O Union Berlin disputará pela primeira vez a Bundesliga na temporada 2019/2020. Após dois empates no playoff contra o Stuttgart, a equipe conquistou a vaga por conta dos gols fora de casa. Embora o atual clube tenha sido fundado em 1966, a história do Union Berlin data do começo do século XX. Em sua história, uma síntese da história da capital alemã: dividida na Segunda Guerra Mundial, reconstruída, tolerante e aberta às minorias.
O primeiro Union Berlin surgiu em 1910, como substituto do Olympia Oberschöneweide. O segundo nome da antiga equipe também é o de um subúrbio próximo de Berlim. No local, moravam muitos metalúrgicos. A história do Union Berlim é, basicamente, para divertir tais trabalhadores. Desde então, a fama de popular da agremiação se espalhou pelo lado oriental da capital alemã. Tal imagem contrastava com a de outros clubes da cidade, que tinham raízes na classe média – casos do Viktoria 89 Berlin, Blau-Weiß 90 Berlin, BSV 92 Berlin e Tennis Borussia Berlin.
Com a Segunda Guerra Mundial, Oberschöneweide foi um dos pontos pelos quais o Exército Vermelho adentrou e rendeu os nazistas na capital alemã. Na divisão de Berlim, o local ficou sob domínio da União Soviética. E tal fato marcaria para sempre a história do Union Berlin. E isso nada tem a ver com uma nova mudança de nome. O clube, durante um curto tempo, se chamou SG Oberschöneweide. Quando os soviéticos perceberam que o clube nada tinha de burguês, logo permitiram a volta da antiga nomenclatura.
O Muro de Berlim
Por conta de bons resultados nos primeiros anos da Oberliga (liga nacional de futebol da Alemanha Oriental), o Union ganhou o direito de enfrentar o Hamburgo no antigo Campeonato Alemão Ocidental. O governo oriental, porém, impediu tal viagem. Boa parte dos atletas peitou os governantes e seguiu. Mesmo depois de perder por 7×0, os atletas ficaram no lado Ocidental e fundaram um novo clube: o Union 06 Berlin. Enfraquecido, o Union Oriental tinha pouco sucesso.
O surgimento de clubes ligados a instituições políticas (algo comum em países da antiga URSS) na Alemanha Oriental começou no início da década de 1950. Com o Vorwärts e o Dynamo Berlin cada vez mais fortes, o Union ficava sem forças. Mas sua veia popular garantia que o estádio da equipe tivesse públicos muito maiores que o das melhores equipes da época. Tanto que, com a construção do Muro de Berlim (e o deslocamento entre berlinenses das regiões ocidental e oriental impedido), até mesmo torcedores do Hertha passaram a acompanhar o Union na Alemanha Oriental.
O sucesso popular na história do Union Berlin passou a incomodar o regime comunista. O Dynamo, equipe governamental que venceu a Oberliga dez vezes consecutivas, levava pouco público ao seu estádio. Em compensação, seu antagonista era um sucesso nas arquibancadas. Mais do que isso: muitos torcedores do Union se declaravam contra o governo local. Uma frase, então, tornou-se corriqueira nas ruas de Berlim Oriental: “Nem todo torcedor do Union é inimigo do Estado, mas todos os inimigos do Estado são torcedores do Union”. Conforme o tempo foi passando (e o governo oriental perdendo força), a torcida do Union cantava “O Muro vai cair”, em referência à construção de Berlim.
Alemanha unificada, enfim
Uma das primeiras atitudes do futebol alemão após a queda do Muro de Berlim foi um amistoso entre Hertha e Union. Em clima de confraternização, as torcidas cantavam uma frase que se tornou um mantra: “Hertha und Union, eine Nation” (Hertha e Union, uma nação). Tais atitudes são o grande símbolo do futebol em relação à queda comunista na Alemanha.
Na Alemanha unificada, todas as equipes do lado oriental sofreram em relação aos times ocidentais, com saúde financeira mais estável. Com o Union não foi diferente. Mas a história do Union Berlin, cheia de percalços, encontrou a salvação, mais uma vez, na torcida. Manifestações dos torcedores nas ruas da capital alemã fizeram com que a Nike patrocinasse o clube. Para dar mais visibilidade ao clube, Nina Hagen fez uma versão do hino do clube:
Nina, por sinal, é muito conhecida no Brasil por ser a musa inspiradora e, também, por participar de “Garota de Berlim”, música de Supla:
A história do Union Berlin no século XXI
Nos anos 2000, mais dificuldades. A própria torcida reformou o estádio An der Alten Försterei, uma massiva doação de sangue foi organizada para arrecadas fundos para o clube e, por fim, torcedores compraram ações do clube para impedir que o estádio mudasse de nome.
Mesmo assim, os tempos eram difíceis para o clube. A história do Union Berlin teve uma nova reviravolta, porém, em 2003. Na zona de rebaixamento da 2. Bundesliga (segunda divisão alemã), cerca de noventa torcedores se reuniram na porta do estádio do time para cantar músicas natalinas. A noite escolhida foi a de 23 de dezembro. Tudo para “mandar boas energias” para a equipe. Não deu certo: o rebaixamento veio. A tradição, porém, manteve-se. Hoje, a cancha fica lotada na data para o “Weihnachtssingen” (canto de natal, em tradução livre):
A rica história do Union Berlin, da luta dos metalúrgicos contra governos e clubes mais poderosos, ganhou mais um saboroso capítulo. Agora, o coração de ferro, imortalizado em um mosaico, baterá por, pelo menos um ano, na primeira divisão.
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