A cada quatro anos um grande evento futebolístico acontece. Em época de Copa do Mundo, no Brasil, todos – até mesmo quem não é apaixonado por futebol – reservam um pedaço do seu dia para assistir aos jogos da seleção brasileira. Fala-se disso por semanas e, com total foco nas partidas, alguns dizem que os problemas no país acabam sendo esquecidos, o tão chamado “Pão e Circo”.
Fazendo referência à época em que o povo romano recebia pão enquanto assistia às apresentações circenses nos grandes monumentos no Império, como forma de “cale-se”, o futebol sempre foi intitulado dessa forma por muitos. Entretanto, o maior caso de Pão e Circo no Brasil em que o futebol se envolve é pouco conhecido – mas contarei essa história para vocês aqui e agora!
“Eles acreditaram que vencer uma terceira vitória consecutiva seria a chave para reverter o Brasil à sua ‘normalidade’ de antes – e talvez voltar o relógio até aquela época mais simples e menos exigente dos anos 1950.”
Esta é uma parte do livro “Pelé: a importância do futebol”, em que o rei conta, por sua perspectiva e em primeira pessoa, alguns aspectos que, depois de tantas histórias no esporte e, de certa forma, na política brasileira, poucos conhecem atualmente. No trecho ele fala sobre os novos comandantes poderosos que chegavam ao topo do Brasil com a ditadura e, ainda no mesmo capítulo, descreve uma das maiores histórias do futebol como Pão e Circo.
Em 1966, o país estava completando dois anos de posse militar. Se analisarmos o resto do mundo, muitos protestos e greves aconteciam por toda parte, inclusive Hippies e Tropicália foram alguns deles. Ao mesmo tempo, os pobres começaram a migrar para as cidades grandes do Brasil em busca de um futuro melhor no centros. Mas sem condições e apoio do governo, acabaram nas margens da sociedade: as favelas.
Com tudo isso acontecendo, os brasileiros começaram a protestar e reivindicar algo melhor, “uma fatia de bolo maior”, como diz Pelé. Depois de tantas mudanças políticas e cenários incertos, os militares tomaram o poder com uma população totalmente insatisfeita e a solução que encontraram para calá-la foi o futebol, haja vista a festa que foi feita até a final de 1950 no Maracanã ou os títulos em 1958 e em 1962.
“Os militares compreendiam, até bem demais, que nada unia as pessoas como o futebol.”
Na fase preparatória para a Copa do Mundo, cerca de 28 nomes de jogadores eram convocados para os treinos e amistosos – e cinco eram cortados até o inicio da competição. No entanto, para a Copa de 1966, realizada na Inglaterra, o treinador Vicente Feola convocou 44 jogadores para só depois escolher a lista final. Espantoso, mas não tanto quanto você ficará ao saber que este número foi dividido em quatro equipes enviadas para locais diferentes do país.
Era um Pão e Circo em cada ponto do Brasil. O povo esquecia em qualquer partida dos problemas que enfrentava como população para apreciar os grandes jogadores. Politicamente, em partes, deu certo. Mas no futebol dentro de campo, nas quatro linhas, não. A desorganização e o despreparo cobrou caro daquela seleção.
É claro que não dá para colocar toda a culpa nisso e deixar de lado o futebol praticado pelos brasileiros. Contudo, ao observar que no momento da convocação oficial ainda tinham 27 jogadores na Inglaterra, é possível perceber que alguns atletas viajaram sem ao menos saber se estavam na lista final.
Mais barbárie do que isso só o erro na digitação do nome de Ditão, jogador do Corinthians que teria escrito o nome de outro atleta com o mesmo apelido, mas que jogava no Flamengo. Ao invés de corrigir a falha, decidiram seguir com em frente e chamaram o jogador do clube carioca.
O futebol nunca foi tão usado como Pão e Circo quanto nesta história. Uma mancha na modalidade mais popular do país que não é muito conhecida, mas claramente teve sua importância para uma equipe tão vencedora.
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