, que de cabeça, descontou para a equipe de Campo Grande.
Depois, em uma linda cobrança de falta, Jeferson Romarinho empatou o placar. E, no melhor do Patativas no jogo, eis que surge Diogo. O camisa 11 arrancou em velocidade e sofreu pênalti.
Era a chance da virada. Depois de estar perdendo por 2 a 0, o Patativas poderia ficar pela primeira vez na frente no placar. A responsabilidade ficou justamente com o principal jogador do time. Mas, Diogo viu o goleiro Mão defender não só uma, como duas vezes.
Taça das Favelas decidida nos pênaltis
Com o jogo empatado em 2 a 2, a final foi para a marca da cal. Diferentemente do futebol profissional, foram três cobranças para cada equipe.
Nas penalidades máximas, os protagonistas foram bem. Ronald marcou para o Gogó. E Diogo, desta vez, balançou as redes pelo Patativas.
O goleiro Jeferson, do Patativas, defendeu a última cobrança do Gogó e a equipe até chegou a fazer festa. Entretanto, Mão defendeu a outra cobrança e jogou um balde de água fria na equipe de Campo Grande.
O goleiro do time azul ainda defenderia mais uma cobrança e se sagraria herói da final. No fim, 5 a 4 para a favela do Gogó da Ema e a equipe de Belford Roxo pode finalmente festejar o título inédito.
Campeão, Ronald foi eleito melhor jogador e levou o troféu de artilheiro. Além disso, o camisa 10 deu uma aula de cidadania com suas palavras.
“A gente está aqui hoje para ser espelho para alguém na nossa favela. Porque toda vez que a gente está na televisão, só sai morte, só sai amigo da gente sendo preso, mas hoje a gente fez história. Para todo mundo acreditar que Deus realiza sonhos, todo mundo acreditar que não ganhamos isso à toa”, disse o meia.
Premiação
Como resultado dos títulos, as favelas campeãs receberam um cheque no valor R$ 3,5 mil reais para investir em esporte.
Além disso, os atletas vencedores voltaram para casa como heróis, com direito a desfile no caminhão do Corpo de Bombeiros.