Conheça mais sobre a Anatorg (Associação das Torcidas Organizadas)
Alex Sandro Gomes, 41 anos, é o segundo presidente da Anatorg (Associação das Torcidas Organizadas), o ex-diretor geral da Gaviões da Fiel concedeu uma entrevista para falar um pouco da associação fundada há quatro anos e seus posicionamentos. Quer saber mais como foi, confira abaixo:
O que é a Anatorg?
A Anatorg (Associação das Torcidas Organizadas) é um grupo de torcedores organizados que em algum momento participou ativamente das torcidas. A ideia surgiu para que as torcidas organizadas pudessem refletir sobre o seu poder de organização, acima de tudo, o seu poder de mobilização dentro e fora da arquibancada, isto é, o que elas podem exercer não só nos times, mas sobre os seguimentos que estão inseridos na sociedade.
Em que ano surgiu?
A Anatorg foi fundada há quatro anos. Eu sou o segundo presidente, ainda tenho mais três anos pela frente para cumprir o meu mandato. A diretoria é constituída por 21 diretores divididos em 21 estados. Em cada um desses estados, nós temos um grupo organizado trabalhando, debatendo, discutindo e propondo ações que venham trazer benefícios para o torcedor comum e organizado nas câmeras municipais e assembleias legislativas.
A diretoria de SP é formada por quais membros?
Hoje, a diretoria de São Paulo é formada, em média, por oito membros que fazem parte da diretoria executiva. Quatro são da capital, os outros são do interior. São de torcidas diversas: Dragões da Real, Estopim da Fiel, Esquadrão XV de Piracicaba, Torcida Jovem, Força Jovem do Guarani, Mancha Alvi-Verde, entre outros.
São mais de 100 torcidas?
Hoje, a Anatorg é composta por 247 torcidas afiliadas.
O que significa o tema “Fale conosco, não sobre nós”?
A mídia sempre expõe o lado negativo, sobretudo utilizando-se de cenas isoladas, classificando aquilo como se fosse a torcida organizada, mas é muito mais do que aquelas imagens lamentáveis nós condenamos. As organizadas participam ativamente na vida cultural das suas respectivas cidades. No caso de São Paulo, há uma série de torcidas que participam do carnaval com as escolas de samba no grupo especial ou de acesso. Muitas vezes, a grande imprensa sempre visualiza o lado minoritário, expondo a negatividade, sendo que têm muitos pontos positivos.
Como surge os grupos minoritários?
Acho que a gente pode falar da causa. As torcidas não podem fazer o seu papel na arquibancada, levar suas bandeiras, suas faixas, seus instrumentos, cantar suas músicas e incentivar seus times. Quando você deixa de exercer a festa na arquibancada, o jovem, em sua minoria, ele tende a praticar atos ilícitos, buscando através do conflito a sua frustração.
Como a Anatorg conseguiu reunir as torcidas?
A mídia faz questão de colocar os torcedores como inimigos. Na verdade, nós somos rivais. Ganhou, perdeu, tirou um barato do outro e a vida que segue. A nossa disputa está dentro da arquibancada. Se há um grande incentivador para que às torcidas e diretorias se vejam como inimigas é a grande imprensa, mas elas não se enxergam assim, muito pelo contrário, buscam o bem comum das suas instituições.
Elas sempre conversaram?
Desde a época da fundação. Eles sabem que lidam com vidas e geram provenientes que envolvem a formação de um cidadão. Boa parte dos torcedores organizados seguem a ideologia das suas respectivas torcidas, levando muitas vezes para a sua vida particular. Quando a gente menciona “Fale conosco, não sobre nós” é justamente cobrando o nosso espaço de fala, debate e ser chamado pela grande imprensa para falar que o conflito não condiz com o que ocorre na arquibancada. Uma diretoria não tem o controle sobre a vontade das pessoas, mas pode contribuir para que os grupos minoritários sejam identificados e expulsos da torcida.
Qual o posicionamento da associação com relação a torcida única?
A medida foi tomada há três anos, se fizermos o cálculo foi um ano eleitoral. Onde estão as pessoas que participaram desta ação totalmente arbitrária, descabida, contra o futebol, torcedor comum e organizado? Elas estão no Supremo, foram promovidos em seus cargos, alguns se corromperam e foram afastados, inclusive não foram nem reeleitos. Enfim, só serviu, para fazer com que esse grupo se sobressaísse em cima de uma ação totalmente arbitrária, foi uma ação totalmente eleitoreira para se auto promover. Por exemplo, onde está o ex-secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes? Você já viu um secretário de segurança pública perder o tempo dele para ir na sede de uma torcida organizada? Neste caso, eles foram nos Gaviões da Fiel, com todo aparato de imprensa, com o promotor, fechando a sede de uma instituição e colocando todos os associados num balaio só como criminoso, bandido. Ou seja, foi uma ação totalmente eleitoreira, logo após, ele virou ministro da Justiça, posteriormente, foi alçado ao Supremo.
Conversando com o professor Flávio de Campos, ele disse que foi uma medida de palanque.
Pode ser colocado como medida de palanque, eu falo como uma medida eleitoreira. Se eles falam tanto que as torcidas organizadas é o problema do futebol, nós podemos mencionar quais são os verdadeiros problemas.
Quais seriam os problemas?
O horário dos jogos, o valor do ingresso, o espaço de pelo menos 10% de todos os setores das arquibancadas a preços populares para que todas as classes sociais tenham acesso, a segurança e o respeito do policial dentro e fora dos estádios com os torcedores organizados e comuns. Por que eles não falam da violência policial contra o torcedor organizado em uma caravana? Por exemplo, nos gases de pimenta que as torcidas organizadas recebem quando estão chegando no Rio de Janeiro, Minas Gerais ou Rio Grande do Sul. O torcedor organizado é criminalizado e o grande incentivador são esses agentes junto com a imprensa.
Carnaval e futebol
Por que torcida organizada é ruim para o futebol, mas bom para o carnaval em São Paulo? Por que torcida organizada é ruim na arquibancada, mas é maravilhoso quando está no canal da Globo nos dias de carnaval? Por que tem essa diferença? Porque os atores que estão agindo sobre as duas estruturas, ou seja, nesses dois eventos distintos são diferentes. Um ator enxerga a grandeza de uma torcida organizada, o poder de mobilização, festa, alegria e a energia do carnaval. O outro autor por não viver o futebol, a única coisa que ele promove é o próprio nome, é uma maneira dele ser visto. Ele tem uma ideia totalmente estereotipada de que combatendo a festa na arquibancada, ele pode aparecer mais. Se cobra tanto das torcidas organizadas, por que não se cobra os clubes? Por que não faz valer o Estatuto do Torcedor quando ocorre alguma arbitrariedade dentro dos estádios? Será que os clubes são tão poderosos que esse agente do MP não pode bater de frente com as arbitrariedades que ocorrem?
Algum exemplo de arbitrariedade?
Um dos exemplos mais claros é a mudança do valor do ingresso de um jogo para o outro. O clube por ter autonomia baseado no estatuto, ele pode cobrar 40 reais, mas dentro do mesmo campeonato ou na mesma rodada, um outro time pode cobrar 120 reais. Só que o produto que está sendo oferecido é o mesmo, o campeonato brasileiro.
O que a associação tem feito para a torcida única ser abolida?
A Anatorg tem provocado uma série de debates em várias assembleias legislativas do país, agora com a nova legislatura que toma posse no dia 15 deste mês na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), nós estamos fazendo uma documentação para que haja uma audiência pública para debater um projeto contra essa medida absurda em que o torcedor organizado ou comum não pode prestigiar o time de coração diante de um clássico sobre o discurso de que jogos de torcidas mistas provocam violência. Nós vivemos em um dos estados mais violentos do Brasil, falar que as torcidas organizadas são violentas, é no mínimo, uma grande falácia. Quando você tira a liberdade do outro de poder exercer o seu direito, você cria uma revolta inconsciente em que a torcida fica de mãos atadas porque ela não pode exercer o seu papel na arquibancada. Quer combater a violência? Libera a festa na arquibancada, coloca a molecada para levar suas faixas, bandeiras, promover os mosaicos porque isso dá trabalho, demanda tempo.